Quem será capaz de parar
Petrúcio Ferreira? Depois de correr a eliminatória dos 100m T47 em 10s67 e
bater o recorde mundial da prova que já durava mais de duas décadas, o paraibano conquistou o ouro neste domingo superando a própria marca. Com os 10s57 estabelecidos no Engenhão, Petrúcio, de apenas 19 anos, conquistou a sua primeira medalha de ouro em Paralimpíadas, com direito a dobradinha brasileira no pódio. Dono de quatro medalhas nos Jogos Paralímpicos, o alagoano
Yohansson Nascimento ficou com o bronze, com 10s79. A prata foi para o polonês Michal Derus, com os mesmos 10s79. As colocações de ambos foram definidas no
photo finish, já que o tronco de Derus estava um pouco mais à frente.
Descrição da imagem: Petrucio Ferreira com a medalha de ouro no pódio no Engenhão (Foto: Reuters)
- No momento em que eu estava no pódio escutando o hino nacional passou um filme na cabeça, de tudo o que eu suei nos treinos e dos dias em que cheguei em casa e mal conseguia tomar banho de tão cansado. Tudo o que vivi hoje é uma alegria que eu mal consigo explicar - disse Petrúcio, que chegou à zona mista acompanhado de Yohansson.
- Estou muito feliz com essa medalha que é a minha quinta em Paralimpíadas, e quero muito ganhar a minha sexta amanhã com o Petrúcio, quando a gente corre o revezamento - disse o alagoano, que completa 29 anos no próximo dia 25 de setembro.
Petrúcio, que perdeu a mão esquerda num acidente com uma máquina de moer capim aos dois anos de idade, dominou a prova do início ao fim. A partir dos 50m finais, a distância do paraibano para Derus e Yohansson já era bastante visível. Após cruzar a linha de chegada, Yohansson, que é tricampeão mundial, fez questão de abraçar o compatriota, que no ano passado já conquistara o ouro nos 100 e 200m T47 dos Jogos Parapan-Americanos de Toronto.
Descrição da imagem: Petrúcio Ferreira vibra ao cruzar a linha de chegada no Engenhão (Foto: Reuters)
Presente nas proximidades da tribuna de imprensa, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons, foi outro a vibrar efusivamente com o feito do jovem fundista. Foi das mãos do dirigente máximo do esporte paralímpico brasileiro que o alagoano recebeu a medalha minutos depois. Ao ouvir tocar o Hino Nacional Brasileiro no Engenhão, o jovem fundista não se conteve em lágrimas.
- O recorde foi mais uma alegria neste domingo. Treinei os meus últimos dois anos para esse momento e ano passado infelizmente fiquei de fora do Mundial. Chorei bastante naquele momento, mas coloquei na cabeça que esse era o ano da volta por cima. Além dessa medalha, levo de volta para a Paraíba a minha alegria e o carinho do público - comentou Petrúcio.
Petrúcio, que também é recordista mundial nos 200m, ainda corre mais duas provas na Rio 2016: o revezamento 4 x 100m rasos T42-47, nesta segunda, e os 400m T47, na sexta. A Paralimpíada do Rio é sua primeira grande competição do paraibano, já que uma lesão o impediu de largar nas três provas em que estava previsto para o Mundial de Doha 2015, pouco depois do Parapan de Toronto.
Descrição da imagem: Decisão da medalha de prata nos 100m, na visão do photofinish (Foto: Reprodução / SporTV)
- Eu sabia que seria muito difícil de competir contra os brasileiros, que são muito fortes. Um foi melhor (Petrúcio), mas, pelo menos eu consegui superar o que tinha me vencido ontem (Yohansson) - disse Michal Derus.
O polonês, que não se classificou para os Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, elogiou a atmosfera do Estádio Olímpico e comemorou muito a prata.
- Estou muito feliz oi ter sobrevivido nos cinco anos entre 2008 e 2013. Eu ainda estava competindo, treinando. Valeu a pena, pois hoje consegui a medalha. Eu não desisti - completou.
MATEUS EVANGELISTA FICA EM QUARTO
Em outra final realizada na parte da manhã, Mateus Evangelista ficou em quarto nos 100m T37, com 11s62 de marca. O ouro foi para o sul-africano Charl du Toit, com o tempo de 11s45, a prata para o egípcio Mostafa Fathalla Mohamed, com 11s54, e o bronze para o também sul-africano Fanie Van Der Merwe, com os mesmos 11s54. Especialista no salto em distância, Mateus compete na prova na próxima terça-feira.
Mateus Evangelista ficou em quarto nos 100m T37, mas volta para o salto, sua especialidade (Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB)
- Numa final de Paralimpíada você tenta mostrar todo o seu potencial e eu acho que tinha possibilidade de ganhar essa prova. Só que a minha frequência na corrida não foi muito boa, e isso me prejudicou. Terça vou ter o salto em distância, que é uma das minhas principais provas e lá eu vou buscar medalha - disse Mateus.
Outro brasileiro a competir neste domingo de sol forte no Rio foi Fábio Bordignon, da classe T35, para atletas com deficiência motora oriunda de paralisia cerebral. Com muita facilidade, ele venceu a sua eliminatória dos 200m com o tempo de 26s22 e avançou à final.
ODAIR NA FINAL; ARIOSVALDO DESCLASSIFICADO
Na final dos 400m T53, o brasileiro Ariosvaldo Silva foi desclassificado por ter invadido a raia ao seu lado na pista do Estádio Olímpico. O ouro ficou com o tailandês Pongsakorn Paeyo, com o tempo de 47s91, novo recorde paralímpico. Completaram o pódio o canadense Brent Lakatos, com 48s53, e o francês Pierre Fairbank, com 49s00.
Um dos maiores medalhistas do atletismo paralímpico brasileiro, Odair dos Santos correu a eliminatória dos 1.500m T11, para deficientes visuais. Segurando um pouco o ritmo, ele passou à final com a segunda colocação da sua bateria, com o tempo de 4m05s34, atrás do queniano Samwel Mushai Kimani, com 4m04s50.
- É uma disputa acirrada, ele (queniano) está muito bem, e eu espero surpreendê-lo na terça-feira. A briga será muito dura, e eu espero sair do Engenhão com mais uma medalha. Eu vi que estava dentro do tempo que daria para estar passando, então, demos uma conservada no ritmo para chegarmos inteiro na terça-feira. Se fosse na terça-feira, daria para soltar - disse Odair.
Na última quinta-feira, Odair acrescentou mais uma medalha à coleção,
a prata nos 5.000m, prova na qual sofreu um colapso devido a uma
hipertermia na final do Mundial de Doha, no ano passado. O paulista de Limeira liderava até o fim, quando foi superado no sprint final pelo queniano Samuel Kimani. Wilson Bill, também do Quênia, levou o bronze. O brasileiro ainda tem a chance de faturar o tão esperado ouro. No momento, ele tem oito pódios em Paralimpíadas.