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domingo, 12 de julho de 2015

Brasileiro vai a vilas do Nepal para documentar reconstrução do país

Fotógrafo Rafael Saes andou por 12 dias no país destruído por terremoto.
Ele conviveu com os locais para retratar como o país tenta se reerguer.

Erick GimenesDo G1 PR
Menino nepalês faz saudação 'namastê', reverência típica (Foto: Rafael Saes/Divulgação)Menino nepalês faz saudação 'namastê', reverência local (Foto: Rafael Saes/Divulgação)
Como falar sobre gente em um país coberto por escombros, reconstruções, vacas sem dono, luto? De que jeito pedir licença para bater uma foto de rostos que, há menos de três meses, inevitavelmente expressavam medo e desamparo? O fotógrafo paranaense Rafael Saes, de 28 anos, aceitou o desafio de retratar como os moradores do Nepal, país atingido por um devastador terremoto em 25 de abril, tentam se reerguer.
Os tremores deixaram mais de 8,5 mil pessoas mortas e outras milhares feridas, de acordo com as autoridades locais. É o desastre mais fatal registrado no país. Muito das ruínas, relata o documentarista, ainda está empilhado pelas ruas.
A viagem do brasileiro durou 12 dias (veja vídeo dos bastidores). Atrás de quem sofreu com a tragédia, ele caminhou pela capital, Catmandu, e por vilarejos enfiados aos pés da Cordilheira do Himalaia. Precisou da ajuda de um nepalês para se comunicar e entender o cotidiano dos locais. A ideia era, segundo ele, imergir no universo daquele povo, antes de fazer as fotos. (Veja algumas imagens na galeria)
"Para fazer as fotos, eu convivia com as pessoas antes. Um ponto chave é que um nativo, de confiança deles, estava nos guiando, traduzia tudo na língua deles. Sem ele, ficaria muito difícil. Mesmo assim, víamos olhares receosos, crianças assustadas. Tinha gente lá que havia visto 'gente branca' duas, três vezes", conta Saes sobre um dos vilarejos que visitou.
O nativo era Pemba Sherpa, montanhista e guia turístico renomado pelo seu conhecimento sobre o Monte Everest, cujo pico ele já alcançou várias vezes. Ao paranaense, o nepalês contou que era a primeira vez que um brasileiro pisava na vila em que nasceu, chamada Patle. O local só é acessível depois de vencidos 200 quilômetros de estrada com chão ruim e mais 30 quilômetros de caminhada.
Retirada dos entulhos em Catamandu, na capital, é feita manualmente (Foto: Rafael Saes/Divulgação)Retirada dos entulhos em Catmandu, a capital, é feita manualmente (Foto: Rafael Saes/Divulgação)
No país de 28 milhões de habitantes, mais de 8 milhões foram afetados pela tragédia. Uma porção deles não tem mais teto ou documentos para apresentar, de acordo com Saes. Sobrevivem apenas com a ajuda de doações, que (quando chegam) vêm de toda a parte do mundo.
Em uma das vilas nepalesas, o brasileiro lembra que não havia nem banheiro para usar. "Faça onde quiser, mas sem que ninguém veja", disse a ele um dos locais. Mesmo assim, diz o fotógrafo, a recepção era calorosa, fosse em vilas remotas ou na região central da capital.
