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sábado, 26 de setembro de 2015

Garoto com doença genética rara gera comoção no Chile e amplia debate sobre doação de órgãos

Cristóbal Gelfenstein Perey tem 14 anos e precisa da doação de um pulmão para poder sobreviver a doença rara que já matou sua irmã.

Inma GilDa BBC Mundo
 Em fevereiro deste ano, Cristóbal se sentia perfeitamente saudável - hoje sua vida corre perigo  (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)Em fevereiro deste ano, Cristóbal se sentia perfeitamente saudável - hoje sua vida corre perigo (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)
Há algumas semanas, Cristóbal Gelfenstein Perey completou seus 14 anos de idade, mas não pôde festejar – ele está internado sob cuidados intensivos em um hospital em Santiago, no Chile.
Assim como sua irmã, Cristóbal sofre de uma doença muito rara de origem genética que afeta o sistema respiratório e pode matá-lo.
O caso dele chamou a atenção no país e o garoto virou prioridade nacional para um transplante de pulmão. No Chile, a taxa de doação de órgãos ainda é baixa, com somente sete pessoas doadoras para cada milhão – no Brasil, segundo os dados mais recentes, são 14,2 doadores por milhão.
À espera, família e amigos correm contra o relógio para evitar que Cristóbal acabe morrendo da mesma doença que já tirou a vida de sua irmã em 2012 – a hemangiomatose capilar pulmonar. A garota tinha apenas 17 anos quando faleceu.
A vida do adolescente depende do transplante, e a família tem feito campanha pelas redes sociais nas últimas semanas para tentar conseguir um doador – o lema é "Salvem o Cris" - e estimular mais chilenos a se tornarem doadores de órgãos.
"Eu perdi uma filha há três anos com essa mesma doença. Sei como é difícil encontrar esse pulmão e sei que a vida de Cris depende disso", lamentou a mãe do adolescente em um vídeo no YouTube que faz parte da campanha para salvar seu filho.
"Eu sei que ele vai aproveitar muito a vida, vai ser um garoto muito, muito feliz se tiver essa chance. Ele vai ser muito grato. E… Nós não queremos perdê-lo", completou.
A mãe diz que o menino é uma criança bastante otimista, mas tem dias que acaba ficando desanimado pela doença. Todo dia, ele faz algum tipo de exercício em aparelhos, uma caminhada na esteira ou alguns minutos na bicicleta – tudo para minimizar a perda de massa muscular, algo essencial para que ele possa se recuperar depois de um transplante futuro.
Doença rara
A hemangiomatose capilar pulmonar é uma má formação nos pulmões que dificulta o processo de oxigenação do sangue.
Ela resulta de um crescimento capilar anormal nos pulmões e acredita-se que isso esteja relacionado a uma mutação genética.
Essa anomalia gera uma hipertensão pulmonar aguda – e a consequência é um excesso de pressão no coração, que resulta em uma insuficiência cardíaca.
 Cristóbal vive com a ajuda de aparelhos que fazem seu pulmão e seu coração funcionarem  (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)Cristóbal vive com a ajuda de aparelhos que fazem seu pulmão e seu coração funcionarem (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)
O coração de Cristóbal começou a falhar em 31 de agosto, quando ele deu entrada no hospital. Agora, tanto os pulmões quanto seu coração estão funcionando somente com a ajuda de aparelhos.
A prioridade é "cuidar do coração o máximo possível até que aconteça o transplante", conforme explicou a mãe do garoto, Vivianne Perey, à BBC.
Mas a equipe médica que cuida de Cristóbal, e que é liderada pelo mesmo cirurgião cardiovascular, Cristián Baeza, que há alguns anos cuidou de sua irmã, não sabe detalhes sobre como a doença se desenvolve, já que ela é bastante rara e pouco conhecida no mundo – até hoje, houve apenas 50 casos registrados dela em todo o planeta.
"Ninguém tem muita experiência nessa doença", disse o cirurgião.
No Chile, somente duas pessoas foram diagnosticadas com esse quadro: Cristóbal e sua irmã, Trinidad, ambos durante a adolescência.
Em outros lugares do mundo, a doença já afetou pacientes mais velhos, com mais de 40 anos, conforme explicou Baeza. Mas, no caso dos irmãos chilenos, a hemangiomatose capilar pulmonar já começou de maneira agressiva.
Em apenas seis meses, Cristóbal deixou de ser um adolescente normal, esportista e saudável a ficar em estado grave no hospital.
Em março, começaram a se manifestar os primeiros sintomas: uma fadiga mais intensa que o normal e desproporcional ao tipo de atividade que realizava. A partir daí, ele já não conseguia seguir com o ritmo esportivo que tinha no colégio.
Agora, conforme já sentenciou o pai do menino, Sergio Gelfenstein, à mídia local, "a única possibilidade de Cristóbal se salvar é por meio de um transplante".
 Mãe faz campanha nas redes sociais para conseguir doação de um pulmão para filho  (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)Mãe faz campanha nas redes sociais para conseguir doação de um pulmão para filho (Foto: Cortesia/Vivianne Perey)
Mudança na lei
Cristóbal não é o único chileno que espera desesperadamente por um transplante. Cristóbal Ferrada, de 14 anos, e Monserrat Sarmiento, de 6, também estão internados à espera de um coração.
Atualmente, 1,8 mil doentes estão na lista de espera no Chile para receber um órgão, segundo Ana María Arriagada, presidente da Corporação do Transplante no país.
Em 2013, a lei de Doação Universal foi modificada no Chile para simplificar o processo e estimular mais doações – agora, as pessoas que não quiserem ser doadoras precisam deixar isso registrado em cartório.
Ainda assim, segundo Arriagada, o índice de doadores no Chile continua entre os mais baixos da região.
Uma das dificuldades para mudar essa tendência no Chile é que as famílias frequentemente não liberam a doação de órgãos, ainda que a pessoa falecida tenha se mostrado favorável à ideia enquanto estava viva.
Segundo dados da Corporação de Transplante, cerca de 50% das famílias dizem que não nas entrevistas para liberar a doação de órgãos.
Por isso, um dos lemas usados na campanha de apoio a Cristóbal nas redes sociais é: "Sou doador e minha família sabe".

