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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

MP-GO denuncia médium João de Deus por violação sexual e estupro de vulnerável, em Abadiânia

Por Murillo Velasco, Vitor Santana e Sílvio Túlio, G1 GO
 

João de Deus foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de Goiás — Foto: Reprodução/JNJoão de Deus foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de Goiás — Foto: Reprodução/JN
João de Deus foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de Goiás — Foto: Reprodução/JN
O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) protocolou, nesta sexta-feira (28), a denúncia contra o médium João de Deus, preso suspeito de praticar abusos sexuais durante tratamentos espirituais, em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Ele está preso há 12 dias no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital.
O médium foi denunciado por quatro casos que englobam fatos investigados pela Polícia Civil e Ministério Público: dois por violação sexual mediante fraude e dois por estupro de vulnerável.

Casos

O documento contém o relato de 19 mulheres que dizem ter sido abusadas pelo médium. Destas, 12 procuraram o Ministério Público e sete, a Polícia Civil. Algumas são de outros estados, mas não foi divulgado de quais.
  • Quatro casos, todos entre abril e outubro de 2018, compõem a denúncia; dois por violação sexual e dois por estupro de vulnerável;
  • Dez casos prescreveram ou decaíram. Eles aconteceram nos anos de 1975, 1987, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 (2 casos), 2015 e 2018;
  • Outros cinco casos ainda precisam de mais diligências e investigações para serem concluídos.
Um funcionário do Fórum de Abadiânia foi até o Ministério Público para buscar a denúncia, que foi protocolado na comarca por volta de 15h40. O advogado Alberto Toron, que defende o médium, disse que ainda não foi informado da denúncia.
De acordo com a promotora Gabriela Clementino, há provas suficientes para embasar a denúncia. "Muitas delas conseguiram provar que estiveram lá na Casa [Dom Inácio de Loyola], há atestados psicológicos. Há uma infinidade de elementos que mostram que a negativa do investigado não é verossímil", afirmou.
Ela ainda completou que os relatos das mulheres impactaram a força-tarefa. "É emocionante ouvir os relatos, a quebra do silêncio. Ouvir os relatos é despetador. Cada vez que elas falam, tiram um peso das costas. Nosso trabalho é técnico, mas é impossível dissociar [a emoção do trabalho]", completou.
Por fim, a promotora explicou que o MP continua investigando outros crimes, como a posse ilegal de armas de fogo.
A assessoria do Tribuna de Justiça informou que a denúncia foi protocolada e "está em mesa para análise, mas, diante do volume de documentos que será analisado, é preciso aguardar" até que possam ser divulgadas mais informações. Além disso, a instituição explicou que o caso tramita em segredo de Justiça.

Bloqueio de bens

O Tribunal de Justiça determinou, na quinta-feira (27), o bloqueio de R$ 50 milhões das contas de João de Deus. O dinheiro, conforme apurou a TV Anhanguera, será usado para reparação das vítimas, caso ele seja condenado pelos crimes. O advogado de defesa, Alberto Toron, disse que não recebeu qualquer informação sobre essa decisão.
O Tribunal de Justiça informou que "o procesos corre em segredo de Justiça e a divulgação de informações poderá prejudicar o andamento regular do processo".
Promotoras Paula Moraes de Matos e Gabriella Clementino explicam detalhes da denúncia contra João de Deus — Foto: Sílvio Túlio/G1Promotoras Paula Moraes de Matos e Gabriella Clementino explicam detalhes da denúncia contra João de Deus — Foto: Sílvio Túlio/G1
Promotoras Paula Moraes de Matos e Gabriella Clementino explicam detalhes da denúncia contra João de Deus — Foto: Sílvio Túlio/G1

Prisão

João de Deus está preso desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou à Polícia Civil. Ele está detido no Núcleo de Custódia do Completo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde dorme sozinho, mas passa o dia em uma cela com outros quatro presos.
A defesa do médium pediu a soltura dele pelos crimes sexuais ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) – ambos negaram o habeas corpus em caráter liminar. Portanto, o pedido foi feito a Supremo Tribunal Federal (STF), que não havia decidido até esta sexta-feira. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se posicionou contra a soltura de João de Deus.