"Em uma das visitas, dormi na casa de um casal, com três ou quatro filhos, para entender melhor a realidade deles. Eles davam o melhor lugar da casa para a gente, sempre. Na ocasião, a família dormiu na cozinha para que ficássemos no quarto", afirma.
O cenário nas ruas era de guerra, compara o fotógrafo. Muito prédio sendo reconstruído, muito desemprego (e, por consequência, pessoas ociosas), muita casa no chão. Ficou na memória do brasileiro a fala de um homem, de cerca de 40 anos, sobre seu lar: "Trabalhei a vida toda para construir minha casa. Vivi para isso. Quando acabei, o terremoto veio e destruiu tudo".
Crianças de uma escola na Vila Patle, um dos locais afetados pelo terremoto (Foto: Rafael Saes/Divulgação)Crianças de uma escola na Vila Patle, um dos locais afetados pelo terremoto (Foto: Rafael Saes/Divulgação)
Ao fim da viagem, ficaram mais de mil fotos documentadas, divulgadas aos poucos por meio doInstagram de Saes. Além de retratos, ele diz ter trazido a lição de que sempre é possível ajudar.
"Não que o Brasil não tenha problemas. Claro que tem, mas você começa a imaginar a quantidade de gente, ali [no Nepal], que perdeu pai, mãe, filho, casa. Observando o que eles estão passando, não dá para ficar parado. Sempre tem alguma forma de ajudar, mesmo de longe".
Na bagagem, também veio mais vontade de ajudar pessoas, afirma. "O que eu sei fazer? Fotografar. É com isso que quero impactar as pessoas, socialmente. A ideia é fazer com que as fotos cheguem ao maior número de pessoas e crie nelas a vontade de ajudar outras. Que seja o vizinho, que seja no próprio bairro. Quando as pessoas saírem da zona de conforto, o mundo vai ficar melhor".
Rafael Saes abraça menina nepalesa (Foto: Lucas Emmanuel Rodrigues/Arquivo pessoal)Rafael Saes abraça menina nepalesa (Foto: Lucas Emmanuel Rodrigues/Arquivo pessoal)
A missão
Rafael Saes foi para o Nepal junto com uma missão para doação de roupas a crianças, a convite de outro paranaense, o empresário Lucas Emmanuel Rodrigues. A ideia era levar uniformes para escolas de regiões destruídas pelo fenômeno.
Rodrigues conta que fez o convite ao documentarista porque "sabia que ele seria tocado". "O trabalho ficou incrível. Acho que para o Rafa foi algo que nem ele imaginava. Me agregou muito. Teria sido muito diferente e causado menos atenção se eu tivesse ido sozinho".
Especializado em missões humanitárias, Rodrigues também afirma que ficou impressionado com a recepção dos nepaleses aos dois brasileiros. Ele diz que uma cena de gratidão dos asiáticos ficou guardada em sua memória.
"Eu estava com uns 30 kathas (um lenço dado sempre em agradecimento ou boas-vindas) em volta do pescoço. Todos me olhavam atentamente. Fiquei arrepiado com a situação, me emocionei e o que eu pensei no momento me marcou. 'Olha onde eu estou, no meio do nada. Eles estão dando valor nesse uniforme, da mesma maneira que eu. Estão entendendo a importância e me abraçando com esses olhares'. Acho que nunca vou me esquecer desse momento".
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Litoral sul da Bahia: como chegar, o que visitar, o que fazer

