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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Em estudo, mosquito comum que circula no Rio não transmite zika

Mosquitos Culex de quatro regiões da cidade foram coletados para testes.
Cientistas utilizaram células de primatas para confirmar resultados.

Carolina DantasDo G1, em São Paulo

Amostras colhidas de mosquistos comuns de Copacabana (Foto: IOC/Fiocruz)Amostras colhidas de mosquistos comuns de Copacabana (Foto: IOC/Fiocruz)
Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) demonstrou que mosquitos Culex (pernilongo ou muriçoca, como são conhecidos popularmente) de quatro regiões do Rio de Janeiro não são capazes de transmitir o vírus da zika.
Os ovos e larvas dos mosquitos foram coletados nos bairros de Copacabana, Jacarepaguá, Manguinhos e Triagem, de janeiro a março deste ano.

Depois que os insetos se tornaram adultos, foram alimentados com sangue infectado por duas linhagens do zika encontradas na cidade do Rio de Janeiro e separados em gaiolas. Os grupos foram analisados aos 7, 14 e 21 dias após receber o vírus. As seguintes partes do corpo foram analisadas: abdômen/tórax, cabeça e saliva.

Para chegar ao resultado, as amostras coletadas dos Culex passaram pela técnica RT-PCR, que é capaz de detectar e quantificar o material genético do vírus, e pela análise em células Vero, recomendada para identificar se o zika está ativo e habil para causar infecção em vertebrados. Foram mais de mil amostras analisadas, referentes a 392 mosquitos.
A participação dos mosquitos "comuns" na transmissão do vírus da zika é uma das hipóteses para a rápida transmissão no Brasil e no mundo. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (6) na revista internacional “Plos Neglected Tropical Diseases”. Após toda a pesquisa, não foram encontradas partículas infectantes do vírus na saliva dos insetos que poderiam ser expelidas no momento da picada.
A pesquisa também comparou a evolução do zika no organismo dos mosquitos Aedes e Culex. De acordo com o entomologista Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e coordenador do estudo, apenas dois mosquitos Culex coletados apresentaram o vírus, com um nível de infecção milhares de vezes menor do que o encontrado nos mosquitos Aedes.

Em maio deste ano, os mesmos pesquisadores publicaram uma outra pesquisa que confirmou o mosquito Aedes aegypti como o principal vetor da doença, além de encontrar indivíduos da espécie naturalmente infectados. O Instituto Pasteur de Paris é parceiro da pesquisa publicada desta terça.

Outros estudos
A capacidade de transmissão de uma doença deve mudar de acordo com a linhagem viral e o genótipo do inseto, explica Lourenço.
Em estudo feito por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, publicado em julho deste ano, foi detectada a presença natural do zika nos mosquitos Culex quinquefasciatus da cidade do Recife. Esse grupo de cientistas anunciou, por meio de experimentos de laboratório, que a presença do vírus foi verificada nas glândulas salivares dos mosquitos comuns.
Na análise feita em Pernambuco, a técnica RT-PCR quantitativa também foi utilizada e determinou a presença no vírus na saliva. A análise em células Vero, que diz se o vírus é habil para causar infecção em vertebrados, foi feita apenas pelos pesquisadores do Rio. Estudos adicionais estão em andamento.

No México, pesquisadores da Universidade do Texas Medical Branch, dos Estados Unidos, identificaram somente mosquitos Aedes naturalmente infectados pelo zika. Nenhum mosquito "normal" foi naturalmente infectado. Os resultados foram publicados no "The Journal of Infectious Diseases".

Já especialistas da Universidade de Wisconsin, também dos Estados Unidos, obtiveram um resultado parecido: após testes laboratoriais realizados com a linhagem asiática do zika (mesma que circula nas Américas), constatou-se que mosquitos da espécie Culex pipiens são incapazes de transmitir o vírus.
Pesquisador Ricardo Lourenço, da Fiocruz, e Anna Bella Sailloux, do Instituto Pasteur de Paris (Foto: IOC/Fiocruz)Pesquisador Ricardo Lourenço, da Fiocruz, e Anna Bella Sailloux, do Instituto Pasteur de Paris (Foto: IOC/Fiocruz)


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Governo enviará ainda em setembro reforma da Previdência ao Legislativo

Proposta estabelece idade mínima de 65 anos para aposentadoria.
Parte da base aliada defendia encaminhamento do texto só após eleições.

Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília


Apesar da resistência de parte da base aliada no Congresso Nacional, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, responsável pela articulação política do governo com parlamentares, disse nesta terça-feira (6) que o Palácio do Planalto irá enviar a proposta de Reforma da Previdência ao Legislativo ainda neste mês.

O texto prevê o estabelecimento de idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, tanto para homens como para mulheres.

“O governo tomou a decisão de encaminhar ao Congresso ainda em setembro. Vamos fechar o texto, as justificativas para que ele [Temer] possa bater o martelo”, afirmou Geddel em entrevista coletiva no Planalto.
Ele acrescentou ainda que os principais pontos já estão acertados. “Basicamente, não tem discordância”, disse. Havia uma pressão para que o projeto fosse enviado somente após as eleições municipais para evitar que os parlamentares debatessem um tema tão polêmico durante a campanha eleitoral. No entanto, segundo Geddel, Temer avaliou que o “custo-benefício” compensaria.

“[Fazer a Reforma da Previdência] É absolutamente irreversível. O governo já tomou essa decisão”, declarou.

Para articular a base, o chefe da Secretaria de Governo ressaltou que Temer já começou a procurar alguns caciques, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do partido. Ele também conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RO), sobre a sua intenção de enviar o projeto neste mês. Segundo Geddel, outras pessoas ainda serão procuradas. “Vamos amarrar o melhor momento para enviar”, disse Geddel.

Sobre a tramitação no Congresso, o ministro frisou que “todo o peso do governo” será usado para garantir e agilizar a sua tramitação. “Vamos jogar todo o peso do governo para que a tramitação seja breve”, disse.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também reconheceu que parte da base parlamentar tem uma posição diferente da do governo, mas que o Planalto resolver isso dialogando com o Legislativo. “Nós temos na base várias posições diferentes e o segredo agora do presidente Michel é encontrar um consenso mínimo”, disse.

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Em Lucrécia, candidatos só não se elegem em caso de morte ou zero voto


Cidade do RN tem apenas uma candidata concorrendo à prefeitura. Além disso, só há nove candidatos para as nove cadeiras na Câmara.
06/09/2016 06h26 - Atualizado em 06/09/2016 06h26
Por Fred Carvalho
Do G1 RN