Depois de tentar vários métodos, jovem recorre a cirurgia e perde 82 kg

Ao emagrecer, Maryane Coan, que tinha 154 kg, se livrou da hipertensão.
No início, sonhava com comida e chorava de vontade de comer.

Mariana LenharoDo G1, em São Paulo
Pesando 154 kg, Maryane Coan já tinha experimentado vários métodos para tentar emagrecer: dietas recomendadas por nutricionistas, remédios receitados por médicos, prática de exercícios físicos e terapia. Nenhum deles foi bem sucedido e a obesidade passou a prejudicar a saúde da jovem de 24 anos, que desenvolveu um quadro de hipertensão.
Maryane se enquadrava no perfil de pacientes com indicação para a cirurgia bariátrica: com índice de massa corpórea (IMC) acima de 50, a bacharel em direito já era considerada obesa mórbida. Desde julho de 2013, quando atingiu seu peso máximo, até fevereiro de 2015, ela emagreceu 82 kg com a ajuda do procedimento, feito em dezembro de 2013.
A jovem de Santa Catarina chegou a pesar 154 kg; hoje, atingiu sua meta e pesa 72 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)A jovem de Santa Catarina chegou a pesar 154 kg; hoje, atingiu sua meta e pesa 72 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
Dificuldades iniciais
Mas não foi nada fácil, segundo a jovem de Braço do Norte, em Santa Catarina.  Nos primeiros dias depois do procedimento, só podia tomar líquidos em quantidades muito pequenas de cada vez. “No período da dieta líquida, cheguei a ligar para a psicóloga porque sonhava que estava comendo, mas não podia comer, então chorava. Não era fome, era vontade de comer”, conta.
Raio-X Maryane Coan (Foto: G1)
Como fez a cirurgia em dezembro, também sofreu com o calor e passou muita sede, pois o consumo de água tinha de ser fracionado. Na época do Natal, foi difícil ver a família degustando pratos natalinos enquanto ela tinha que se contentar com uma sopinha.
Cirurgia não é para todos
O endocrinologista Márcio Mancini, especialista da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), explica que nem todos os pacientes obesos podem se submeter à cirurgia bariátrica. Primeiro, o paciente precisa ter IMC maior ou igual a 40 ou IMC maior ou igual a 35 no caso de pessoas que tenham doenças associadas que podem melhorar com a perda de peso, como hipertensão, diabete, apneia, entre outras.
A pessoa também tem de ter experimentado todas as alternativas de tratamento menos invasivas. “Não faz sentido uma pessoa que nunca tentou tratar a obesidade clinicamente com dieta, atividades físicas e medicamentos, partir direto para a cirurgia”, diz Mancini.

