Deputados Carlos Marun (PMDB-MS), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Beto Mansur (PRB-SP) assumiram defesa política de Temer na Casa. Sessão para votar denúncia está marcada para quarta (2).
Por Bernardo Caram e Guilherme Mazui, G1, Brasília
Diante de um cenário político adverso para o presidente Michel Temer, denunciado pela Procuradoria Geral da República e com a popularidade em 5%, três parlamentares têm chamado a atenção pela defesa política de Temer na Câmara: os deputados Carlos Marun (PMDB-MS), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Beto Mansur (PRB-SP). A "tropa de choque".
Marun, Perondi e Beto Mansur têm se reunido diariamente com o presidente no Palácio do Planalto e no Palácio do Jaburu. Eles fazem discursos para defender Temer e concedem entrevistas – várias vezes ao dia. E são eles alguns dos responsáveis por procurar os deputados indecisos e convencê-los a votar contra a denúncia.
Temer foi denunciado pela PGR ao Supremo Tribunal Federal pelo crime de corrupção passiva com base nas delações de executivos do grupo J&F, que controla a JBS.
Mas o STF só poderá analisar a denúncia se a Câmara autorizar. A votação está marcada para esta quarta-feira (2).
No plenário, os deputados analisarão o parecer aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que recomenda a rejeição da denúncia.
'Zagueiro'
Marun gosta de se apresentar como um dos "zagueirões" de Temer. Em seu primeiro mandato de deputado, o peemedebista de 56 anos passou a ser conhecido nacionalmente em 2015, quando se tornou um dos principais defensores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje deputado cassado e atualmente preso pela Polícia Federal.
Gaúcho, Marun construiu a carreira política no Mato Grosso do Sul, onde foi vereador, deputado estadual e secretário de Habitação. Eleito com 91,8 mil votos, desembarcou em Brasília há dois anos.
Hoje integrante da "tropa de choque" de Temer, Marun foi um dos raros aliados que não abandonou Eduardo Cunha no ano passado e defendeu o colega até o momento em que o plenário da Câmara decidiu cassar o mandato do ex-presidente da Casa. Meses depois, visitou o aliado – com uso de verba indenizatória da Câmara – na prisão no Paraná.
Descendente de libaneses, assim como Temer, Marun se aproximou do presidente durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. De lá para cá, a relação entre eles se estreitou e os encontros ficaram mais frequentes. Marun ganhou, por exemplo, a presidência da comissão especial que analisou a reforma da Previdência Social, um dos principais projetos do governo Temer.
"Eu tenho me colocado em diversas situações que são polêmicas. Fui defensor de que Cunha não deveria ser cassado no processo pelo qual ele foi cassado, depois veio a reforma da Previdência e agora essa. De todas, a mais tranquila tem sido a de defender o presidente Temer", afirma.
Se as críticas da oposição não têm abatido Marun, o pé de um sofá quase tirou o deputado da reta final da articulação para tentar barrar a denúncia. Às vésperas da votação, ele chutou o móvel de casa e foi parar no hospital com um dedo do pé direito quebrado.
"Eu não sei se é praga, mas eu passo há anos ao lado do mesmo sofá. Domingo, acertei o pé do sofá. Não é uma baixa [para a votação da denúncia], mas estou jogando a meia boca, pelo menos o pé", disse o deputado, acrescentando que estará presente à votação utilizando uma bota ortopédica.
'Porta-voz'
Tido como o "porta-voz" de Temer na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS) está no sexto mandato e teve 109,8 mil votos nas últimas eleições, em 2014. Ele convive com o amigo "Michel" há mais de 20 anos.
A relação política entre os dois se estreitou em 1996. À época, Perondi pedia para acompanhar as reuniões de Temer sobre a reforma da Previdência proposta pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Desde o ano passado, quando o governo apresentou uma nova proposta de reforma, ele passou a ser um dos principais defensores.
Ainda em 2016, Darcísio Perondi foi escolhido relator de uma das principais propostas do governo para a área econômica, a PEC que estabeleceu o teto para o aumento dos gastos públicos, aprovada no fim do ano passado.
No recesso parlamentar de julho, o gaúcho permaneceu em Brasília praticamente todos os dias. Por fazer parte da "tropa de choque", atuou nas últimas semanas para convencer deputados a votar contra a denúncia e frequentou diariamente o Salão Verde da Câmara dos Deputados, que, durante o recesso, costuma ser ocupado somente por jornalistas.
"Sem o Michel, o Brasil afunda. Sem o Michel, as reformas param. O Brasil não aguenta uma nova troca de presidente", afirma o deputado, um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff.
Em meio à maratona diária na tentativa de barrar a denúncia da PGR, ele diz que não abre mão dos exercícios físicos. Somente compromissos "inadiáveis", afirma, podem ser marcados entre 6h30 e 8h, horário em que ele se dedica a fazer pilates, corrida e musculação.
'Homem dos mapas'
Desde que passou a integrar a "tropa de choque" de Temer, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) passou a ser o "homem dos mapas e gráficos".
É num pen-drive guardado na carteira que o deputado paulista guarda os dados que projeta sobre a votação da denúncia. O levantamento atualizado todos os dias e as informações são enviadas a Temer e aos ministros da coordenação política, como Eliseu Padilha (Casa Civil), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
"A gente evita falar publicamente em placar, mas o presidente tem os votos para derrubar a denúncia", diz Beto Mansur.
Aos 66 anos, Beto Mansur é ex-prefeito de Santos e está no quinto mandato de deputado federal. Em 2014, recebeu 31,3 mil votos e garantiu a cadeira na esteira de Celso Russomanno (PRB-SP), que teve 1,5 milhão de votos.
Mansur se apresenta como radialista, empresário e engenheiro eletrônico. "A formação me garantiu lidar bem com a matemática. Então, facilita na hora de fazer o mapa do plenário", afirma.
As projeções de Beto ganharam fama a partir do impeachment, quando ele também montou planilhas para mapear o placar da votação. Ao G1, ele afirma que errou por um voto – foram 367 pelo prosseguimento do caso e o parlamentar havia previsto 368.
De lá para cá, as planilhas de Beto Mansur, hoje vice-líder do governo, passaram a ser consultadas em votações como a da PEC do Teto e a da reforma trabalhista.