Além das praias com visual paradisíaco, região tem atrativos históricos.
Porto Seguro, Arraial d’Ajuda e Trancoso integram roteiro de até 5 dias.

Do G1 BA
porto seguro (Foto: Prefeitura de Porto Seguro/Divulgação)Porto Seguro se destaca pelas belas praias que possui (Foto: Prefeitura de Porto Seguro/Divulgação)
O Litoral Sul da Bahia é famoso pela beleza de suas praias, mas tem várias outas opções de lazer,  como a visita a museus e a pontos importantes da história do Brasil. Porto Seguro é o ponto de partida para explorar a região. De lá, é possível chegar a distritos vizinhos e também famosos pelas suas praias, como Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva.
Além disso, Porto Seguro está perto de outras cidades que também se destacam pelo turismo, como Santa Cruz Cabrália. O G1 apresenta abaixo  as atrações turísticas da região sul da Bahia num roteiro de até 5 dias.
Cidade Histórica em Porto Seguro, na Bahia (Foto: Divulgação/ Prefeitura dePorto Seguro)Cidade Histórica em Porto Seguro, na Bahia
(Foto: Divulgação/ Prefeitura dePorto Seguro)
Dia 1 - passeio na Cidade Histórica, em Porto Seguro
A antiga Vila de Nossa Senhora da Pena de Porto Seguro também chamada de Cidade Alta ou Cidade Histórica possui casas e igrejas dos séculos XVI ao XVIII. Todo o conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que não permite a circulação de veículos.
Na Cidade Histórica, os turistas poderão visitar o Marco Padrão de Posse (1503), as igrejas de Nossa Senhora da Misericórdia (1526), Nossa Senhora da Pena (1535), Nossa Senhora do Rosário (1549) e a Casa de Câmara, além da Cadeia (1772), onde funciona o Museu de Porto Seguro. A visita em toda cidade histórica é gratuita e dura cerca de uma hora.
Depois do passeio na Cidade Histórica, os turistas podem visitar o Memorial da Epopeia do Descobrimento, também em Porto Seguro. No local, os visitantes podem apreciar atrações teatrais, um jardim botânico com 20 mil m², a réplica da nau Capitania que trouxe Pedro Álvares Cabral e sua tripulação ao Brasil - com 30 metros de comprimento, 8 de largura e 7 de altura -, além de uma "Exposição Didática", com informações sobre o Brasil e Portugal.
Réplica da Nau de Cabral está localizada no Museu da Epopeia do Descobrimento, em Porto Seguro (Foto: Divulgação)Réplica da Nau de Cabral está localizada no Museu
da Epopeia do Descobrimento, em Porto Seguro
(Foto: Divulgação)
A visita, que dura cerca de uma hora, pode ser feita de segunda a sábado das 8h30 às 12h30 e das 13h30 à 17h. A entrada custa R$ 35.
Distante 23 quilômetros de Porto Seguro, está Coroa Vermelha, que pertence ao município de Santa Cruz Cabrália e é considerada ponto de desembarque da expedição de Pedro Álvares Cabral quando chegou ao Brasil e também cenário da primeira missa rezada no Brasil. As praias de Coroa Vermelha possuem águas rasas e areias brancas. Santa Cruz Cabrália também abriga uma Reserva Indígena da Tribo Pataxó. O local possui lojas indígenas e a visita não é paga. O passeio dura, em média, duas horas.
Quem está hospedado no centro de Porto Seguro consegue fazer a visita a pé, tanto para a Cidade Histórica, quanto ao memorial. Já para chegar a Coroa Vermelha, é preciso um veículo. Também há ônibus que levam aos destinos dos passeios.
Contudo, os interessados podem também procurar uma agência de viagem na Avenida 22 de Abril, no centro da cidade, e organizar a ida a Coroa Vermelha de van. Há ainda a opção de fechar um pacote para o passeio, intitulado "rota do descobrimento", que custa, em média, R$ 60. Todos os passeios citados podem ser feitos durante um dia.
Dia 2 - Praia de Taperapuan
Situada em Porto Seguro, o local possui as principais barracas de praia da cidade, com atrações musicais e interação de dança com o público. Algumas barracas possuem taxa de consumação mínima, ou seja, para sentar nas mesas é necessário pegar um valor estipulado pelo estabelecimento,  que varia de R$ 30 a R$ 50.
Borboletário em Porto Seguro, na Bahia (Foto: Divulgação)A estufa, um dos espaços do borboletário em
Porto Seguro, na Bahia (Foto: Divulgação)
Borboletário
O espaço funciona na Fazenda Asas Mágicas, localizada no quilômetro 57 da BR-367, ainda no território da cidade de Porto Seguro. Os turistas podem optar por uma agência de viagem do centro da cidade ou ir por conta própria. De ônibus, é necessário pegar o veículo no terminal rodoviário de Porto Seguro com destino a Eunápolis e pedir ao motorista para ficar no bairro Beira Cruz, localizado próximo à rodovia. Para conhecer o borboletário são necessárias cerca de três horas. O ônibus para Eunápolis custa R$ 12. O espaço pode ser visitado de quarta a domingo, das 9h às 16h. Os ingressos variam de R$ 15 a R$ 40. Crianças até 7 anos não pagam.
