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quinta-feira, 12 de julho de 2018

Gol de Coutinho contra a Suíça não cai no Enem, mas o do Paulinho contra a Sérvia pode cair; entenda a razão

Para os vestibulandos que amam futebol e odeiam física, a dica na hora da prova é gravar o movimento da bola chutada por Paulinho na memória, e esquecer a curva criada por Coutinho.

Por Ana Carolina Moreno, G1, São Paulo
 
Fotos mostram os momentos em que Philippe Coutinho e Paulinho chutam as bolas que balançaram as redes de Suíça e Sérvia, respectivamente, na Copa do Mundo na Rússia (Foto: Marius Becker/AFP e Eugênio Sávio/Arquivo pessoal)Fotos mostram os momentos em que Philippe Coutinho e Paulinho chutam as bolas que balançaram as redes de Suíça e Sérvia, respectivamente, na Copa do Mundo na Rússia (Foto: Marius Becker/AFP e Eugênio Sávio/Arquivo pessoal)
Fotos mostram os momentos em que Philippe Coutinho e Paulinho chutam as bolas que balançaram as redes de Suíça e Sérvia, respectivamente, na Copa do Mundo na Rússia (Foto: Marius Becker/AFP e Eugênio Sávio/Arquivo pessoal)
A eliminação do Brasil na Copa do Mundo da Rússia deixou lições ao treinador Tite e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas os feitos da seleção canarinha em campo também podem ensinar muito aos estudantes, especialmente se eles estão se preparando para o vestibular.
A principal lição na hora de estudar física é: esqueça o golaço que Philippe Coutinho fez na partida de estreia do Brasil contra a Suíça. Ele foi eleito pela Fifa o mais bonito da primeira fase da Copa do Mundo da Rússia, onde os 32 times marcaram um total de 122 gols em 48 jogos da primeira fase, mas é a física por trás do gol de Paulinho contra a Sérvia que tem mais probabilidade de aparecer nas provas.
O motivo é simples: o movimento feito pela bola quando Paulinho encobriu o goleiro sérvio se trata de um lançamento oblíquo, um dos assuntos frequentes das questões de física do vestibular.
Já a curva lateral que Coutinho imprimiu em seu chute é na verdade o que os físicos chamam de "efeito Magnus", um assunto que é complexo demais para estudantes do ensino médio e, portanto, que não é pedido nas provas da Fuvest, do Enem e de outros vestibulares.
Para explicar como o lançamento oblíquo aparece nas provas e como alguns gols da Copa podem ajudar a acertar a questão, o G1 ouviu:
  • Emico Okuno, professora de física da Universidade de São Paulo (USP), autora de livros didáticos e co-autora, ao lado do também professor Marcos Duarte, do livro "Física do futebol" (Editora Oficina de Textos)
  • Kevork Soghomonian, professor de física do Cursinho Hexag, autor de livros didáticos e consultor e corretor de vestibulares
"É uma questão muito complicada, como a bola de repente faz uma curva", explicou Emico, que hoje tem 81 anos e é santista desde a época de Pelé, ao G1, sobre o chute de Coutinho.
Já o corintiano Kevork explica que o lançamento oblíquo aparece bastante nos vestibulares porque ele exige dos candidatos uma série de conhecimentos típicos da física do ensino médio, mais especificamente da cinemática. Por isso, apesar de ser praticamente impossíve o gol em si cair na prova – afinal, as questões do Enem 2018 costumam ser definidas antes da Copa –, o conceito por trás dele é o mesmo.
Veja a lista de assuntos a estudar para ir bem nessa área, segundo o professor:
  • vetores
  • cinemática vetorial
  • conceitos preliminares de física (partícula, trajetória, posição, deslocamento escalar e referencial)
  • velocidade média
  • Movimento Retilíneo Uniforme (MRU)
  • Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV)
  • queda livre e lançamento vertical
  • lançamento horizontal
  • lançamento oblíquo
No caso do lançamento oblíquo, Kevork diz que as questões pedidas pelas universidades e na prova de ciências da natureza do Enem costumam trazer exemplos inspirados na vida real, como um jato d'água de uma mangueira, o lançamento de uma pedra do topo de um edifício e movimentos existentes em vários esportes, como o corte da bola na rede do vôlei e o lançamento de um martelo.
Em todos os casos, o objeto lançado faz uma trajetória curva conhecida por vários nomes, como parábola, elipse ou hipérbole. "Inclusive a reta é uma curva", explica o professor. "É uma curva de raio infinito."