Dieta, remédio e terapia
Maryane – que sempre esteve acima do peso desde a infância e começou a engordar mais a partir dos 15 anos – já tinha experimentado dieta, remédio e terapia antes da decisão pelo procedimento cirúrgico. A dieta, indicada por uma nutricionista, levou à perda de 5 kg, mas ela não conseguiu levar a mudança alimentar adiante.
Ela teve a indicação de sibutramina, remédio para emagrecer que atua no sistema nervoso, mas não se adaptou. “Não cheguei a tomar nem a primeira caixa porque dava palpitação”, diz. Nem o tratamento com uma psicóloga a ajudou a perder peso, por isso decidiu se submeter à cirurgia bariátrica.
Maryane Cohen, de 24 anos, emagreceu 82 kg com ajuda de cirurgia bariátrica (Foto: Maryane Cohen/Arquivo Pessoal)Maryane, de 24 anos, emagreceu 82 kg com ajuda de cirurgia (Foto: Maryane Coan/Arquivo Pessoal)
Mas antes de passar pelo procedimento, se esforçou para fazer uma reeducação alimentar e chegou a emagrecer 23 kg em 6 meses. Por isso, estava pesando 131 kg quando entrou na sala de cirurgia.
Paladar mudou
Maryane já gostava de comer saladas, legumes, frutas e alimentos integrais. Seus pontos fracos eram as quantidades excessivas e o gosto por comidas não tão saudáveis como pizzas, salgados, lanches e doces. Depois da cirurgia, o paladar mudou e ela deixou de ter vontade de comer itens muito calóricos. Quando pensa em um doce, por exemplo, se contenta com um iogurte natural com granola e fruta.
Hoje, refeições de Maryane são leves e variadas: verduras, legumes, frutas e alimentos integrais fazem parte de sua rotina (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)Hoje, refeições de Maryane são leves e variadas: verduras, legumes, frutas e alimentos integrais fazem parte de sua rotina (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
Outras coisas também mudaram com a perda de peso impulsionada pela cirurgia. Hoje, ela tem mais disposição para fazer atividades físicas e arrumar a casa por exemplo. A autoestima também é outra. “É muito bom chegar a algum lugar e a pessoa dizer o quanto você está bonita. Melhor ainda é chegar a uma loja de roupa. Agora tem muito mais opções. Tinha chegado a um ponto em que não tinha opção: se servisse, tinha que comprar. Agora quero comprar tudo”, relata.
A jovem conta que tomou a decisão de fazer a cirurgia sozinha, sob a orientação do médico. O pai, a princípio, era contra o procedimento. A mãe e o marido acreditavam que a decisão deveria ser dela. Mas, pouco antes do procedimento, a família toda foi à consulta médica com Maryane e todos se sentiram mais confiantes no procedimento. Hoje, eles têm orgulho de sua mudança.
Maryane tem mais disposição e autoestima depois de ter emagrecido 82 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)Maryane tem mais disposição e autoestima depois de ter emagrecido 82 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
Acompanhamento médico
Apenas 15 dias depois da cirurgia, ela pôde deixar de tomar seus remédios diários para hipertensão, pois sua pressão voltou a níveis saudáveis.
Mancini observa que, depois de uma cirurgia bariátrica, o paciente tem que continuar sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar. “Ele troca um acompanhamento de um estado de má nutrição, que é a obesidade, onde os problemas são as doenças associadas à obesidade, por um outro acompanhamento que é a vigilância de desnutrição, que pode ser proteico-calórica ou de micronutrientes (de minerais e vitaminas).”
Com 72 kg, Maryane já atingiu sua meta e agora está economizando dinheiro para fazer as cirurgias plásticas necessárias para tirar o excesso de pele.
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ONG se dedica a realizar desejos de pacientes em estado terminal