A Passarela do Descobrimento é um dos destaques turísticos de Porto Seguro e está localizada no centro da cidade. A região é composta por bares, restaurantes, butiques e lojas, além de antigos armazéns e casas de pescadores que possuem cores vibrantes. Diversas barracas que vendem souvenires, bijuterias, bebidas e lembranças da cidade começam a ser montadas às 16h e são recolhidas à 0h. O melhor período de visita ao local é à noite por conta das barracas e das atrações musicais que se apresentam no local. O acesso à passarela é gratuito. Todos os passeios citados também podem ser feitos durante um dia.
Arraial d'Ajuda é um distrito de Porto Seguro que também é um grande ponto turístico da região sul do estado   (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)Arraial d'Ajuda é um distrito de Porto Seguro que também é um grande ponto turístico da região sul do estado (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)
Dia 3 - Arraial da Ajuda
Quem está em Porto Seguro e deseja ir para Arraial d’Ajuda é só pegar uma balsa. A viagem dura cerca de 10 minutos e custa R$ 1,80 para pedestres e R$ 11 para carros. O sistema de transporte funciona 24 horas e tem saídas a cada 30 minutos. Depois das 22h, as saídas são a cada 45 minutos.
Ao chegar a Arraial, os turistas que queiram fazer passeios nas praias podem ir andando ou pegar uma van que custa entre R$ 4. Rico em belezas naturais, o local tem 20 quilômetros de praias com águas mornas e transparentes, entrelaçadas de rios e com a presença de coqueirais e falésias. O passeio pode durar o dia inteiro, a escolha é do turista.
trancoso (Foto: TV Globo)Trancoso possui praia de águas azuis
(Foto: TV Globo)
Dia 4 - Trancoso
Trancoso é um distrito de Porto Seguro que foi fundado em 1586 e em 1759 foi elevado à categoria de vila. É originário de uma antiga aldeia jesuíta chamada São João Batista dos Índios.
No centro de Trancoso, a Praça São João - local mais conhecido como "Quadrado" - é o principal ponto de encontro entre nativos e turistas. No centro do espaço, fica a Igreja de São João Batista dos Índios. Nas laterais, casinhas coloridas abrigam bares, restaurantes, pousadas e boutiques. Ao fundo, um mirante proporciona aos visitantes uma bela visão da praia de águas azuis que cerca a região. O distrito é conhecido pela tranquilidade.
Para chegar a Trancoso é necessário atravessar com a balsa até Arraial d’Ajuda e depois pegar uma van para Trancoso, que custa R$ 4. O passeio também pode durar o dia inteiro, a escolha é do turista.
Já para quem deseja contemplar o período de reprodução das baleias jubarte, há um passeio onde o barco fica ancorado ao sul de Porto Seguro em direção a Trancoso. Não é aconselhável que as pessoas desçam da embarcação para tomar banho de mar, pois isso pode atrapalhar o momento de reprodução dos animais.
O passeio para ver as baleias pode ser feito anualmente no período de julho até meados de outubro, quando as baleias vindas da Antártica escolhem as águas mornas do litoral sul da Bahia para se reproduzirem.
Para esta visita, é necessário ir de barco e agendar o passeio com uma agência de viagem em Porto Seguro, que custa em média R$ 80 por pessoa. O passeio dura oito horas. Ou seja, quem optar por ele, não poderá visitar detalhadamente as praias de Trancoso e irá apenas avistá-las do barco.       
Imagem aérea de Caraíva, na Bahia (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)Imagem aérea de Caraíva, na Bahia
(Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)
Dia 5 - Caraíva
Escondida em uma península no sul da Bahia, Caraíva está localizada a cerca de 82 quilômetros de Porto Seguro. É um destino para quem procura relaxar.
Caraíva é uma vila de pescadores com ruas de areia e, para chegar lá, é necessário fechar um passeio com uma agência ou ir de carro. Os turistas devem atravessar a balsa para Arraial d’Ajuda, seguir pela estrada asfaltada até o trevo de Trancoso e de lá pegar estrada de terra até chegar em Caraíva.
O distrito que pertence a Porto Seguro tem uma pequena parte de "terra firme", mas a vila onde estão as casas e pousadas fica do lado oposto de um rio e, para chegar, é necessário atravessá-lo. No local da travessia há um estacionamento que custa entre R$ 5 e R$ 10, a depender da estação (verão é alta temporada). Todos devem deixar seus veículos no estacionamento e seguir para a vila de pescadores de Caraíva em uma canoa.
A excursão através de uma agência de viagem custa em média R$ 70. O passeio dura o dia inteiro. Quem desejar pode ficar hospedado no local e voltar a Porto Seguro no dia seguinte. A diária nos hotéis e pousadas de Caraíva custa em média R$ 260 (hotel) e R$135 (pousada).
Caraíva está localizada a cerca de 82 quilômetros de Porto Seguro e é um destino para quem procura relaxar. (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)Caraíva está localizada a cerca de 82 quilômetros de Porto Seguro e é um destino para quem procura relaxar. (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Porto Seguro)

