Segundo 'O Globo', dono da JBS, Joesley Batista, gravou conversa com presidente na qual foi discutido silêncio de Eduardo Cunha. Presidente não se manifestou até última atualização desta reportagem.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão desta quarta-feira (17) minutos após o site do jornal "O Globo" publicar reportagem segundo a qual o dono da JBS, Joesley Batista, gravou conversa com o presidente Michel Temer na qual foi discutido o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A gravação foi entregue ao Ministério Público Federal.
Até a última atualização desta reportagem, Temer não havia se pronunciado sobre o assunto.
Maia encerrou a sessão no momento em que o plenário discutia uma medida provisória que trata do repasse de recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) a estados e municípios. Os deputados chegaram aprovar o texto-base em meio ao tumulto no plenário.
No caso do Senado, o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), também encerrou a sessão alguns minutos após a notícia ter sido veiculada por "O Globo", mas, diferentemente do que ocorreu na Câmara, a sessão terminou logo após a conclusão da análise de um projeto.
Câmara
Ao deixar o plenário da Câmara, Rodrigo Maia foi questionado sobre os motivos de ter encerrado a sessão e disse que não havia mais "clima". "Não tem mais clima para trabalhar", afirmou.
Maia disse ainda: "Tem que ver primeiro o que é". Na sequência, emendou: "Estamos tratando disso". Sobre se o caso é grave, concluiu: "Pode ser".
Antes de Rodrigo Maia encerrar a sessão, houve tumulto no plenário, a oposição pediu o fim da votação da medida provisória e houve gritos de "Fora, Temer!".
A denúncia causou reação imediata entre os deputados da oposição, que pediram a renúncia do presidente da República.
“Nesse momento em que surgem essas gravações, esse governo não tem legitimidade para continuar governando. Chegou ao ponto final. O ponto final, se não for dado pela sua própria renúncia, será feito por esta Câmara e por este Senado através de um impeachment”, afirmou o líder do PT, Carlos Zarattini (SP).
O líder da minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), acrescentou que a oposição não aceita que a sucessão do atual governo se faça por meio de eleição indireta, conforme prevê a Constituição para os casos de afastamento de presidente a menos de dois anos do fim do mandato.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) informou que protocolou na Câmara um pedido de abertura de processo de impeachment do presidente Temer. “Os atos descritos na denúncia ferem claramente a lei dos crimes de responsabilidade”, afirmou.
Um segundo pedido de impeachment foi protocolado pelo deputado JHC (PSB-AL). No documento, ele diz que a denúncia contra Temer revela "sua total ausência de condições mínimas para liderar o país rumo à saída da maior crise econômica de sua história".
Logo após o encerramento da sessão, deputados dos partidos de oposição se reuniram para definir a estratégia diante da revelação que atinge Temer.
Senado
No Senado, assim que a notícia sobre o áudio de Temer foi publicada, Eunício Oliveira continuou com a sessão, mas, enquanto um projeto era analisado de forma simbólica (sem contagem de votos), vários senadores liam, por meio dos celulares, a reportagem do jornal "O Globo" e se revezavam na tribuna para repercutir o assunto.
Logo após o encerramento da sessão do Senado, o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais aliados do presidente Michel Temer, falou com a imprensa e disse ser "prematuro" fazer qualquer tipo de comentário sobre as denúncias.
Jucá também afirmou acreditar que as acusações não vão atrapalhar o cronograma das reformas trabalhista, no Senado, e da Previdência, na Câmara.
"Não sei do que se trata, não se sabe sobre a fita, sobre a perícia, não dá para comentar algo que não conhecemos. Eu considero que é uma denúncia entre tantas que estão sendo publicadas. A maioria das delações, o PT está descredenciando. Se há uma delação que envolve o governo, é válida, se há envolvendo o PT, não é válida. É um processo seletivo?", questionou.
Jucá disse, ainda, que o "remédio para a calúnia é a transparência e a investigação". "Vamos aguardar para ver o que é verdade e o que não é", emendou.
Vídeos do JN
Assista abaixo a alguns vídeos do Jornal Nacional sobre o assunto; na sequência, entenda o caso com mais detalhes
Entenda o caso
Segundo o jornal "O Globo", os donos da JBS disseram em delação à Procuradoria-Geral da República (PGR) que gravaram Temer dando aval para comprar o silêncio de Eduardo Cunha, após o ex-deputado ser preso na Operação Lava Jato.
Ainda de acordo com o jornal, o empresário Joesley Batista entregou uma gravação feita em março deste ano em que Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Lourdes (PMDB-PR) para resolver assuntos da J&F, uma holding que controla a JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviados por Joesley.
Até a última atualização desta reportagem, Rocha Loures não havia se pronunciado.
Em outra gravação, também de março, diz "O Globo", o empresário disse a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que permanecessem calados na prisão. Diante dessa informação, Temer diz, na gravação: "tem que manter isso, viu?"
Na delação de Joesley, o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, é gravado pedindo ao empresário R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmada pela Polícia Federal (PF). A PF rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que foi depositado numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).
Aécio e Zeze Perrella, assim como Temer e Rocha Loures, ainda não haviam se manifestado sobre o assunto até a última atualização desta reportagem.
A gravação
Segundo o jornal, em duas ocasiões em março deste ano, Joesley conversou com Temer e com Aécio levando um gravador escondido.
O colunista Lauro Jardim, de "O Globo", conta, ainda, que os irmãos Joesley e Wesley Batista estiveram na quarta-feira passada no Supremo Tribunal Federal (STF) no gabinete do ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin – responsável por homologar a delação dos empresários. Diante dele, os empresários teriam confirmado que tudo o que contaram à PGR em abril foi de livre e espontânea vontade.
Joesley contou ainda que seu contato no PT era Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff. Segundo "O Globo", o empresário contou que era com Mantega que o dinheiro da propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados, e também era o ex-ministro que operava os interesses da JBS no BNDES.
Cunha
Joesley disse na delação que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após sua prisão na Lava Jato. O valor, segundo o jornal, seria referente a um saldo de propina que o deputado tinha com o empresário.
Joesley Batista disse ainda que devia R$ 20 milhões por uma tramitação de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.
Investigação
Segundo o jornal, pela primeira vez a PF fez "ações controladas" para obter provas. Os diálogos e as entregas de dinheiro foram filmadas e as cédulas tinham os númjeros de série controlados. As bolsas onde foram entregues as quantias tinham chips de rastreamento.
Durante todo o mês de abril, foram entregues quase R$ 3 milhões em propina rastreada.
O jornal informou que as conversas para a delação dos irmãos donos da JBS começaram no final de março. Os depoimentos foram coletados do início de abril até a primeira semana de maio. O negociador da delação foi o diretor jurídico da JBS, Francisco Assis da Silva, que depois também virou delator.