Lucrécia fica a 326 km de Natal, no Oeste potiguar (Foto: Fred Carvalho/G1)
“Se nenhum candidato morrer até o dia da votação, todos seremos eleitos.” A afirmação é do atual presidente da Câmara Municipal de Lucrécia, Hélio Maia (PR), que, caso realmente não morra até 2 de outubro próximo, será eleito para o seu sétimo mandato de vereador na cidade, que fica a 346 km de Natal. A certeza da eleição de Hélio Maia se dá porque Lucrécia é a única cidade brasileira que neste ano não terá “disputa” para as cadeiras na Câmara: são nove candidatos para as nove vagas existentes. Além disso, a cidade é uma das 97 do Brasil que têm um único candidato a prefeito na eleição deste ano.
Lucrécia tem quase 4 mil habitantes, dos quais 3.265 são eleitores. Os moradores contam com orgulho que em 1933 o presidente Getúlio Vargas pernoitou na cidade uma vez. A casa onde Vargas dormiu já não existe mais. O presidente foi ao local para visitar a obra de construção da barragem, que acabou se tornando o único "ponto turístico" da cidade. Devido à estiagem que assola o Nordeste brasileiro há cinco anos, a barragem está completamente seca. Lucrécia virou município, por decreto, em 1963.
Os políticos de Lucrécia admitem que houve um "entendimento" para que houvesse uma candidatura única para a eleição majoritária. "Já vínhamos tentando isso há alguns anos. Lucrécia tem situação e oposição fortes e as disputas eleitorais são acirradas. Desta vez, durante mais de um ano, tivemos inúmeras reuniões com a oposição e decidimos que, pelo bem de nossa cidade, teríamos uma chapa única para a eleição majoritária", afirma o atual prefeito, Walter Araújo (PSB), que vai deixar a prefeitura após oito anos de mandato. A candidata da chapa única é a professora Conceição Duarte (DEM).
Walter Araújo é o atual prefeito de Lucrécia, cidade
do interior potiguar (Foto: Fred Carvalho/G1)
Para ele, o fato de ter feito uma gestão bem avaliada pela população possibilitou esse "acordo". "Todos demos um passo atrás. Nossa cidade, como todas as outras pequenas do país, passam por uma crise financeira histórica. Temos muitas dificuldades até mesmo para pagar a folha salarial e manter os serviços básicos em pleno funcionamento. Esse entendimento foi a melhor coisa que todos poderíamos fazer pelo nosso município", diz Araújo.
Mas o "entendimento" foi apenas para a eleição de prefeito. Não houve discussões nesse sentido para a eleição proporcional, a de vereadores. "Todos os dez partidos que têm representatividade aqui em Lucrécia tiveram suas convenções normalmente, com edital de convocação e anúncio na rádio da cidade. Acontece que, por mais incrível que possa parecer, apenas nove pessoas quiseram se candidatar neste ano", afirma Manoel Hélio.
Hélio Maia preside a Câmara Municipal de
Lucrécia (Foto: Fred Carvalho/G1)
Dos nove vereadores de Lucrécia, seis serão reeleitos. O empresário Edson Soares (DEM) já foi vereador por dois mandatos e – caso tudo corra bem – será eleito para voltar à Câmara Municipal. Ele tem uma irmã vereadora e vai substituir a filha na Casa. "Minha filha tem 22 anos, é engenheira civil, e decidiu que não quer mais saber de política. Vai se especializar e tomar conta da nossa empresa", conta.
Para Edson Soares, o principal fator para que apenas nove pessoas decidissem se candidatar é a descrença com os políticos e com a política brasileira.
Edson Soares é vereador da oposição em
Lucrécia (Foto: Fred Carvalho/G1)
"Em um primeiro momento, qualquer um pode imaginar que se trata de coronelismo, que isso se deu de forma impositiva. Mas, na verdade, o que aconteceu aqui é triste. Por todos esses escândalos que acompanhamos no país atualmente, as pessoas, principalmente os jovens, passaram a ser descrentes com a política. Confesso que, por muitas vezes, eu mesmo sinto vergonha de dizer que sou político."
O salário bruto de um vereador em Lucrécia é de R$ 2,8 mil. "Eu sou empresário da construção civil, é de onde sustento minha família. Sou vereador apenas para ajudar a minha cidade, a minha terra. Já conversei com os demais candidatos e propus a eles que a próxima legislatura seja voltada para os jovens, para resgatar neles a vontade de se fazer política", diz Manoel Hélio.
Antigo prédio da usina elétrica de Lucrécia, inaugurado em 1933 (Foto: Fred Carvalho/G1)
Lucrécia fica na comarca de Almino Afonso, uma cidade vizinha. O promotor de Justiça Baltazar Patrício diz não ver irregularidade no fato de haver apenas nove candidaturas para a Câmara de Lucrécia. "É uma situação pitoresca e única. Até o momento, não enxerguei ilegalidade alguma." O juiz da comarca, Romero Piccoli, diz que até o momento não chegou ao Poder Judiciário nenhuma impugnação relativa ao registro dessas nove candidaturas. "Ainda haverá análise final sobre o deferimento ou indeferimento desses registros."