Dicas do G1
- Os  pontos turísticos são um pouco distantes um do outro. A cidade oferece ônibus, mas no centro da cidade, na Avenida 22 de Abril, tem táxis e vans que prestam serviços para turistas.
- Observe se há exigência de consumação mínima nas barracas da praia e se informe do valor.
- Quem deseja ir para Caraíva de carro é bom evitar pegar estrada à noite porque não há sinalização em alguns pontos da estrada.
Vale experimentar
A região sul se destaca com pratos à base de peixe, que geralmente são frescos, pescados e servidos no mesmo dia. Entre eles há peixe frito servido na telha, peixe na palha de bananeira e caldos variados como sururu e camarão, moqueca de camarão e lagosta.

Livro-reportagem faz balanço da fase americana de John Lennon

por Luciano Trigo

Livro-reportagem faz balanço da fase americana de John Lennon

Capa do livro John Lennon em Nova York – Os anos de revolução, do jornalista James A.Mitchell Quando John Lennon foi morar nos Estados Unidos, em agosto de 1971, o republicano Richard Nixon era o presidente, e a sociedade americana parecia viver um certo cansaço da contracultura e do espírito de rebeldia que marcaram a década de 60. Em um cenário de recessão econômica e de incerteza em relação ao futuro, persistiam, porém, as fissuras do corte geracional e comportamental que haviam transformado a América – fissuras ligadas à guerra do Vietnã, aos movimentos pelos direitos civis e defesa das minorias, ao feminismo, à liberação sexual e à difusão da maconha e outras drogas. Por sua vez, Lennon também passava por uma espécie de crise pessoal: queria deixar para trás de vez o período dos Beatles e se engajar em novos projetos, mas isso não era tão fácil em uma terra estranha. “John Lennon em Nova York – Os anos de revolução”, do jornalista James A.Mitchell (Valentina, 248 pgs. R$ 39,90), conta a história dessa fase relativamente pouco explorada da vida de Lennon, quando, em parceria com Yoko Ono, mergulhou no ativismo político, ao mesmo tempo em que consolidava a sua carreira-solo. Sem pretender ser exaustivo, Mitchell constrói uma narrativa saborosa, com base em entrevistas de amigos – como o guitarrista Wayne “Tex” Gabriel, da banda Elephant’s Memory (que aparece na foto com Lennon, em uma sessão de gravação) – e intelectuais e artistas contemporâneos do músico (como a feminista Gloria Steinem), reconstituindo com êxito a conturbada atmosfera cultural, social e política da época.
Associando-se a Jerry Rubin (um dos réus no famoso processo dos “Sete de Chicago”, grupo de ativistas acusados de incitarem protestos violentos durante a convenção democrata de 1968), Abbie Hoffman e outros líderes de um exaurido movimento de resistência ao “sistema”, Lennon logo se engajou em campanhas anti-Nixon, emprestando sua música e sobretudo sua fama a causas variadas. A consequência imediata foi que ele passou a ser vigiado de perto por agentes do FBI e do governo americano, que ameaçava deportá-lo, em uma batalha judicial que durou até 1976, que o autor reconstitui detalhadamente.
John LennonMitchell reconstitui também os processos de criação dos álbuns americanos de Lennon (com exceção do último, “Double Fantasy”), chamando a atenção do leitor para aspectos musicais pouco aparentes de discos que na época receberam uma avaliação modesta ou francamente equivocada da crítica, como “Some time in New York City” e “Mind Games”. Por outro lado, ainda que seja um livro focado em Nova York, seria interessante recapitular o período entre o fim dos Beatles e a mudança para Nova York, o que o autor não faz. Por exemplo, para entender o Lennon “americano”, é importante saber que em 1970, ainda morando em Londres, ele foi à Califórnia para iniciar um tratamento de terapia primal que durou quatro meses – e que ajuda a entender diversas composições suas que lidam com a relação emocional conflituosa que ele tinha com sua mãe. Outro aspecto interessante da psicologia do músico é sua relação ambivalente com os valores burgueses ligados ao sucesso e ao conforto material: “Lennon parecia ter vergonha, dentre outros subprodutos da Beatlemania, de sua riqueza material”, escreve Mitchell. “(Ele) tentava se livrar dos atavios da riqueza e da fama, e ansiava, com igual intensidade, fazer parte de algo mais amplo do que ele mesmo e maior do que os Beatles”. Foi também em 1970 que Lennon conheceu Tariq Ali, que foi entrevistá-lo na Inglaterra e mais tarde seria outra ponte importante com os Estados Unidos.
O autor revela ainda os bastidores de aparições de Lennon em programas de TV americanos – a participação no “Dick Cavett Show” em maio de 1972 despertou considera?vel atenc?a?o por causa da canção “Woman Is the Nigger of the World” – e de sua presença em shows beneficentes, começando com aquele montado para libertar da prisão o ativista anti-Nixon John Sinclair, condenado a dez anos pela posse de dois cigarros de maconha. Dois dias depois de Lennon cantar “Let Him Be, Set Him Free”, um tribunal estadual libertou Sinclair (cenas desse show podem ser vistas no documentário “The US vs John Lennon”, de David Leaf). Esse bem-sucedido engajamento rapidamente transformou Lennon em herói de uma geração em busca de novos ídolos – uma geração de hippies, yippies, radicais e revolucionários que se sentiam órfãos dos anos 60. Ainda que tenha permanecido fiel aos seus ideais até o fim, o próprio Lennon, contudo, acabaria se desiludindo com a real possibilidade de transformar o mundo por meio da participação em protestos e de canções de mensagem pacifista. 