Investigações

Na quinta-feira (27), uma mulher prestou depoimento ao Ministério Público informando ter sido vítima do médium. Ao todo, a instituição já ouviu 79 mulheres e recebeu mais de 600 notificações de abusos sexuais.
A Polícia Civil pretende ouvir novamente João de Deus, preso suspeito de abuso sexual, após analisar os materiais apreendidos na casa do médium e também no centro onde ele fazia atendimentos espirituais, em Abadiânia. Nos locais foram encontradas documentos, armas, pedras preciosas e R$ 1,6 milhão em dinheiro, inclusive estrangeiro. Ele sempre negou as acusações feitas por diversas mulheres.
Segundo o delegado Valdemir Pereira, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), unidade que coordena as investigações sobre esse caso, a corporação ainda faz perícia em todo o material, inclusive plantas dos imóveis e deve questionar o médium sobre esses itens.
“Temos as plantas, mas ainda temos que ver quando esse porão foi construído, se ele que mandou construir já com porão, se comprou a casa já com esses espaços, quais os objetivos, tudo isso vai ser periciado primeiro para então ouvi-lo. Ainda não há uma data para que isso aconteça”, explicou.
O delegado explicou ainda que são investigadas também outras questões, mas disse que não podia dar detalhes para não atrapalhar as investigações.
Até o momento, a polícia já ouviu 16 mulheres que relataram terem sido abusadas pelo médium durante atendimentos espirituais. João de Deus foi indiciado por um dos casos.
A Justiça chegou a conceder a prisão domiciliar para o médium João de Deus pelo crime de posse ilegal de arma de fogo, mas, conforme documento, ele continuará preso por violação sexual. A defesa entrou com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal para esse crime.
O médium João de Deus, preso em Goiás sob acusação de abuso sexual — Foto: Reprodução/TV AnhangueraO médium João de Deus, preso em Goiás sob acusação de abuso sexual — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
O médium João de Deus, preso em Goiás sob acusação de abuso sexual — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Situação atual

A história do gay solteiro que adotou bebê com síndrome de Down rejeitada por 20 famílias

Por BBC
 

Luca Trapanese estava determinado a adotar uma criança com deficiência — Foto: Reprodução/Facebook/Luca TrapaneseLuca Trapanese estava determinado a adotar uma criança com deficiência — Foto: Reprodução/Facebook/Luca Trapanese
Luca Trapanese estava determinado a adotar uma criança com deficiência — Foto: Reprodução/Facebook/Luca Trapanese
Luca Trapanese é solteiro, gay e em julho de 2017 adotou Alba, uma bebê com síndrome de Down que, segundo ele, já havia sido rejeitada por 20 famílias.
Em novembro, o italiano de 41 anos publicou o livro Nata per te (Nascida para Você, em tradução literal), escrito em parceria com Luca Mercadante, sobre sua experiência como pai.
Confira a seguir o depoimento dele, em entrevista ao programa de rádio Outlook, da BBC:
Quando eu tinha 14 anos, meu melhor amigo, Diego, descobriu que tinha câncer terminal. Quando me contou, decidi que eu nunca iria me separar dele.
Eu o acompanhei no hospital e sempre estive lá quando ele precisou de mim.
Eu teria feito qualquer coisa por ele e fiquei ao lado dele durante toda aquela dolorosa experiência, até o fim.
A morte de Diego me deixou com uma profunda consciência do que significa viver com uma doença.
Foi por isso que virei voluntário em uma igreja em Nápoles para ajudar pessoas com doenças críticas e crianças com deficiências.
Foi uma experiência maravilhosa que me permitiu conhecer muita gente que se tornou amiga para a vida inteira.