Cinco opções de enunciado

Kevork indicou que, geralmente, são cinco as propostas típicas de um enunciado de vestibular envolvendo o lançamento oblíquo:
  1. altura máxima que a bola atingiu
  2. alcance da bola em linha reta
  3. a velocidade média em que a bola foi chutada
  4. o ângulo formado pelo chute e o início da trajetória
  5. o tempo total que a bola levou viajando (ou seja, o "tempo de queda")
Veja, no chute de Paulinho, que dados uma questão de vestibular tem mais chance de exigir:

Teste seus conhecimentos

Veja, a seguir, exemplos de três questões de vestibular envolvendo lances de futebol (fictícios ou reais, incluindo o "gol que Pelé não fez") e quais conhecimentos elas pediram (as respostas estão no fim da reportagem):
Na Unicamp 2012, os candidatos receberam o alcance da bola e uma das alturas na trajetória dela, e precisaram calcular a altura máxima da parábola (Foto: Reprodução/Comvest)Na Unicamp 2012, os candidatos receberam o alcance da bola e uma das alturas na trajetória dela, e precisaram calcular a altura máxima da parábola (Foto: Reprodução/Comvest)
Na Unicamp 2012, os candidatos receberam o alcance da bola e uma das alturas na trajetória dela, e precisaram calcular a altura máxima da parábola (Foto: Reprodução/Comvest)
Em 2010, o vestibular do segundo semestre da Universidade Federal do Tocantins (UFT) descreveu uma parábola informando a massa da bola, o ângulo do chute e a altura máxima, e pediu o cálculo da velocidade inicial da bola (Foto: Reprodução/Copese)Em 2010, o vestibular do segundo semestre da Universidade Federal do Tocantins (UFT) descreveu uma parábola informando a massa da bola, o ângulo do chute e a altura máxima, e pediu o cálculo da velocidade inicial da bola (Foto: Reprodução/Copese)
Em 2010, o vestibular do segundo semestre da Universidade Federal do Tocantins (UFT) descreveu uma parábola informando a massa da bola, o ângulo do chute e a altura máxima, e pediu o cálculo da velocidade inicial da bola (Foto: Reprodução/Copese)
Na Unesp 2012, o famoso "gol que Pelé não fez" em 1970 inspirou uma questão de física, que indicou a velocidade inicial, o tempo de queda e o ângulo du chute, e pediu o alcance (distância horizontal) do chute (Foto: Reprodução/Vunesp)Na Unesp 2012, o famoso "gol que Pelé não fez" em 1970 inspirou uma questão de física, que indicou a velocidade inicial, o tempo de queda e o ângulo du chute, e pediu o alcance (distância horizontal) do chute (Foto: Reprodução/Vunesp)
Na Unesp 2012, o famoso "gol que Pelé não fez" em 1970 inspirou uma questão de física, que indicou a velocidade inicial, o tempo de queda e o ângulo du chute, e pediu o alcance (distância horizontal) do chute (Foto: Reprodução/Vunesp)

Tendência dos vestibulares

A cinemática é uma das três áreas da mecânica. As outras duas são dinâmica e estática e, segundo Kevork, cada vez mais os vestibulares procuram mesclar as áreas.
O professor do Hexag cita uma possibilidade de questão usando o gol de Paulinho e extrapolando os conhecimentos de cinemática:
"Eles pegariam esse lance do Paulinho e citariam no vestibular, é como se fosse um lançamento oblíquo. E dá para juntar energia, por exemplo. Poderiam pedir energia, a Segunda Lei de Newton, que é dinâmica", diz ele.
  • (A segunda lei de Isaac Newton calcula a força que atua sobre um corpo multiplicando a massa desse corpo e a aceleração que ele adquire; se a massa do corpo for constante, quanto maior a força, maior a aceleração.)

O efeito Magnus

Essa mescla de subáreas de física pode aparecer no vestibular, mas Kevork descarta o aparecimento de questões inspiradas no gol de Coutinho e em outros gols históricos do tipo, como o de Roberto Carlos, em 1997, contra a França, que já rendeu até palestras sobre o efeito Magnus.
Segundo Emico, o "jogo de forças" nessa caso é uma questão complicada demais para o ensino médio.
"A força de impulso é dada pelo chute do pé do jogador, que vai impulsionar a bola para a direção do gol. A força de sustentação seria a questão de atrito com o ar", explica ela.
Mas existe ainda a questão da rotação da bola sobre o próprio eixo. "Várias vezes o jogador chuta sem rotação e faz gol, mas essa com rotação é complicada, porque a bola faz rotação e de repente faz uma curva e faz gol."