TRECHO: 
“A presença de Lennon em Nova York era uma oportunidade rara que Rubin agarrara com todas as suas forças. Sem grandes expectativas, ligou para a Apple Records e se surpreendeu tanto quanto todo mundo com o fato de Yoko Ono retornar a chamada. O primeiro encontro de Rubin e Hoffman com John e Yoko Rubin foi direto ao ponto, perguntando várias vezes o que exatamente Lennon queria fazer. Participar, disse-lhe Lennon. Queria montar uma banda e tocar, “devolvendo todo o dinheiro às pessoas”; fazer a sua parte no Movimento com a sua música. Disse que pretendia “compor músicas para a revolução” e que esperava levá-las às ruas para, quem sabe, sacudir um pouco as coisas. “Eu quero fazer alguma coisa política, radicalizar as pessoas, essa coisa toda”, disse Lennon. Sua atenção se voltara para os explosivos conflitos políticos e culturais que fermentavam nos Estados Unidos. No começo de 1971, ele dera longas entrevistas à Rolling Stone e ao Red Mole – um jornal underground britânico editado por Tariq Ali. Lennon achava “vergonhoso” não ter participado mais ativamente dos movimentos contra a Guerra do Vietnã e em defesa dos direitos civis. Sentira-se, muitas vezes, dividido entre o mercantilismo do sucesso dos Beatles – “todo mundo tentando nos usar” – e o desejo de insinuar temas mais maduros em suas canções.

Fotos: Divulgação

Haitianos conseguem emprego em confeitaria de chef francês nos Jardins

Chef elogia pontualidade e dedicação dos novos contratados.
Grande sonho dos imigrantes é trazer a família para o Brasil.

Letícia MacedoDo G1 São Paulo
Haitianos trabalham em confeitaria nos Jardins  (Foto: Fabio Tito/ G1)Haitianos trabalham em confeitaria no bairro nobre dos Jardins (Foto: Fábio Tito/ G1)
Macaron, mil folhas, quiches, éclair, creme de confeiteiro e tortas de chocolate passaram a fazer parte do cotidiano de três haitianos que chegaram no mês de maio em São Paulo. Depois da longa e sofrida viagem até o Brasil, eles conseguiram um trabalho em uma padaria nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Falar francês foi um diferencial na hora da seleção.
Haitianos são elogiados pela disposição e pontualidade 1 (Foto: Fábio Tito/ G1)Haitianos são elogiados pela disposição e
pontualidade 1 (Foto: Fábio Tito/ G1)
O chef Fabrice Le Nud, que é francês e se naturalizou brasileiro, estava com dificuldades para encontrar auxiliares de confeiteiro para a unidade da Pâtisserie Douce France, na Alameda Jaú.

