O ex-aluno de ciências exatas da Universidade de São Paulo
(USP) de 23 anos, que agrediu um estudante e fez quatro disparos em um
alojamento do campus São Carlos (SP) no dia 28 de agosto, se entregou à
Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (11). A prisão temporária de
Alexandre José Coutinho da Rocha Lima foi decretada pela Justiça no
último dia 2 e, até então, ele estava foragido. Ele disse ao
G1 que
o bullying que sofria na universidade motivou o ataque.
O rapaz compareceu ao 3º
Distrito Policial,
que investiga o caso, acompanhado de um advogado. Ele entregou a arma
usada para efetuar os disparos, que na ocasião não atingiram ninguém.
Após prestar depoimento, ele foi levado para o
Centro de Triagem de
São Carlos. O período da prisão temporária é de
cinco dias
e pode ser prorrogado por mais 30 dias. O advogado de Lima não foi
encontrado para comentar a prisão. A Polícia Civil ainda não se
pronunciou.
Em uma das entrevistas que concedeu ao
G1 no início
deste mês, o ex-aluno já havia manifestado a intenção de se entregar.
Ele disse ter conversado com algumas pessoas e até com o próprio
advogado, que apontaram essa como a
melhor alternativa.
“Disseram que é melhor do que eu ficar foragido. Eu quero voltar à
minha vida normal e acho que se me entregar e pagar pelo que fiz que
vai ficar mais fácil recomeçar. Pretendo colaborar com a polícia”,
disse na ocasião.
O caso
No dia 28 de agosto, o ex-aluno invadiu o alojamento do campus com
uma arma, agrediu um estudante com coronhadas e fez vários disparos.
Ninguém foi atingido pelos tiros. O suspeito é o rapaz que denunciou
ter sido vítima de um suposto abuso sexual durante um trote com
veteranos, em março.
Segundo testemunhas, o ex-aluno ainda fez disparos que acertaram as
paredes e as janelas do alojamento. Alguns alunos disseram que ele dizia
que queria vingança. Em entrevista exclusiva ao
G1 no
dia 29 de agosto, o ex-aluno do curso de Ciências Exatas disse que
sofre bullying dos estudantes na universidade e na internet há pelo
menos seis meses, desde que denunciou o abuso no trote. Ele afirmou que
foi armado à universidade porque estava com raiva. "Eu estava
totalmente desequilibrado", disse na ocasião.
As aulas da graduação foram suspensas no dia seguinte ao ocorrido e a
ação do ex-calouro deixou muitos estudantes com medo. “Pensei que fosse
morrer, porque ele estava armado e era fácil pegar a gente”, disse um
dos estudantes que estava no alojamento e não quis se identificar.
Os estudantes retornaram ao campus na sexta-feira (30), mas relataram
que a sensação ainda era de insegurança. Desde o ataque, uma viatura
da guarda universitária fica de plantão em frente ao alojamento onde
tudo aconteceu. A universidade reforçou a segurança com a ajuda da
Polícia Militar.
Depressão
O ex-aluno do curso de ciências exatas trancou a matrícula alegando
que sofre bullying, desde a denúncia do assédio, supostamente ocorrido
em março. Ele disse que estava depressivo pelo fato de ter abandonado a
faculdade. “Praticamente, eu me entreguei mesmo. Eu não fazia mais
nada, absolutamente nada. Acordava, dormia e não saía da cama Ficava
ali o dia inteiro. Pedi ajuda várias vezes para a universidade. Pedi
para passar com um médico. Pedi para trocar a minha receita, porque a
médica da outra vez receitou antidepressivo e tudo. Eu pedi para que eu
tivesse esse tipo de suporte, mas eles negaram. Eu estava totalmente
abalado e descontrolado, acabei entrando e fazendo aquilo”, contou.
Disparo atingiu janelas de alojamento no campus
da USP em São Carlos (Foto: Maurício Duch)
Universidade
O estudante acusa a
USP de ter sido
negligente na apuração do suposto abuso sexual. “A universidade deveria
ter tomado alguma providência, afastado essas pessoas pelo menos
enquanto ocorria a sindicância. E não foi feito absolutamente nada”,
declarou.
A assessoria da USP informou que a universidade
ofereceu ao ex-aluno atendimento psicológico e também os auxílios que
dispõe para garantir a permanência dele no curso, mas, mesmo assim, ele
optou por sair da USP.
Ainda de acordo com a assessoria, a sindicância aberta para apurar o
caso da suposta agressão sexual foi concluída e deu origem a um
processo administrativo que está em trâmite na universidade.
Um dia após se entregar à polícia, o ex-aluno da Universidade de
São Paulo
(USP) Alexandre José Coutinho da Rocha Lima deixou o Centro de Triagem
de São Carlos na quinta-feira, beneficiado por um alvará de soltura
expedido pela
Justiça
paulista. Alexandre teve a prisão temporária decretada no dia 3 de
setembro, após invadir o campus de São Carlos da USP e ferir três
pessoas ao efetuar disparos com uma arma de fogo, em agosto.
Alexandre invadiu o alojamento de estudantes da USP em
São Carlos
no dia 28 de agosto e agrediu com coronhadas um dos alunos que estava
no local. Após a agressão, ele efetuou três disparos, que não acertaram
ninguém. No momento dos tiros, outros dois alunos que estavam no
alojamento saíram correndo e acabaram se machucando com vidros quebrados
durante a fuga.
No dia 4 de março, o estudante
envolvido na agressão teria sido vítima de abuso sexual durante o trote
da universidade. Na ocasião, a USP
informou
que o aluno fez a denúncia à universidade e que "todas as ações e
procedimentos pertinentes foram realizados pelos profissionais do setor,
respeitando o
sigilo próprio da atividade".
Ainda por comunicado, a instituição alegou que, "com o registro do
Boletim de Ocorrência e a verificação de algumas incongruências dos relatos, o Presidente do Conselho Gestor do Campus acionou (
no dia 14 de março)
os setores competentes da Universidade para as providências cabíveis ao
caso, tendo como decorrência, em primeira instância, a instauração de
uma sindicância".
Em entrevista ao
Jornal EPTV, o agressor afirmou que efetuou os disparos porque sofria bullying e ameaças de outros
alunos da
USP. "A violência lá dentro da universidade é uma coisa bastante
descarada lá, bastante vulgar. A universidade, ela tem conhecimento
disso e não toma providência, (
é) bastante negligente e (
esse) foi um dos motivos que me fez desistir da universidade. Foi
o bullying e ameaças", afirmou o estudante.
O
jovem afirmou ainda que era vítima de brincadeiras "sem graça" após a
denúncia do suposto abuso. "Eu dei minha opinião lá sobre determinado
assunto, e me disseram assim: 'estupra mas não mata', né? Foi por isso
que eu fui me revoltando, né?"
Ainda segundo o estudante, os
disparos foram efetuados acidentalmente. "Quando eu fui eu não pensei em
atirar, eles que se movimentaram lá de uma forma que me assustou, eu
peguei... Era muita gente, tinha umas quatro, cinco pessoas, então eu me
assustei. (...) Fui dar uma coronhada para me defender e acabou da
forma que eu bati, eu apertei e atirou, né?", relatou.