Em coletiva realizada nesta terça (13), advogada disse que policiais 'estavam instruindo' o rapaz que teria sido ofendido durante confusão em loja de conveniência em Salvador.
Envolvida em uma confusão em uma loja de conveniência de um posto de combustíveis no bairro da Barra, em Salvador, a advogada Eduarda Mercês Gomes nega que tenha cometido crime de injúria racial contra um funcionário do estabelecimento, na noite de domingo (11), logo após ter saído do ato por "Diretas Já”. Ela considera que a denúncia possa ter sido induzida por policiais militares que atuaram no caso.
"A forma como surgiu essa história, por que falaram isso, eu não sei. Sei que quando chegaram na Delegacia de Flagrantes [Central de Flagrantes], eles ficaram do lado dele [do funcionário]. Estavam instruindo ele como falar", afirma.
A declaração foi dada durante a coletiva da advogada à imprensa na tarde desta terça-feira (13), em uma sala de reunião do Centro Empresarial Iguatemi. Ela disse que repudia a denúncia da qual é alvo. "Eu sequer tratei ou discriminei nem ele, nem qualquer outra pessoa, nem policial, nem nenhuma diferença, porque eu faço parte das diferenças. Eu sou negra. Eu considero todos e quem me conhece sabe que eu não falaria uma coisa dessa", afirmou.
Eduarda Gomes também negou que tenha agredido com um tapa um policial militar, conforme divulgado pela corporação. "Eu não agredi a nenhum dos policiais. Eles me empurraram, segurei nos braços de um para não cair e um deles puxou o meu braço. Foi aí que soltei, [disse] solte meu braço. Quando soltei, para me equilibrar, que eu ia cair e atrás tem mesas, foi aí que o policial me deu um chute nas pernas, procedeu a rasteira e eu caí no chão", descreveu. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra a confusão.
A advogada detalha que segurou em um dos braços de um dos policiais para não cair, porque passou por uma cirurgia recentemente para retirada de um tumor de câncer de pele no coro cabeludo e houve complicações nos pontos. "Na segunda-feira [há quase uma semana do fato], que suspendi os remédios. Eu não posso nem pentear o cabelo em cima da ferida, quiçá tomar uma queda e ser agredida da forma que fui".
O advogado de Eduarda Gomes, Roberto João Starteri Sampaio Filho, disse que irá denunciar os policiais envolvidos na ação na 14ª Delegacia Territorial (DT/Barra), como também à Corregedoria da PM, por abuso policial e lesão corporal.
Advogada relata caso
Eduarda conta que chegou ao posto de conveniência do posto de combustíveis por volta das 21h, após ter saído da manifestação a favor de novas eleições, que ocorreu no Farol da Barra. Ela descreve que estava na loja de conveniência do posto de combustíveis, que também fica no bairro, quando um homem chegou ao local querendo usar o banheiro e foi alertado que só clientes poderiam ter acesso ao espaço.
Eduarda conta que o homem teria questionado o fato de outras pessoas terem usado o banheiro sem consumação. Para encerrar a discussão, a advogada disse que fez uma proposta a funcionária. “Se eu comprar algo no estabelecimento, como se dele fosse, ele poderá usar? ‘Pode, pode usar sim’”, disse Eduarda sobre a resposta da funcionária.
A advogada diz que efetuou uma compra e disse a outro funcionário, que estava fazendo a regulação do banheiro, que o rapaz já poderia usar o espaço. “Comprei e disse ao funcionário: ‘Oh, dona Rosa [funcionária que fez o primeiro atendimento] disse que ele já pode usar o banheiro’. E o funcionário disse: ‘Agora quem não quer [que ele use] sou eu’”, disse Eduarda sobre a resposta do funcionário.
Eduarda conta que o funcionário avisou que tinha acionado a polícia. Ela disse que se apresentou aos policiais como advogada e estava tentando mediar a situação. “Um dos policiais que entrou me empurrou. Fui para trás, deixei o que estava na minha mão em cima do balcão, retornei tentando novamente conversar com eles, aí me empurram novamente”, afirma. Ela diz que foi nesse momento que tentou se segurar em dos policiais para não cair, e que depois levou uma rasteira. “O tenente - fiquei sabendo posteriormente o cargo dele - veio com joelhadas para mim. Machucou minha cabeça, minha pélvis, minha barriga, meus seios. Meus pulsos foram machucados devido às algemas, porque eles apertaram bastante”.
A advogada foi conduzida para a Central de Flagrantes, onde disse que o tenente envolvido na operação se negou por diversos momentos a retirar as algemas e que só o fez após pressão da delegada. Após ser liberada, disse que fez exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), além de exames médicos no Hospital Português no dia seguinte.
Versão da PM
Um vídeo publicado nas redes sociais mostra a abordagem de policiais militares. Nas imagens, a mulher cai após ser chutada e, no chão, ela é imobilizada e algemada.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que o vídeo será encaminhado para análise da Corregedoria Geral da PMBA “e, se for detectado excesso por parte dos profissionais, será motivada uma apuração administrativa pelo órgão correcional”.
A polícia ainda defende que a mulher foi conduzida “por estar agressiva e por já ter agredido um dos funcionários do posto de combustível, inclusive com palavras de cunho racista, conforme consignado pela própria vítima em suas declarações no termo circunstanciado registrado na unidade de polícia judiciária”.
A Polícia Militar disse que a advogada deu um tapa em um dos policiais e proferiu "palavras de baixo calão" contra ele. A PM afirma ainda que ela foi contida com o uso de algemas para "preservar sua própria integridade" e, em seguida, levada à Central de Flagrantes. Segundo a assessoria da Polícia Civil, ela foi ouvida e liberada, após ser indiciada. O inquérito será encaminhado para a Delegacia da Barra.
O caso é acompanhado pela Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados da Bahia (OAB-BA). O presidente da comissão, conselheiro Adriano Batista, diz que três membros acompanharam a advogada na Central de Flagrantes, por volta das 22h de domingo, até as 3h de segunda-feira (12), quando ela foi liberada.
Segundo a dona da loja de conveniência, Rosa Ferraz, a confusão começou porque um rapaz que não era cliente queria utilizar o sanitário do estabelecimento e advogada teria intervindo na situação. Rosa afirma que precisa limitar o uso do banheiro para clientes durante eventos que ocorrem na Barra, como o protesto que ocorreu no domingo, por conta de episódios de vandalismo que sofre frequentemente, causando danos na estrutura do sanitário.