Ela foi agredida após ser acusada de praticar magia negra com crianças.
Advogado diz que postagem em página de rede social gerou boato.
Familiares e amigos da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que morreu após ser espancada ao ser confundida com uma sequestradora de crianças, em Guarujá, no litoral de São Paulo, disseram que irão até as últimas consequências para punir os culpados pela morte. Segundo a família, ela foi agredida após um boato gerado em uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
O espancamento aconteceu no bairro Morrinhos no início da noite deste sábado (3). A mulher foi amarrada e agredida e, segundo testemunhas, os moradores afirmavam que a mulher havia sequestrado uma criança para realizar trabalhos de magia negra. O caso foi registrado na Delegacia Sede de Guarujá, onde será investigado. Até o momento, ninguém foi preso. A polícia está analisando as imagens da agressão e tenta identificar os envolvidos no caso.
De acordo com familiares de Fabiane, após as agressões, ela sofreu traumatismo craniano e foi internada em estado crítico no Hospital Santo Amaro, também em Guarujá. Minutos após a agressão, a Polícia Militar chegou a isolar o corpo de Fabiane acreditando que ela estava morta após o espancamento. Na manhã desta segunda-feira, porém, a família recebeu a informação de que Fabiane não havia resistido aos ferimentos e morreu.
"Foi uma crueldade. Isso não se faz com uma pessoa. É muita maldade o que fizeram com a minha irmã", lamenta Lediane de Jesus Ribeiro, irmã de Fabiane. Também na porta do hospital, um dos primos dela confirmou a versão de que Fabiane foi agredida depois de boatos na internet. "Tudo começou com um boato. Divulgaram fotos no Facebook, onde várias pessoas têm acesso diariamente. Disseram que essa pessoa da foto parecia com a minha prima, mas não tinha nada a ver com ela. Mesmo que fosse, pela brutalidade que foi feita, não justifica. Mataram ela, deram pauladas, jogaram bicicleta, amarraram, arrastaram. Essas pessoas não podem viver na sociedade. Elas têm que viver excluídas da sociedade, presas, dentro de uma cela", reclama o Eduardo Ribeiro, primo de Fabiane.
O advogado da família da vítima, Airton Sinto, diz que algumas pessoas teriam visto, na página do Facebook 'Guarujá Alerta', o retrato falado de uma mulher que estaria sequestrando crianças em Guarujá e pensaram que se tratava de Fabiane.
Segundo ele, Fabiane não teve tempo de se defender das acusações e agressões. O advogado diz que o autor da página na internet ainda não foi identificado, mas entende que quem fez a postagem foi responsável pelo crime.
"A gente não vai descansar enquanto não houver Justiça em relação aos agressores. A gente precisa levantar o debate em relação à irresponsabilidade das pessoas que divulgam o que quiserem nos sites de relacionamento. Eles arrasaram uma família. Eu tenho certeza que quem administra essa página não tinha intenção de matar uma mulher, mas é responsável na medida de sua culpabilidade. Eu falo dessa página porque tem 50 mil seguidores. Quando ele coloca uma letra, uma vírgula, isso vai para 200, 300 mil pessoas. Em nome da Fabiane, a gente tem que levantar esse debate", afirma.
O G1 entrou em contato com o administrador da página Guarujá Alerta, responsável pela divulgação do material. Segundo o administrador da página, que não quis ser identificado, o Guarujá Alerta sempre alertou os seguidores de que a situação era apenas um boato. O administrador da página assume que publicou um retrato falado semelhante ao da vítima, foto que foi removida algumas horas depois. O administrador afirma que a página vem sendo alvo de perseguição política, já que faz graves denúncias sobre a cidade. O responsável pela página Guarujá Alerta afirma ainda que está aberto para qualquer esclarecimento judicial e se compromete a pedir uma perícia técnica para comprovar que nada foi apagado da página do Facebook.
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