Aproximar a física dos jovens

O uso do futebol para ensinar física foi uma ideia que surgiu quando Emico e o colega Marcos Duarte produziram uma série de textos que aproximassem os jovens de conceitos da física. A professora da USP, que começou a estudar física em 1957,
O resultado foi o livro "A física no futebol", lançado em 2012 com prefácio do ex-jogador e comentaria Tostão e do físico Marcelo Gleiser. A obra depois foi traduzida para o italiano – com direito a prefácio de Roberto Baggio.
"É para jovens que odeiam física, que acham que a física não serve para nada, e que adoram futebol. É tentar ensinar como a física pode ajudar no entendimento de uma série de coisas ligadas ao futebol. A física tem tudo a ver com o futebol", diz Emico.
No livro, os dois autores explicam os temas da física do primeiro ano do ensino médio usando apenas exemplos ligados ao futebol.
Há, por exemplo, um capítulo dedicado apenas à evolução da bola que, segundo ela, a cada ano é alterada para dificultar ainda mais a vida dos goleiros. A difícil decisão dos goleiros na hora de escolher um lado numa cobrança de pênalti é outro dos temas do livro.
Capas das edições brasileira e italiana do livro 'Física do futebol', de Emico Okuno e Marcos Duarte (Foto: Divulgação/Oficina de Textos/Zanichelli)Capas das edições brasileira e italiana do livro 'Física do futebol', de Emico Okuno e Marcos Duarte (Foto: Divulgação/Oficina de Textos/Zanichelli)
Capas das edições brasileira e italiana do livro 'Física do futebol', de Emico Okuno e Marcos Duarte (Foto: Divulgação/Oficina de Textos/Zanichelli)
Resposta das questões dos vestibulares:
  • 1) Unicamp 2012: B
  • 2) UFT 2010: E
  • 3) Unesp 2012: C

Holanda construirá as primeiras casas com impressoras 3D

Projeto envolve prefeitura da cidade de Eindhoven, no sul do país, Universidade de Eindhoven e empresas construtoras. Inicialmente, serão cinco residências.

Por France Presse
 
Concepção artística de como serão casas holandesas (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)Concepção artística de como serão casas holandesas (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Concepção artística de como serão casas holandesas (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Um novo projeto iniciado pela prefeitura da cidade holandesa de Eindhoven, no sul do país, facilitará a criação de um complexo imobiliário composto por cinco casas feitas com a ajuda de impressoras 3D, uma das primeiras inovações do tipo no mundo.
"É só o começo. Trata-se de uma tecnologia revolucionária, de uma nova forma de construir que será desenvolvida com o tempo", diz Rudy van Gurp, um dos encarregados do projeto "Milestone".
A iniciativa foi possível graças a uma associação entre a prefeitura, a Universidade de Eindhoven e várias empresas construtoras.
Embora esta técnica já exista no mundo, as casas projetadas com impressoras 3D não são em geral destinadas à moradia. Trata-se de algo inédito na Holanda, pois as casas deste novo complexo imobiliário serão alugadas.
Casa do tipo geralmente não são destinas à moradia (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)Casa do tipo geralmente não são destinas à moradia (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Casa do tipo geralmente não são destinas à moradia (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Uma centena de inquilinos já mostrou interesse. O aluguel mensal será de entre 900 e 1.200 euros (de R$ 4 mil a R$ 5400 aproximadamente), o que corresponde aos preços médios de aluguéis na Holanda levando em consideração o espaço que terão as "casas 3D".
O complexo estará composto por cinco casas de tamanhos diferentes, cuja construção será financiada por investidores privados. A primeira, com três quartos, estaria pronta por volta de junho de 2019.
Cada quarto requer entre seis meses e um ano de trabalho. O projeto total será concluído em até cinco anos.

Como será a construção

Uma das principais vantagens de utilizar a impressão em 3D é que esta possibilita imaginar um estilo muito livre.
"Tudo é possível, podemos perfeitamente adaptar o desenho ao entorno", afirma Rudy van Gurp.
As casas serão de concreto. A tecnologia possibilita que estruturas mais finas sejam utilizadas, o que evita o desperdício de material.
As impressoras 3D funcionam com a ajuda de sensores, que são posicionados no lugar exato para a construção das partes da casa. Isso economiza tempo e dinheiro. A iniciativa também é motivada pelo problema da escassez crescente de artesãos na Holanda.
"Daqui a alguns anos já não teremos tantos artesãos como pedreiros, por exemplo. Ao introduzir a robotização na indústria da construção, estaremos em condições de fazer casas mais abordáveis no futuro", considera Rudy van Gurp.
Tecnologia deve crescer e baratear, dizem criadores do projeto (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)Tecnologia deve crescer e baratear, dizem criadores do projeto (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Tecnologia deve crescer e baratear, dizem criadores do projeto (Foto: University of Eindhoven/ Project Milestone)
Embora esta técnica por enquanto seja mais cara que os métodos tradicionais, os preços baixarão à medida que a tecnologia das impressoras 3D avançar, ressaltou.
Além de serem modernas, as casas impressas em 3D apresentam vantagens para o meio ambiente, consideram as autoridades de Eindhoven.
"É mais duradoura do ponto de vista ecológico pois os materiais (em especial o concreto) podem ser reutilizados", indica Yasin Torunoglu, vice-prefeito da cidade. "E também é mais rápido que o método tradicional", acrescenta.
Na França, uma inovação similar foi alcançada há alguns dias. Uma casa desenhada em 3D pela Universidade de Nantes já é utilizada como habitação social.

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