De passeios a museus a encontro com girafas, voluntários já atenderam 7 mil pedidos.

Vibeke VenemaDo Serviço Mundial da BBC
Foto de Foppen dentro do Rijksmuseum de Amsterdã ficou famosa  (Foto:  Roel Foppen/Stichting Ambulance Wens)Foto de Foppen dentro do Rijksmuseum de Amsterdã ficou famosa (Foto: Roel Foppen/Stichting Ambulance Wens)
No começo do ano uma foto viralizou nas redes sociais: ela retratava uma mulher em uma maca dentro do museu Rijksmuseum, em Amsterdã.
Ela apreciava pela última vez a pintura de Rembrant (1606-1669), sua favorita, e a visita só foi possível graças a uma organização de caridade holandesa que ajuda pacientes terminais a realizar seus últimos desejos.
"Descobri que as pessoas que estão para morrer têm pequenos desejos", diz Kees Veldboer, motorista de ambulância que fundou a ONG, chamada Stichting Ambulance Wens (ou "Fundação Ambulância dos Desejos", em tradução livre).
Em novembro de 2006, Veldboer levava um paciente terminal, Mario Stefanutto, de um hospital para outro. Mas, logo depois de ele ter sido colocado na maca, os funcionários responsáveis pela ambulância foram avisados de que haveria um atraso, pois o hospital que receberia o paciente não estava pronto.
Stefanutto não queria voltar para a cama onde havia permanecido nos últimos três meses. Veldboer perguntou, então, se ele gostaria de ir a algum outro lugar.
Em seguida, o marinheiro aposentado perguntou se poderia ser levado ao canal Vlaardingen. Ele queria ver a água e dizer um último adeus à baía de Roterdã. Era um dia de sol e os dois ─ Veldboer e Stefanutto ─ ficaram nas docas por quase uma hora.
"Lágrimas de alegria escorreram pelo rosto dele. Quando perguntei se ele gostaria de navegar de novo, ele disse que seria impossível, pois estava em uma maca", lembra Veldboer.
O primeiro desejo atendido: Mario Stefanutto em seu passeio pela baía de Roterdã (Foto:  Stichting Ambulance Wens)O primeiro desejo atendido: Mario Stefanutto em seu passeio pela baía de Roterdã (Foto: Stichting Ambulance Wens)
Mas o motorista de ambulância decidiu transformar este último pedido em realidade. Ele perguntou ao chefe se poderia pegar emprestada uma ambulância em seu dia de folga, pediu a ajuda de uma colega e entrou em contato com uma companhia de passeios de barco que trabalha em Roterdã.
Eles toparam ajudar e, na sexta-feira seguinte, para o espanto de Stefanutto, o motorista de ambulância apareceu no hospital para levá-lo para um passeio de barco.
"Me faz bem saber que ainda há pessoas que se importam com as outras...Posso dizer a partir da minha experiência que um pequeno gesto de alguém pode ter um grande impacto", escreveu Stefanutto em uma carta, pouco antes de morrer.
Na cozinha
Foi ali o começo da ONG criada por Veldboer. Ele e sua esposa, Ineke, que é enfermeira, começaram tudo na mesa da cozinha há oito anos. Agora, eles contam com 230 voluntários, seis ambulâncias, uma casa de campo e estão perto de ter realizado 7 mil desejos de pacientes terminais.
Ineke e Kees Veldboer já ajudaram milhares de pessoas a realizarem o último desejo  (Foto: Stichting Ambulance Wens)Ineke e Kees Veldboer já ajudaram milhares de pessoas a realizarem o último desejo (Foto: Stichting Ambulance Wens)
Em algumas ocasiões, os desejos são realizados no mesmo dia. Em média, a entidade atende quatro pessoas por dia, de diferentes faixas étarias.
A única exigência é que os pacientes estejam em estado terminal e não possam ser transportados de outra forma a não ser em uma maca.
"Nossa paciente mais jovem tinha dez meses de idade, era uma gêmea e estava em um hospital infantil, nunca tinha ido para casa. Os pais dela queriam se sentar no sofá com ela uma única vez."
"E nossa paciente mais velha tinha 101 anos ─ ela queria andar a cavalo uma última vez. Nós a levantamos até o cavalo com a ajuda de um caminhão e, depois, a levamos em uma carruagem - ela acenava para todo mundo como se fosse da realeza. Foi um bom desejo", conta Veldboer.
Outras organizações oferecem dias fora do hospital e realização de desejos a pacientes doentes, mas a Stichting Ambulance Wens foi a primeira a fornecer uma ambulância e apoio médico total.
