Está decidido. Atletas russos poderão vir ao Rio de Janeiro para a Olimpíada desde que consigam provar que estão livres de qualquer substância dopante. Diferente do que recomendou a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu manter a participação da delegação da Rússia nos Jogos, mas mantendo a exclusão do atletismo. Uma decisão extrema poderia afetar diretamente
387 atletas convocados pelo Comitê Olímpico do país (ROC) na última terça-feira. Cada federação deverá entregar uma lista de atletas aptos aos Jogos. A palavra final, no entanto, ainda será do COI, que não esclareceu o procedimento que será tomado em esportes coletivos.
- Nos reunimos para tomar uma decisão muito difícil. Definimos alguns critérios, e atletas limpos vão ter a chance de participar. Eu acho que, dessa maneira, respeitamos os direitos. Não é uma questão sobre expectativas, é sobre fazer justiça diante dos atletas limpos de todo o mundo. Isso respeita as regras da Justiça e o direito de todos os atletas limpos. Acho que isso dá uma mensagem positiva à próxima geração de atletas russos - disse o presidente Thomas Bach, em uma teleconferência neste domingo.
À exceção do atletismo, russos estarão no Rio de Janeiro para a disputa da Olimpíada (Foto: Jim Young / Reuters)
A entidade permitiu a chance de atletas de outros esportes disputarem os Jogos do Rio, mas, para isso, criou uma série de condições. Uma delas é que o atleta não pode ter sofrido nenhuma suspensão por doping anteriormente. Assim, a russa Yulia Efimova, atual campeã mundial nos 100m peito, e os ciclistas Ilnur Zakarin e Olga Zabelinskaya estão inaptos aos Jogos.
Ele precisa estar também de acordo com as exigências do Controle Antidoping, sendo analisado individualmente por sua respectiva federação internacional - o órgão responsável por decidir a aprovação de cada um para disputar os Jogos. Ele estará ainda sujeito a um rígido programa de testes antidoping fora das competições. Bach admitiu a complexidade das medidas às vésperas dos Jogos, mas afirmou acreditar que as federações estarão aptas a entregar os documentos necessários.
- Sei que é complicado (em função do tempo), mas não teve outro jeito. E tivemos que reagir em um período de tempo muito curto. Por outro lado, oferecemos a oportunidade ao atleta de provar sua inocência. Já tivemos indicados nos critérios para consideração. Muitas federações internacionais já estão se esforçando para seguir esses critérios. Acho que vão estar aptos a mandar os documentos necessários nos próximos dias.
O COI também negou o pedido de Yulia Stepanova para competir como atleta neutra. A entidade resolveu seguir a análise do Conselho de Ética, apesar do papel da russa na descoberta do esquema de doping, e negou a possibilidade. A decisão leva em conta o fato de Stepanova só ter feito a denúncia após ficar fora do esquema de doping existente no país. Como já cumpriu suspensão por doping, a atleta não poderia competir nem mesmo pela Rússia, caso fosse "perdoada" pelo país.
- Enquanto é verdade que o testemunho e as declarações públicas da Sra. Stepanova contribuíram para a proteção e a promoção dos atletas limpos, fair play e a integridade e a autenticidade do esporte, as regras do Conselho Olímpico relacionadas à organização dos Jogos Olímpicos contam a favor do status de atleta neutra. No entanto, a sanção à qual ela foi sujeita e as circunstâncias nas quais ela fez a denúncia as práticas de doping que ela mesmo usou, não satisfaz as exigências éticas para que um atleta entre nos Jogos Olímpicos – diz o depoimento do Conselho de Ética.
Thomas Bach, presidente do COI: decisão abre portas para atletas russos nos Jogos (Foto: Reuters)
Após o anúncio, Vitaly Mutko, ministro dos Esportes da Rússia, agradeceu ao COI pela decisão tomada.
- Nós somos agradecidos ao COI por permitir que atletas russos compitam nos Jogos Olímpicos. Eu tenho certeza que a maior parte dos membros do time russo podem atender aos critérios do COI – afirmou.
Na última segunda, o relatório da comissão independente da Wada, feito sob a liderança do professor e advogado esportivo Richard McLaren, confirmou diversas denúncias feitas em maio pelo ex-diretor do laboratório nacional de antidoping da Rússia, Grigory Rodchenkov. Segundo o documento,
foi comprovado que o chamado “método de desaparecimento positivo” havia sido utilizado de 2011 a 2015 com supervisão direta do Ministério do Esporte, com assistência de laboratórios de Moscou e Sochi e de agências governamentais como a FSB, nome atual da antiga agência de espionagem soviética KGB.
Após a divulgação do relatório, o presidente Thomas Bach afirmou se tratar de "um ataque chocante e sem precedentes sobre a integridade do esporte e sobre os Jogos Olímpicos” e que a entidade não hesitaria em tomar as “mais duras sanções disponíveis” contra as partes implicadas. Na terça, o COI anunciou a criação de uma comissão disciplinar para avaliar o assunto com a urgência necessária.
Confira os tópicos exigidos pelo COI:
1. O COI não vai aceitar a entrada de nenhum atleta russo nos Jogos Rio 2016 a não ser que o atleta cumpra as condições abaixo.
2. A entrada será aceita pelo COI apenas se o atleta for capaz de providenciar evidências para satisfação total de sua Federação Internacional (FI) em relação aos seguintes critérios:
• As FIs*, quando estabelecerem sua lista de atletas russos elegíveis, deverão aplicar o código da Wada e outros princípios acordados pelo conselho olímpico (21 de junho de 2016).
• A ausência de um teste anti-doping positivo não pode ser considerado suficiente pelas FIs.
• AS FIS deverão levar um histórico de análises individuais de cada atleta, levando em conta apenas testes internacionais confiáveis, e especificações de cada esporte do atleta e suas regras, para certificar um nível de ação.
• AS FIs deverão examinar as informações contidas no relatório da Comissão Independente e procurar na Wada o nome dos atletas e das Federações Nacionais que estejam implicados. Se ninguém estiver implicado, seja um atleta, um oficial ou uma Federação Nacional, pode ser aceito para a entrada ou o credenciamento para os Jogos Olímpicos.
• As FIs também deverão aplicar suas respectivas regras em relação às sanções das Federações Nacionais.
3. O Comitê Olímpico Russo (ROC) não está permitido a dar entrada de qualquer atleta aos Jogos Olímpicos do Rio 2016 que já tenha sido punido por doping, mesmo que ele ou ela já tenha cumprido a sanção.
4. O COI vai aceitar a entrada pelo (ROC) apenas se a FI do atleta esteja satisfeita que a evidência dada atinja as condições 2 e 3 acima e se for apoiada por um especialista da lista do CAS apontada por um membro do CAS, independente de qualquer organização de esportes envolvidas nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
5. A entrada de qualquer atleta russo aceita em última instância pelo COI será sujeita a um rigoroso programa de testes fora de competição de acordo com a FI e com a Wada. Qualquer impedimento para esse programa vai ser seguida pela exclusão imediata de sua credencial pelo COI.
* A IAAF já estabeleceu suas regras de elegibilidade em relação aos atletas russos.