“A confeitaria é muito rigorosa exige muita disciplina. Tanto que muitos sabem cozinhar mas poucos são confeiteiros. A mão de obra brasileira não quer se atrelar ao trabalho e ao aprendizado a longo prazo. Eu comparo a confeitaria a tocar piano ou à ginastica artística. Tem que ter amor ao processo de treinamento. E eu não estava encontrando um jovem motivado a quem pudesse ensinar meus conhecimentos”, relata. 

Ele decidiu, então, enviar sua mulher, que é brasileira e fala muito bem francês, à Igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, paróquia no Centro de São Paulo que virou referência para os haitianos recém-chegados que estão em busca de emprego. Com o intermédio da Missão Paz, que orienta os empregadores e os candidatos a um posto de trabalho, só nos primeiros seis meses desse ano 850 imigrantes foram contratados.
Lesli Gabriel, de 37 anos, que chegou doente à capital paulista, recebeu o chamado do padre Paolo Parise para participar do processo seletivo. “Dias depois da minha chegada a São Paulo, o padre falou que tinha vagas na pâtisserie e pediu para eu convidar outros colegas. Eu chamei o Josué, que veio comigo do Haiti, e o François, que a gente encontrou no Acre. E deu certo. Agora eu tenho dois pais em São Paulo: o padre Paolo e o meu patrão”, disse. Os três chegaram a ingressar em universidades.
O empresário elogia a dedicação e o comprometimento de novos empregados. “Até agora não atrasaram e nem trouxeram atestado médico”, afirmou. O patrão diz que a contratação não foi motivada por comoção provocada pelo terremoto de 2010, que deixou 316 mil mortos e comprometeu seriamente a infraestrutura do Haiti.
Arte rotas de haitianos para entrar no Brasil (Foto: Arte/G1)
“Eu não os vejo como vítimas [do terremoto] mas como imigrantes motivados pela situação econômica do Haiti. Meu trabalho social eu faço fora daqui. Aqui eles gozam do mesmo respeito e das mesmas condições de trabalho de um brasileiro. Eu não enxergo neles mão de obra barata e dócil. Aqui a integração é a palavra-chave. Trabalhamos lado a lado. Por ser imigrante, eu não faço diferença”, contou.
Falar francês foi no caso deles um diferencial para conseguir uma vaga de trabalho rapidamente na opinião do chef. “Conversamos em francês, mas digo para eles aprenderem o português lá no curso que acontece na paróquia. Eu já estou aprendendo algumas expressões em criolo [língua falada no Haiti].”
Fabrice diz estimular que os haitianos não trabalhem sempre juntos. “Eu quero que eles se integrem e aprendam o trabalho. O Josué se especializou em rechear as bombinhas e fazer doces. Mais forte, François se especializou em fazer o creme de confeiteiro [que exige vigor para ser batido] e ainda é encarregado dos salgados, quiches, folhados, vol au vent. O Gabriel faz os macarons e descasca as frutas para fazer os sorvetes.”
O chef motiva os jovens aprendizes a se dedicarem a nova profissão. “Eles são otimistas. Eu digo para eles que ter uma profissão fixa e estável vai ajudá-los a melhorar de vida. Eu mesmo viajei para África, Ásia e para as Américas, além da Europa”, observou.

Eles ainda não receberam o primeiro salário e continuam dormindo na Casa do Migrante, mantida pela Missão Paz. Eles pretendem alugar uma casa para morar juntos enquanto guardam dinheiro para enviar para a família. "O padre nos orientou a dar comida para eles e não o dinheiro. Se não, eles guardam o dinheiro e ficam sem comer", contou o chef.  
Gabriel espera trazer a mulher, o filho e a mãe para o Brasil 2 (Foto: Fábio Tito/ G1)Gabriel espera trazer a mulher, o filho e a mãe
para o Brasil  (Foto: Fábio Tito/ G1)
Escapou do terremoto
Gabriel trabalhava em um escritório contábil em Porto Príncipe até 12 de janeiro de 2010 quando o terremoto de magnitude 7 destruiu a cidade. “Eu saí do escritório uns 30 minutos antes do tremor. O prédio ficou complemente destruído. O meu patrão ainda estava lá, foi soterrado e morreu”, contou.
Além de 316 mil mortos, cerca de 1,5 milhão de pessoas ficaram desabrigadas no país e as ruas ficaram repletas de destroços de edificações desmoronadas. Depois do abalo, Gabriel se lançou em busca de uma nova fonte de renda. “Eu fiquei como um nômade. Passamos necessidades. Está impossível de viver lá”, conta.

