Ex-presidente da Casa disse "não ter vocação para marionete" e afirmou que Eduardo Cunha, preso na Lava Jato, ainda exerce forte influência no governo
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) anunciou nesta quarta-feira (28) que está deixando a liderança do partido na Casa. O parlamentar, que é ex-presidente do Senado, acusou o governo do presidente Michel Temer (PMDB) de tratar a legenda como "um departamento do Poder Executivo", de perseguir políticos e de tentar impedir o debate de projetos, como o da reforma trabalhista.
Apesar de ser do mesmo partido de Temer, Renan Calheiros se opõe à atuação do governo. Ele afirmou em discurso na tarde de hoje que a postura do presidente é "é covarde" diante da consolidação do trabalho. “Cabe-nos aceitar a situação ou reagir a ela. De minha parte, não tenho a menor vocação para marionete. O governo não tem credibilidade para conduzir essas reformas exageradas, desproporcionais, que antes de resolver o problema, agravam a questão social.”
O ex-presidente da Casa se disse favorável a reformas que possam recuperar a economia do país, mas criticou a forma como as mudanças são conduzidas. Para ele, a reforma da Previdência é uma proposta para agradar ao sistema financeiro em detrimento dos pobres. Além disso, criticou, o governo tenta impedir o trabalho do Senado de fazer alterações no projeto da reforma trabalhista e quer que o texto seja aprovado exatamente como veio da Câmara dos Deputados.
“Estamos diante da degradação do bicameralismo, com a imposição da vontade de uma Casa à outra, sobretudo quando essa vontade é contrária aos direitos das pessoas mais pobres”, denunciou.
Renan disse que o PMDB sempre foi um partido que conviveu pacificamente com correntes ideológicas diferente em seus quadros. A situação, na sua opinião, mudou e houve a formação de um ambiente de intrigas, provocações, ameaças e retaliações do governo a parlamentares que "não seguem a cartilha governamental". O partido também estaria, de acordo com Renan, se desviando do seu programa, que prevê o compromisso de permanecer ao lado dos trabalhadores.
Eduardo Cunha
Outro ponto duramente criticado pelo ex-líder do PMDB foi a influência do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no governo Temer . Para ele, é um engano achar que Cunha está politicamente morto depois de sua prisão já que o ex-parlamentar tem "total influência no governo", com poder inclusive para nomear ministros e dar ordens de dentro do presídio, "apequenando o presidente".
“Como mudar o pensamento de um governo comandado por Eduardo Cunha, que, mesmo na prisão, seguia influenciando e – os fatos demonstram – até recebendo dinheiro? Até recebendo dinheiro”, atacou o ex-presidente da Casa.
Futuro
O senador classificou como gravíssima a situação econômica do país, com o aprofundamento da crise. Para ele, é preciso trocar a "ferocidade" por "serenidade e liderança". O Parlamento, disse, não deve se apegar a cargos e a situações passageiras de poder, mas sim defender os interesses do Brasil com um projeto que possa promover a retomada de investimentos e restabelecer a credibilidade interna e externa do país.
Renan se disse grato pela colaboração dos integrantes do partido enquanto foi líder e prometeu ajudar o próximo a ocupar o posto.
“Devolver a liderança do partido no Senado e aos meus pares, neste momento, não carrega nem sequer um milímetro de ressentimento. É decorrência da dinâmica política e da minha percepção do momento de passar o bastão para outra companheira ou outro companheiro, que, no que for possível, terá a minha total colaboração”, finalizou Renan Calheiros.
* Com informações da Agência Senado
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