O militante palestino Nabeel Sweety e o israelense Yitzhak Frankenthal participaram de uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir com membros da sociedade civil brasileira, incluindo representantes das religiões judaica e muçulmana, alternativas para solucionar o conflito no Oriente Médio; Sweety teve uma irmão morta por soldados israelenses enquanto Frankenthal teve um filho sequestrado e morto por militantes do Hamas; no lugar do ódio, ambos optaram por pedir paz para uma das regiões mais conflagradas do planeta
30 DE ABRIL DE 2015 ÀS 10:24
Opera Mundi - O palestino Nabeel Sweety tem 48 anos de idade. Aos 27, perdeu a irmã mais velha, Siham, assassinada pelo Exército israelense enquanto fazia compras em mercado na cidade de Ramallah, em 1994. Mesmo ano em que o israelense Yitzhak Frankenthal, hoje com 63, teve seu filho primogênito, Arik, sequestrado e morto por membros do grupo palestino Hamas.
Desde o ano em que enfrentaram a dura perda de parentes próximos no emblemático conflito, ambos assumiram um compromisso com a paz e militam, juntos, pelo fim da ocupação israelense e pela criação de um Estado nacional palestino. "Não pensamos em vingança, mas em dialogar", repetem.
Sweety e Frankenthal estiveram de passagem por São Paulo nesta semana, onde participaram de uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na terça-feira (28/04), protagonizaram uma rodada de conversa com membros da sociedade civil brasileira — entre os quais havia representantes das religiões judaica e muçulmana no Brasil — e debateram alternativas para solucionar o conflito no Oriente Médio.
Carta a Rabin
"Percebi que perdi meu filho apenas porque não havia paz", diz Frankenthal, sionista judeu de orientação ortodoxa. Após a morte de Arik, decidiu abandonar suas funções como empresário em Israel e assumir integralmente o compromisso com o ativismo pacifista. Em 2005, fundou um instituto que leva o nome do filho vítima do conflito.
Em 1994, quando Arik foi assassinado pelo Hamas, Frankenthal enviou uma carta ao então primeiro-ministro do país, Yitzhak Rabin. Não pedia violência contra os palestinos nem criticava o premiê por estabelecer diálogo com os árabes — no ano anterior, Rabin, protagonizava o histórico aperto de mão com o líder palestino Yasser Arafat, motivo pelo qual receberia tanto o Nobel da Paz quanto um tiro fatal de um israelense ultranacionalista que se opunha às conversas.
Na carta a Rabin, Frankenthal pediu o fim da ocupação ilegal e a criação de um Estado palestino. Pelo ineditismo do discurso de alguém cuja perda de um filho parecia significar a indisposição natural a qualquer tipo de diálogo, o premiê se emocionou. "Rabin veio nos visitar. E depois nos convidou a ir a Oslo [capital norueguesa onde foram iniciadas as conversas entre o governo israelense e a Autoridade Nacional Palestina]", conta Frankenthal. "Foi lá que conheci Arafat. Depois disso, nos encontramos dezenas de vezes", diz. Tinha início, então, sua trajetória como pacifista e ativista.
Assédio diário
O percurso de Nabeel Sweety é semelhante. Anos de assédio diário pelas forças israelenses encontraram o ápice em junho de 1994, quando soldados entraram em um mercado em Ramallah "atirando irresponsavelmente contra a multidão à queima-roupa".
"Percebi que vingar a morte da minha irmã não a traria de volta à vida. Apenas causaria mais derramamento de sangue", conta Sweety. O palestino diz buscar "promover a reconciliação e a paz" porque é o único jeito de pôr fim à ocupação, que obrigou, para além do luto fraterno, a mudar-se com a família diversas vezes por não suportar o assédio das forças de segurança e o tratamento desigual dado por repartições públicas — previdência social, assistência médica e educação, por exemplo.
Agora, "concentra toda a sua energia" na manutenção do diálogo, e atua no mesmo Instituto Arik de Reconciliação, Tolerância e Paz, que leva o nome do filho do colega israelense.