Treinador ressalta desempenho do Brasil contra a linha defensiva de cinco jogadores da Rússia, com 24 finalizações e 13 delas no gol: ''É um dado de interpretação interessante''
Por Alexandre Lozetti, Moscou, Rússia
Avitória por 3 a 0 sobre a Rússia, a primeira sobre um adversário europeu, deixou Tite feliz. Mais do que o resultado, o treinador gostou do desempenho da Seleção contra uma linha defensiva de cinco jogadores. Tanto que fez questão de enaltecer um dado que lhe chamou atenção: o Brasil finalizou 24 vezes, sendo 13 chutes no gol.
- Padrão de finalização quando gira em 40% já me deixa feliz, fizemos mais de 50%, e o goleiro foi muito bem, frio, com muita qualidade.
- Quando você atinge esses números contra uma linha de cinco, é um dado interessante de interpretação do jogo. Mostra um volume de jogo que a posse de bola estabeleceu, que você acertou o gol, teve a chance de criação e conclusão. Fico com essa certeza, essa alegria. Mas continua aberta a concorrência para a Copa do Mundo - frisou o treinador, que chegou a 14 vitórias em 18 jogos no comando da Seleção.
Dos 23 nomes que vão defender o Brasil no Mundial, o treinador já confirmou 16. Faltam sete: um goleiro, um zagueiro, dois laterais, dois meias e um atacante. Nesta sexta-feira, alguns jogadores que disputam vaga foram observados. Casos de Douglas Costa, Fágner, Pedro Geromel, Taison e Fred.
- Saio feliz pelo desempenho. Saio feliz porque enfrentamos uma Rússia que não fez só marcação baixa, mas também agrediu, veio para o embates, por vezes alta numa saída de bola, gerando dificuldades. A equipe manteve o nível de concentração alto, construiu o jogo, nosso modelo, triangula, inverte, trabalha, independentemente dos posicionamentos, contra uma linha de 5.
Na coletiva, Tite esteve acompanhado de seu inseparável auxiliar técnico, Cléber Xavier, que falou sobre a participação da dupla do Barcelona na Seleção.
- Paulinho tem característica própria de aproximação, teve um gol, pênalti, duas chances em cima do goleiro. Ele empresta há muito tempo à equipe, hoje num posicionamento um pouco mais adiantado. Coutinho numa situação nova, um pouco mais adiantado no segundo tempo, mais próximo do que ele pode crescer, no sentido de dar assistência e finalização - disse Cléber.
Confira outros trechos da entrevista
Crescimento no segundo tempo
Os jogos são importantes, era desafiador manter padrão de atuação depois de quatro meses fora, coloquei para os atletas. Alguns jogadores que não executam a mesma função precisam de 15, 20, 30 minutos. O Coutinho por dentro até encontrar o melhor espaço, no segundo tempo deslanchou. A mesma coisa com o Douglas Costa. Sabemos da retomada do Gabriel Jesus ao seu melhor ritmo, ainda não está. A entrada boa do Firmino. Isso dá a possibilidade de utilizar atletas em outros setores, como foi o caso mais específico do Coutinho por dentro.
Importância de Geromel
Entendo a ansiedade em procurar jogadores da Copa, nomes, digo que tudo são oportunidades. O que trouxe Geromel até aqui foi a grande Libertadores e o grande Mundial que ele fez, numa equipe que está bem e o auxilia. Ele é um jogador muito concentrado, a capacidade de treinamento e naturalidade para colocar a camisa da seleção brasileira. Eu conversei com o Douglas quando estive no treinamento do Grêmio, e ele disse "Tu vai jogar contra o Cristiano Ronaldo, ele tem essa característica, outra", e beleza. Sai natural. Isso é maturidade. Vai construindo e concorrendo com os outros todos.
Adversário
Enfrentamos linha de cinco com três médios, um articulador próximo ao atacante e que veio para o embate ofensivo mais do que a Inglaterra. Ele agrediu mais do que a Inglaterra, trouxe mais contundência. A Inglaterra fez um plano baixo e nós neutralizamos o contra-ataque. Estudamos e conseguimos construir, reposicionar atletas em setores importantes. A Seleção não tinha essa experiência. Fizemos o trabalho tático no campo do Fulham, fomos para o jogo, no primeiro tempo estávamos impacientes, eu pedi calma. Para os meias ajustarem com os laterais construtores.
Reencontro com a Alemanha
O jogo de 7x1 é o último jogo e temos naturalidade de saber que vamos enfrentar a Alemanha em Berlim, foi campeã mundial, nos venceu de 7x1 e é uma etapa que passou. Estamos num período de construção e emocionalmente será importante.
Contra a Alemanha, vamos querer jogar futebol, ser competitivos, mentalmente forte, fisicamente bem, colocar uma ideia de jogo. Procuramos impor nossa forma de jogar.
Dificuldade no primeiro tempo
Um detalhe importante. Quando fica com a bola e fica rodando a bola, vai minando o adversário. Daqui a pouco ele baixa a guarda, é inevitável. Fazer desse artifício, que é nossa característica, em determinados momentos tu vai encontrar espaços. O ritmo aplicado é forte. Alguns posicionamentos que não falar, não, estudamos pra caramba (risos). Algumas mudanças que dão essa chegada mais à frente, a proximidade com o Gabriel. Como fazer isso?
Willian e Douglas Costa
O atleta inteligente nas suas funções, intuitivamente começa a encontrar melhores espaços. Eles giraram numa jogada e permaneceram. Eles têm essa liberdade, até para uma recomposição. As jogadas foram boas. Disse para deixar um tempo mais e tirar o marcador de uma zona confortável. Criar essas variações de mudança de lado para que o adversário não fique confortável para marcar. No segundo tempo eles retomaram porque ajustamos o posicionamento dos meias.
Pressão
A minha pressão de fazer da minha atividade profissional o mais dignamente possível, competente e humana dentro do esporte, e que o esporte seja um meio de educação. A responsabilidade social é muito maior que o esporte, ela lida com vidas.
Escanteio ensaiado
Fernando, Matheus e Thomaz trazem tudo mascado, o posicionamento, onde podemos mexer, os posicionamentos que executam nas suas equipes. Foi ensaiado sim naqueles momentos de variação, em cima do posicionamento do adversário e das nossas características.
Coutinho
Ele joga muito, de externo, flutuando, por dentro, é um jogador educado e competitivo. Dá pra ser competitivo, forte, e ser educado ao mesmo tempo. Ele é um exemplo próprio. Às vezes as pessoas confundem que o educado não é competitivo. Ele pode executar outra função com naturalidade.
Alisson
Tenho que enaltecer e falar que temos situações de infiltrações, o adversário teve um número grande de finalizações, apesar de serem pressionadas, e aí a possibilidade de erro ou defesa do Alisson é um pouco maior. Temos que ajustar. Não vou falar de estratégia para o jogo contra a Alemanha. A Rússia procurou nos agredir.