Quando a estudante Melissa de Oliveira, 18, acompanhada do engenheiro civil Antônio Souza, 27, viu a placa “estacionamento por nossa conta” no fast-food Rock & Ribs, no Shopping Salvador, correu para ver o cardápio. “É uma boa forma de atrair o cliente, todo mundo que vem ao shopping comprar está descontente com a cobrança”, afirmou Melissa.
A Rock & Ribs não está sozinha. Várias lojas em shoppings estão começando a criar promoções para atrair o cliente que tem evitado os estabelecimentos desde o último dia 22, quando o estacionamento começou a ser cobrado.
“Temos apenas quatro meses funcionando e já percebemos que com a cobrança haveria uma queda, tivemos necessidade de cortes de pessoal (duas demissões), a queda de faturamento chega a uns 40%”, explicou Vitor Lisa, proprietária da Rock & Ribs.
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Loja Rock & Ribs, no Salvador Shopping, paga estacionamento de cliente que consumir acima de R$ 60 (Foto: Marina Silva)
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Na loja, a cada compra acima de R$ 60, o cliente tem R$ 6 de desconto — não precisa nem mostrar o tíquete do estacionamento. “Não temos nenhuma vinculação com o estacionamento do shopping, praticamos o desconto para o cliente na hora da compra aqui”, explica.A loja Limits, também no Shopping Salvador, está praticando descontos no valor das duas primeiras horas do estacionamento. A proprietária da loja, Du Botelho, conta que adotou a estratégia após uma perda de 15% no faturamento. “Depois de dezembro, que é um bom mês para o comércio, nossa maior expectativa é para o mês de junho, que esse ano foi fraco, com os boicotes propostos nas redes sociais e a ida de muitos clientes para o Shopping Bela Vista (que, segundo a assessoria do estabelecimento, ainda não tem data para começar a cobrança). Perdemos o São João e julho também já estava ameaçado”, afirma.
A empresária usou as redes sociais e o cadastro de email do banco de clientes dela para anunciar a promoção. A loja, de moda masculina, concede desconto de R$ 6 para as compras acima de R$ 200.
“O cliente ainda tem os descontos do Liquida Bahia. A gente tem buscado formas de trazer novamente os clientes para o shopping. Tive acesso a uma pesquisa que confirmou uma perda de faturamento de até 30% nos primeiros meses de cobrança em shoppings de outras cidades. É um momento de adaptação”, comenta Du. A empresária, no entanto, ressalta que é favorável à cobrança, considerando que ela inibe o uso considerado indevido dos estacionamentos, mas acredita que o valor pode ser discutido.
Cristiana Souza, gerente da franquia Mundo Verde no Salvador Norte, foi pioneira da ideia no centro comercial e começou a oferecer o desconto de 5% no valor das compras desde o início da cobrança no final de junho. Na loja, a cada R$ 50 são abatidos R$ 2,50. “Nossos clientes elogiaram muito”, afirma.
No Shopping da Bahia, a loja de eletroeletrônicos Guaibim também adotou o benefício para os seus clientes, mas com uma diferença: acima de R$ 300, o cliente recebe na mão os R$ 6 referentes a duas horas de estacionamento.
O gerente Robson Santos comemora o aumento na clientela. “Na primeira semana da cobrança de estacionamento, tivemos uma queda de 12% nas vendas, mas conseguimos recuperar 10% após o benefício”, explicou.
Marketing
A Associação Brasileira dos Shopping Centers (Abrasce) afirma que cada loja está livre para agir como preferir. “Para a Abrasce não existe nenhum impedimento, é livre arbítrio. O que acontece aqui é reflexo do que acontece em outros estados: o lojista decidiu pagar a título de marketing”, comentou Edson Piaggio, coordenador regional da Abrasce.
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) também apoia a iniciativa. O presidente Frutos Dias Neto afirma que era natural ações como esta começarem a acontecer na capital após a cobrança. “Reconhecemos o direito do shopping de cobrar o estacionamento, pois havia uso abusivo dos espaços, mas apoiamos a iniciativa destas lojas de conceder benefícios”, afirma.
Centro
Vice-presidente da Associação de Lojistas do Center Lapa (Alcel), Silvio Mayan não descarta a possibilidade de que, futuramente, os shoppings do Centro também iniciem formas de atrair novos clientes com promoções pontuais, que podem atrelar descontos ou isenção na cobrança em determinados períodos ou como forma de fidelização para clientes.
“No momento, é muito cedo ainda para se pensar nessas promoções ou para sentir o movimento, mas os shoppings do Centro têm características diferentes. Eles foram construídos há mais de 19 anos, quando ainda não havia uma exigência de vagas proporcionais ao tamanho do estabelecimento, o que gerou na verdade um déficit de vagas”, explicou Silvio Mayan.