Velório foi aberto ao público até as 15h, quando corpo da estrela foi levado para cremação. Filha, uma neta e um bisneto da atriz foram os primeiros a chegar na cerimônia.
Por Carlos Brito, G1 Rio
Amigos e parentes rezaram um "Pai Nosso" por Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito/G1
Corpo de Bibi Ferreira é velado no Theatro Municipal do Rio
O corpo da atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, foi velado nesta quinta-feira (14), no Theatro Municipal do Rio, no Centro. A cerimônia foi aberta ao público às 10h e aconteceu até as 15h, quando o corpo deixou o local. Após o velório, o corpo de Bibi foi levado para uma cerimônia restrita aos familiares para ser cremado.
Bibi morreu nesta quarta-feira (13), aos 96 anos. Também apresentadora, diretora e compositora, ela foi um dos maiores fenômenos artísticos do país.
A filha, uma neta e um bisneto de Bibi chegaram cedo ao velório. Segundo Tina Ferreira, filha única de Bibi, a artista morreu no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio.
“Minha mãe faz parte de um legado muito rico do teatro brasileiro. Espero que tudo o que ela fez sirva de inspiração para as gerações de artistas que ainda virão. É bonito ver o público, pessoas que eu nunca conheci, se aproximarem para me cumprimentar e me contar histórias da minha mãe. E é ainda mais bonito que esse momento aconteça aqui, no Municipal, em cujo palco ela pisou tantas vezes” - Tina Ferreira, filha.
Cantora Gina Martins, do coro do Theatro Municipal, interpreta “La vie en rose”
Viradouro presta homenagem no velório de Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito/G1
A atriz acordou e a enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo e, por isso, chamou um médico. Tina acredita que a mãe morreu dormindo.
"Ela amanheceu normal, acordou tomou seu café da manhã e tudo. Depois, ela só se queixou que estava se sentindo um pouco com falta de ar. Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava fraco. Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco. Eles vieram muito rápido, muito rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha partido. Ela morreu dormindo, tranquila", explicou a filha.
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Entre os muitos artistas presentes, o ator Ney Latorraca foi só elogios à amiga: “Uma das mulheres mais intensas que já conheci. Tinha total dedicação ao ofício, era a atriz que chegava primeiro ao teatro, antes de todos. Ela merece todos os nossos aplausos”.
Fãs se despedem de Bibi Ferreira cantando músicas de Edith Piaf
Ney Latorraca sobre Bibi: 'Uma das mulheres mais intensa que conheci" — Foto: Carlos Brito/G1
Relembre a trajetória de Bibi Ferreira, grande dama do teatro brasileiro
As atrizes Arlete Salles e Nicette Bruno também foram ao Theatro Municipal para prestar as últimas homenagens à Bibi Ferreira.
“Bibi foi uma das maiores atrizes do mundo. Era dona de um talento raríssimo e tinha um conhecimento de palco fora do normal”, relembrou Arlete.
“Ela sempre foi um exemplo de vida e um exemplo de profissional. Eu só tenho a agradecer por ela rer sido minha amiga”, disse Nicette Bruno.
“Para a arte brasileira, este é o grand finale de uma grande estrela, de uma diva. Bibi deixa um legado na história do teatro e da música deste país. Ela tem uma ligação muito antiga com esta casa. Aprendeu balé aqui e também foi diretora de dramaturgia do Theatro Municipal. Nós nos despedimos com toda a honra que ela merece”, disse Aldo Mussi, diretor do Theatro Municipal.
Arlete Salles no velório de Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito / G1
Atrizes Nicette Bruno e Beth Goulart se despedem de Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito / G1
Françoise Forton no velório de Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito / G1
Leona Cavalli no velório de Bibi Ferreira — Foto: Carlos Brito / G1
Corpo de Bibi Ferreira deve ser cremado — Foto: Carlos Brito / G1 Rio
Berço artístico
Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922. Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio Ferreira (1889-1979), e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido que ganhou ainda na infância – estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de vida.
Em cena, ela apareceu no colo da madrinha, Abigail Maia, em encenação de "Manhãs de sol", de Oduvaldo Vianna (1892-1972).
Sonia Braga e Bibi Ferreira em Brasil 79, de 1979 — Foto: Acervo TV Globo
Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows. Tudo sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão.
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003. Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo "Bibi, uma vida em musical", escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar. Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.
Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se emocionar ao chorar cantando, da plateia e sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).
Bibi Ferreira teve uma carreira intensa de 77 anos de teatro e música
A própria Bibi interpretou a cantora francesa com maestria em um musical de enorme sucesso no Brasil e em Portugal. O trabalho minucioso foi considerado tão perfeito que mesmo pessoas que conheceram Piaf se espantaram com o nível de semelhança.
Com o espetáculo, Bibi conquistou os principais prêmios do teatro nacional, como Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello. Foram apenas alguns dos muitos prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.
TV
Em 1960, Bibi inaugurou a TV Excelsior com o programa ao vivo "Brasil 60", que levou à TV os maiores nomes do teatro. A atração mudaria de nome nos anos seguintes ("Brasil 61", depois "Brasil 62" e assim por diante).
Bibi Ferreira com o pai, Procópio Ferreira, em 1978 — Foto: TV Globo
Na mesma emissora, também apresentou o programa "Bibi sempre aos domingos". Em 1968, estrelou o musical "Bibi ao vivo" – com direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da Urca.
Musicais
Ainda nos anos 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais mais marcantes de sua carreira. O primeiro foi "Minha querida dama" ("My fair lady"), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de "Pigmaleão", de George Bernard Shaw. No espetáculo, atuou ao lado de Paulo Autran (1922-2007) e Jaime Costa (1897-1967).
A atriz Bibi Ferreira na década de 1950 — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
O outro trabalho marcante foi "Alô, Dolly!" (Hello, Dolly!), versão da obra "The matcmaker", de Thornton Wilder, com Hilton Prado e Lísia Demoro.
Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de "O homem de La Mancha", musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.
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