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domingo, 14 de junho de 2015

Beata Dulce teve a irmã, Dulcinha, como braço direito nas Obras Sociais; veja cartas

Irmã Dulce ajudou milhares de pessoas, mas no aconchego da sua intimidade tinha em sua irmã, Dulcinha, seu principal amparo
Jorge Gauthier (jorge.souza@redebahia.com.br)
Atualizado em 14/06/2015 12:41:54
  
“Não tenho palavras para lhe dizer as saudades imensas que estou sentindo de você. Também não sei como agradecer-lhe por todo o bem, por tudo que você fez no meu aniversário, por todos seus sacrifícios e esforços (...) Não tenho palavras para exprimir minha sincera gratidão!”, escreveu a freira baiana Irmã Dulce, em 1º de junho de 1979.
Os gestos simples de carinho e afeto que eram trocados por cartas e declarações de Irmã Dulce para sua irmã, dona Dulcinha, evidenciam o amor entre as duas (Foto: Acervo Memorial Irmã Dulce)

A letra tímida e miúda fazia justiça à dona da escrita. Nas poucas linhas,  a freira deixava sempre evidente  que a saudade e a gratidão eram suas companheiras. Cartas escritas por Irmã Dulce que compuseram o processo de beatificação enviado ao Vaticano -  que foram obtidas pelo CORREIO -  eram endereçadas a sua irmã Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, chamada de Dulcinha.

A sintonia delas ia muito além do nome. Mesmo de longe, Irmã Dulce e Dulcinha - que tinham apenas um ano de diferença - sempre se mantiveram unidas. Dona Dulcinha faleceu em novembro de 2006 e  foi o braço direito da irmã na construção das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). 

Mesmo casada e morando no Rio de Janeiro, Dulcinha não abria mão de passar temporadas no convento com a irmã freira. Repetiu essa rotina centenas de vezes - sempre de ônibus ou navio. “Irmã Dulce brincava dizendo que o cunhado (Augusto) era o ladrão que tinha roubado a irmã dela”, lembra Maria Rita Lopes Pontes, filha de Dulcinha, sobrinha de Irmã Dulce e atual superintendente das Osid.
Após a morte de Irmã Dulce, dona Dulcinha ajudou a filha Maria Rita a manter vivo o legado das Obras Sociais criadas pela sua irmã religiosa (Foto: Acervo Memorial Irmã Dulce)

O casamento da irmã recebia atenção especial da religiosa, que temia prejudicar a relação. Registros da Assessoria de Cultura e Memória das Osid contam que Irmã Dulce chegou a parar um navio na Baía de Todos os Santos para que a irmã pudesse embarcar para o Rio de Janeiro depois de uma temporada em Salvador. Ela temia que seu cunhado ficasse bravo caso Dulcinha não chegasse logo em casa. 

Na ocasião, a freira  implorou para que o navio parasse e que a irmã pudesse subir. Como a embarcação já estava em alto-mar,  Dulcinha foi içada por uma corda para o navio. 

O episódio, segundo conta Maria Rita, sintetiza bem o amor que as irmãs tinham. “Todas as vezes que minha mãe viajava para o Rio de Janeiro, Irmã Dulce ficava sem beber água. Ela só bebia depois que falasse no telefone com a irmã”, conta. 

Irmandade
Em outra carta, datada de junho de 1978, Irmã Dulce destacou como era grande seu carinho pela irmã. “Você sabe muito bem que você é a pessoa a quem eu mais quero bem neste mundo. Deus lhe leve, lhe dê saúde e forças para as lutas de cada dia”, descreveu a religiosa.

Na prática, os cuidados eram inversos. Coube a dona Dulcinha amparar Irmã Dulce em muitos momentos - tanto no apoio à saúde física quanto à construção das Obras. Em 1947, por exemplo, Irmã Dulce pediu ao então presidente, o militar Eurico Gaspar Dutra, dinheiro para ajudar na construção do Círculo Operário da Bahia. 

O presidente prometeu o dinheiro e perguntou em qual conta  poderia depositar o cheque. Como não confiava em “dinheiro no banco”, Irmã Dulce pediu que sua irmã fosse até o Rio de Janeiro pegar o dinheiro. Mesmo com medo de avião, dona Dulcinha voou  com o cheque guardado no sutiã  - pois temia ser roubada -  e não podia pegar um navio  já que  demoraria e havia urgência na chegada do dinheiro.   

Maria Rita conta que quando tinha 21 anos  e estava iniciando seus estágios em Jornalismo, no Rio de Janeiro, teve que conviver com o afastamento de dona Dulcinha. “Em 1976, meu pai e meu avô morreram e por conta disso minha mãe resolveu se mudar para Salvador de vez para cuidar de Irmã Dulce. Ela abriu mão do Rio de Janeiro, só ia lá quando eu pedia muito, e passou a viver com Irmã Dulce”, rememora Maria Rita, lembrando que a mãe tinha um instinto de cuidado muito grande por Irmã Dulce.

O elo entre as duas não foi finalizado com  a morte da Bem-Aventurada, em 1992. “Os 16 meses que Irmã Dulce sofreu com a doença nos ‘preparou’ para quando ela partisse. Mas, mesmo assim, foi uma dor muito grande para minha mãe. Por um ano, ela se manteve vivendo no convento. Foi muito difícil tirar ela de lá”, explica Maria Rita.  Quando Irmã Dulce adoeceu, dona Dulcinha foi chamada para substitui-la e chegou a assumir a presidência de honra das Osid, que passou a ser comandada pela sua filha, Maria Rita.

Ligação
Irmã Dulce não tinha tempo para nada. Passava os dias correndo pelos leitos do hospital Santo Antônio acolhendo os doentes. Mas, sempre que podia, dedicava seu dia para escrever.  Telefone? Era coisa rara e sempre usava quando precisava pedir donativos. Mas, aos domingos, sempre às 13h, reservava um momento do dia para encurtar a distância entre o Rio de Janeiro e Salvador. 

“A missa de domingo era sagrada tanto para minha mãe quanto para minha tia. Mas, Irmã Dulce sempre reservava também um espaço para que ela falasse com a minha mãe por telefone. Era uma rotina delas que as aproximava”, relembra Maria Rita. 

Documentos e imagens catalogados pela equipe de Memória e Cultura das Osid, em décadas de estudo sobre a religiosa, evidenciam a relação muito próxima entre as duas irmãs. “Dona Dulcinha, por exemplo, chegava a inventar ‘falsos aniversários’ de Irmã Dulce só para poder dar mais alegria à irmã”, explica Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Osid. 

Em uma dessas situações mais inusitadas, Dulcinha se vestiu do personagem Nega Maluca, colocou uma barriga falsa e fingiu estar em trabalho de parto. Irmã Dulce ficou desesperada, pedindo ajuda e quando descobriu que era uma brincadeira de Dulcinha não conteve o riso. “Somos dois corpos em uma alma só”, dizia sempre Irmã Dulce em carta ou pessoalmente para a irmã.


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