“Minha ideia é ficar no Brasil. Se eu tiver dinheiro, eu quero trazer minha mulher e meu filho. Também queria trazer minha mãe. Não consigo viver longe da minha mãe”, conta. 
Josué se especializa em doces (Foto: Fábio Tito/ G1)Josué se especializa em doces
(Foto: Fábio Tito/ G1)
Trazer a família
Josué Valère, também de 37 anos, deixou dois filhos, de 6 e de 1 ano, no Haiti. Ele trabalhava em um banco. A cidade de onde ele veio Cap. Haïtien não foi atingida pelo tremor, mas o impacto econômico tornou a situação insustentável. “Eu perdi o trabalho no banco. Como não achava outro, eu peguei dinheiro emprestado com uma prima que mora em Miami para pagar a viagem”, lembra.
Apesar dos contratempos e do medo de ser roubado durante a viagem, ele se diz contente. “O Brasil abriu as portas para que eu viva mais à vontade. Eu não quero escolher emprego. Eu quero trabalhar duro para trazer minha família para cá”, afirma. 
François comprou um caderno para anotar receitas (Foto: Fábio Tito/ G1)François comprou um caderno para anotar receitas
(Foto: Fábio Tito/ G1)
Caderninho
Cheime François, de 28 anos, vem de Ville des Gogaïves. Sem condições de financiar os estudos ele deixou a universidade onde fazia o curso de ciências contábeis. A mãe e um tio financiaram as passagens. “Eu não recorri aos coiotes, vim sozinho”, contou. Apesar das dificuldades, ele considera ter sido bem acolhido ao chegar ao Brasil. “Quando a gente chega as pessoas nos dão boas vindas e oferecem café, leite”, afirma.
Pouco falante, François tem se especializado no creme de confeiteiro e aos salgados, como quiche, vol au vent ou croque monsieur. “Eu comprei um caderninho e estou anotando as receitas. Quero aprender tudo direitinho”, conta o segredo para o seu bom desempenho. “Ele tem talento para a confeitaria”, observa Fabrice.
Chef francês trabalha ao lado dos novos contratados (Foto: Fábio Tito/ G1)Chef francês trabalha ao lado dos novos
contratados (Foto: Fábio Tito/ G1)
Retomada
Em maio, o Ministério da Justiça fez um acordo com o governo do Acre e a Prefeitura de São Paulo para que o transporte dos haitianos fosse suspenso. A medida foi tomada para que a administração municipal paulista pudesse organizar a acolhida dos haitianos, que entram no país pela cidade da Basileia, no Acre. Em junho, a vinda de ônibus pagos pelo governo federal foi retomada e a previsão é que a capital paulista receba cerca de 900 haitianos.
Desde 2013, sem recursos ou amigos que pudessem acolher os recém-chegados, centenas dormiram de maneira improvisada no salão da igreja no Glicério. O abrigo improvisado foi desativado recentemente após a abertura de centros de acolhimento da Prefeitura. Um deles fica na região da estação Armênia, na Zona Norte, e tem capacidade para 40 pessoas. O outro, na Penha, tem capacidade para acolher 80 pessoas e é dedicado exclusivamente a mulheres e crianças.
Em junho, o outro avanço foi o início da emissão de carteiras de trabalho pela Prefeitura de São Paulo. Antes dessa mudança, apenas a Superintendência do Ministério do Trabalho emitia o documento, o que obrigava os estrangeiros a esperar até 50 dias para conseguir a carteira de trabalho. A administração municipal não divulgou a estatística de documentos emitidos.

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