Romance

Esse período levou Luca a perceber o que queria fazer da vida: ajudar as pessoas necessitadas. E a melhor forma que ele enxergava para fazer isso era se tornar um padre católico:
Eu entrei no seminário aos 25 anos. Passei dois anos lá dentro, até conhecer um homem e me apaixonar por ele.
Deixar o seminário não foi difícil para mim. Meus amigos e familiares foram muito compreensivos.
Meu parceiro e eu passamos 11 anos juntos e foi a história de amor mais bonita da minha vida.
Juntos, fundamos nossa própria organização de caridade em Nápoles para pessoas com deficiências.

Novo irmão

Graças a sua fundação, Luca criou fortes vínculos com muitas pessoas, que se tornaram o que ele chama de sua "família estendida". Uma delas é Francesco, filho de uma professora aposentada, Florinda - e eles oficialmente viraram sua família.
Francesco é dois anos mais novo que eu e tem uma deficiência intelectual. Nós rapidamente nos tornamos amigos. Ele é cheio de vida, gosta de ir ao teatro, de ler notícias e é muito carinhoso.
Um dia, Florinda me perguntou se eu poderia ajudá-la. Estava preocupada com o que aconteceria com Francesco depois que ela morresse, já que não havia outros parentes para tomar conta dele.
Ela perguntou se poderia me adotar para que Francesco tivesse um irmão.
No começo eu hesitei, temia que meus pais biológicos achassem que eu os estava traindo. Mas quando falei com eles, eles me deram permissão imediatamente.
Nós fomos ao tribunal e agora eu tenho duas mães. Francesco estava conosco. Ele entendeu o que estava acontecendo e na mesma hora começou a me tratar como família, a ponto de vez ou outra ir ao meu apartamento sem avisar, para conversar.

A própria família

Meu parceiro e eu sempre falávamos sobre adotar e ambos concordamos que seria uma criança com deficiência.
Infelizmente, há alguns anos nosso relacionamento terminou e me mudei para morar sozinho.
Foi muito difícil porque eu ainda queria ser pai, mas na Itália pais solteiros ainda não podiam adotar.
Posteriormente as coisas mudaram e no início de 2017 consegui me candidatar como adotante.
Disseram-me que só me apresentariam crianças com doenças, deficiências graves ou problemas comportamentais - uma criança que tivesse sido rejeitada por todas as famílias tradicionais.
Eu estava completamente de acordo.
Graças à minha experiência pessoal, sabia que possuía os recursos necessários para lidar com os problemas que a criança tivesse.

Primeiro encontro

Em julho de 2017, eles me ligaram e disseram que tinham uma menina para mim, que o nome dela era Alba e que ela tinha apenas 13 dias de idade.
Tinha síndrome de Down. Foi abandonada pela mãe quando nasceu e rejeitada por mais de 20 famílias.
Foi difícil conter minha alegria. Eu disse sim na mesma hora.
Corri para o hospital para buscá-la. Ela estava em um bercinho pequeno, sozinha.
Quando a segurei em meus braços, me enchi de alegria. Senti nesse instante que ela era minha filha. Que eu estava pronto para ser o pai dela.
Nos primeiros dias, quis ficar sozinho com ela. Eu não queria que minhas mães estivessem por perto dizendo o que eu deveria ou não fazer.
Então a levei para a casa de campo da minha família para criar vínculos com ela e esses foram os nossos momentos mais doces.
Depois, organizei uma festa para apresentá-la a minha família estendida. Todos os meus parentes estavam lá, assim como meus amigos do trabalho de caridade.

Estereótipos

Alba tem 18 meses. Ela tem uma personalidade muito forte e às vezes é muito teimosa. Gosta de brincar e dançar o dia inteiro.
Ela adora estar com outras pessoas, então eu a levo para passear no parque, em museus ou para trabalhar comigo, o que ela ama.
Alba revolucionou completamente a minha vida. Agora tudo gira em torno dela.
Ela me trouxe felicidade e uma sensação de plenitude.
Tenho orgulho de ser o pai dela. Ela nunca foi minha segunda opção. Eu a quis de verdade.
Agora vejo um futuro em que passarei o resto da vida com uma garota que amo e nós faremos várias coisas maravilhosas juntos.
Nossa história destrói muitos estereótipos sobre a paternidade, a religião e a família. Não foi intencional. É simplesmente a nossa história.

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