 A senhora de 101 anos que queria andar a cavalo pela última vez   (Foto: Stichting Ambulance Wens)A senhora de 101 anos que queria andar a cavalo pela última vez (Foto: Stichting Ambulance Wens)
Sempre há uma enfermeira a bordo e os motoristas são especializados, geralmente já trabalharam na polícia ou bombeiros. Já as ambulâncias foram adaptadas e possuem janelas, para que os pacientes possam apreciar a vista. Cada um deles recebe um urso de pelúcia chamado Mario, batizado em homenagem a Stefanutto.
'Satisfação'
"Nós, voluntários, ficamos muito satisfeitos ao ver as pessoas se divertindo", diz Roel Foppen, um ex-soldado que trabalha como motorista. Nos últimos seis anos, ele ajudou a realizar 300 desejos.
Certa vez, ele chegou a viajar à Romênia, num percurso de cerca de 4,5 mil quilômetros, para realizar o desejo de uma mãe, Nadja, que, apesar de viver na Holanda havia 12 anos, queria morrer junto dos filhos ─ de três e sete anos ─ que haviam voltado ao país-natal.
"Ela estava tão doente que nem podíamos tocá-la", diz Foppen.
Ele lembra que o comboio saiu na manhã de uma quinta-feira e, quanto atravessavam a Alemanha, Nadja piorou, e foram obrigados a parar em um hospital.
Os médicos recomendaram que ela permanecesse ali, mas Nadja queria ver os filhos. Depois de um atraso de três horas, eles seguiram viagem. Quando atravessaram a fronteira da Romênia, Nadja disse: "Pode tirar a maca (da ambulância), agora eu posso morrer!".
"Só mais 600 quilômetros até sua mãe e filhos ─ você consegue aguentar só mais um pouco?", perguntou Foppen.
 Nadja queria voltar à Romênia para morrer cercada por familiares   (Foto: Stichting Ambulance Wens)Nadja queria voltar à Romênia para morrer cercada por familiares (Foto: Stichting Ambulance Wens)
No sábado, a ambulância chegou a Bucareste, capital da Romênia, para um encontro emocionante. E, depois, voltou, deixando Nadja no país.
A família enviou um cartão depois a Foppen, dizendo que Nadja havia morrido duas semanas depois do episódio.
No museu
Foppen registrou uma foto agora famosa no Rijksmuseum. Ele estava do outro lado da galeria em Amsterdã, com sua colega Marie Knot, atendendo ao desejo de outra pessoa.
Eles cuidavam de um homem chamado Donald, que visitava o museu regularmente com o parceiro de 30 anos ─ os dois homens haviam se casado na semana anterior.
"O bom é que ele dava as ordens. Ele nos disse quais quadros queria ver e conseguiu nos falar muita coisa sobre eles, então nós aproveitamos também", diz Foppen.
A última obra em exposição era uma que Donald nunca tinha visto, Simeão com o menino Jesus no Templo, uma pintura que Rembrandt não conseguiu finalizar.
"Agora eu percebo que uma vida nunca está finalizada. Minha vida não está acabada e este quadro está inacabado", disse Donald a eles, muito emocionado.
"Vi o que queria ver, podemos ir agora", acrescentou.
Marie Knot diz que é uma honra compartilhar momentos como este. Ela conta ter conhecido a ONG quando foi convidada por um paciente com câncer. O desejo dele era ver uma grande construção feita no porto de Roterdã.
Antes de ficar doente, ele conferia o progresso da obra toda semana mas, mas acabou sendo levado para conhecer toda a construção. A experiência foi tão boa que Knot escreveu para Veldboer se oferecendo para trabalhar na organização.
"Toda vez é especial. Você discute com seus colegas no caminho para casa e é sempre muito especial, não importa quão pequeno (é o desejo)", afirma Knot.
"Atendi uma senhora que só queria um copo de advocaat (um licor de ovo) em casa. O filho dela trouxe a garrafa, fomos até a casa dela, ela experimentou e nós voltamos. Este era o desejo dela."
"As pessoas perguntam se ficamos esgotados, se não é comovente demais sempre lidar com os últimos desejos. Sim, é, mas frequentemente as pessoas estão prontas para morrer, pois elas já foram tão longe. E é sempre bom dar a elas algo que realmente querem", diz.
Girafa
 A foto de Mario com a girafa ficou famosa no mundo todo   (Foto: Stichting Ambulance Wens)A foto de Mario com a girafa ficou famosa no mundo todo (Foto: Stichting Ambulance Wens)