A população de Lucrécia aprova as candidaturas únicas. A professora Rosali Costa elogia o fato de não haver gastos exagerados com as campanhas. "Essa campanha está tranquila, sem conflitos. Todas as pessoas do município quiseram um candidato só. Eu acho que Lucrécia só faz ganhar com isso." Para o funcionário público José Grimaci, a tranquilidade tem sido a tônica dessa campanha. "Antigamente era muito barulho, muitos fogos. Agora está diferente. Estamos tendo paz."
Barragem de Lucrécia, no interior do RN, está completamente seca (Foto: Fred Carvalho/G1)
Todos eleitos?
De acordo com a minirreforma eleitoral de 2015, cada candidato a vereador tem que atingir o quociente eleitoral. Para fazer esse cálculo, é preciso levar em consideração o número de votos válidos, que é o total de votos menos os brancos e nulos, e dividir pelo número de cadeiras que serão ocupadas. Quando um dos candidatos não atinge esse quociente, é preciso fazer um novo cálculo devido à sobra de vaga. Na cidade, essa conta não importa.
Para ser eleito basta que o candidato obtenha pelo menos um voto. As únicas chances de qualquer um desses nove candidatos não se elegerem são se não votarem nem mesmo em si próprios ou realmente morrerem antes da eleição"
José Herval Sampaio Júnior, juiz e professor de direito eleitoral
"Pela Lei, nesse caso de Lucrécia, para ser eleito basta que o candidato obtenha pelo menos um voto. As únicas chances de qualquer um desses nove candidatos não se elegerem são se não votarem nem mesmo em si próprios ou realmente morrerem antes da eleição", explica o juiz e professor de direito eleitoral José Herval Sampaio Júnior.
Herval afirma ainda sobre a possibilidade de falecimento de um dos candidatos a vereador após a eleição. "Caso algum deles morra ou mesmo renuncie ao mandato, o que é um direito, a Câmara Municipal de Lucrécia será a única do país com menos de nove vereadores. Isso porque, como não há outros candidatos fora esses, também não haverá suplentes. Para evitar essa situação, a Câmara poderá solicitar eleições suplementares para o Legislativo. Mas essa decisão caberá à Justiça Eleitoral."
Mesmo com a "disputa" eleitoral praticamente ganha por todos os candidatos a vereador, há campanha nas ruas de Lucrécia. Carros de som percorrem as zonas urbana e rural e os candidatos promovem "adesivaços" para reforçar os números das candidaturas junto aos eleitores. "A campanha corpo a corpo é boa para conquistar votos. Além disso, essas caminhadas fazem bem à saúde, o que ajuda a me manter vivo até a eleição", brinca Hélio Maia.
Igreja matriz de Lucrécia, cidade do interior do Rio Grande do Norte (Foto: Fred Carvalho/G1)
Vencer o 'branco'
A disputa para prefeito também está definida. Lucrécia tem apenas uma candidata nessas eleições: a professora Conceição Duarte. Na convenção, 8 dos 10 partidos com representatividade na cidade formaram a coligação Unidos por Lucrécia (DEM, PSD, PSDB, PR, PP, PTN, PMDB e SD). "Embora seja a única candidata, faço a campanha como se houvesse uma disputa real. Isso porque, para mim, eu estou numa disputa, sim. Eu não posso passar a vergonha de 'perder' para os votos em branco", diz Ceiça. O salário bruto do prefeito está em R$ 9 mil.
Embora seja a única candidata, faço a campanha como se houvesse uma disputa real. Isso porque, para mim, eu estou numa disputa, sim. Eu não posso passar a vergonha de 'perder' para os votos em branco"
Conceição Duarte, candidata única a prefeita
Conceição registrou as propostas de governo. Nelas, ela diz que pretende "dar continuidade às melhorias das condições de vida dos lucrecienses, buscando com firmeza, criatividade e objetividade, aperfeiçoar programas que já têm demonstrado sucesso". No documento, Ceiça Duarte afirma que terá o mandato voltado para a qualidade de vida, criação de oportunidades econômicas e inclusão social, educacional e acesso à saúde, além do combate à seca.
Até o início da semana, Conceição nem era a candidata a prefeita. A mudança se deu porque, em agosto passado, o Ministério Público ingressou com o pedido de impugnação da candidatura de Francisco Duarte Filho, cunhado dela, baseado na Lei da Ficha Limpa. "Isso devido a um julgamento do Tribunal de Contas do Estado referente a 1997-1999, em virtude de um aumento ilegal de subsídio de vereadores", explica o promotor Baltazar Patrício. Nesse período, Chico Duarte presidiu a Câmara Municipal de Lucrécia. O juiz Romero Piccoli decidiu que a candidatura de Chico é ilegal. Com isso, a coligação o substituiu por Ceiça.

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