Frans Lepelaar é um ex-policial que investigava fraudes e agora é motorista de uma das ambulâncias da organização. Ele e o colega, Olaf Exoo levaram Mario, um homem de 54 anos com dificuldades de aprendizado ao zoológico Diergaarde Blijdorp, em Roterdã, onde ele havia trabalhado durante 25 anos cuidando da manutenção.
No final do turno, Mario costumava visitar os animais. Lepelaar e Exoo decidiram, então, levar Mario para uma última visita.
Quando eles chegaram ao local onde ficavam as girafas, foram convidados a entrar. De repente, uma girafa se aproximou de Mario e deu uma lambida em seu rosto. Ele estava doente demais para falar, mas "podia ver sua alegria", diz Exoo, que registrou a foto do "beijo da girafa".
A imagem rodou o mundo.
Para Exoo, os pequenos desejos são os melhores.
"Aquelas coisas que para nós são normais, mas que ficaram impossíveis para estas pessoas", explica.
Vetos
 Alguns dos voluntários da ONG no Rijksmuseum, de Amsterdã  (Foto: Stichting Ambulance Wens)Alguns dos voluntários da ONG no Rijksmuseum, de Amsterdã (Foto: Stichting Ambulance Wens)

Veldboer afirma que alguns médicos proibiam as ações da ONG mas, à medida que o trabalho se tornou mais conhecido, os vetos foram diminuindo. Agora, é mais comum o hospital ou o asilo fazer o pedido em nome do paciente.
"Havia uma senhora que queria ir ao casamento do neto. O asilo disse que não, mas ela estava desesperada então, no fim, eles nos ligaram. Nós a levamos e ela adorou. No caminho de volta ela disse 'vocês nem sabem como isto foi importante para mim'", disse. A senhora morreu naquela mesma noite.
Levando em conta a gravidade do estado de saúde dos pacientes, é talvez surpreendente que, entre os cerca de 7 mil já atendidos pela ONG, apenas seis morreram durante a realização do desejo.
Nesses casos, o papel dos que estão na ambulância é dar apoio à família e tomar as medidas necessárias em relação ao corpo. Segundo Veldboer, em todos os seis casos as famílias ficaram agradecidas pelo suporte da entidade.
Depois do enorme sucesso da organização na Holanda, Veldboer ajudou a estabelecer organizações parecidas em Israel ─ depois de levar uma mulher judia a Jerusalém, onde ela queria morrer ─ então na Bélgica, Alemanha e Suécia.

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