SSP diz que pelo menos mão encontrada em Parque São Bartolomeu é de Geovane.
Mais cedo, depois que a polícia divulgou que o corpo encontrado era de Geovane, o pai dele, Jurandy de Santana, 40 anos, foi até o Instituto Médico Legal (IML)
Pai descobre que filho foi levado por PMs e desapareceu após abordagem.
Pior que a notícia da morte é não ter notícia
nenhuma. “Não durmo e não como direito. É uma angústia muito grande não
saber o que houve de fato com o meu filho”. As palavras são do
comerciante Jurandy Silva de Santana, 40 anos, ontem pela manhã, em mais
uma busca no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML).
Há 11 dias, ele não sabe o paradeiro do filho
Geovane Mascarenhas de Santana, 22, que desapareceu no último dia 2,
depois de ser abordado por policiais militares na Calçada. A única
pista que Jurandy tem é um vídeo, que ele mesmo conseguiu, em que o
filho é colocado no porta-malas de uma viatura da PM.
Nas imagens, o rapaz é abordado, às 16h58 do último
dia 2, por três PMs. Logo na abordagem, mesmo com as mãos atrás da
nuca, Geovane apanha de dois policiais – leva dois tapas e um chute -
enquanto o terceiro aponta uma pistola para sua direção. Geovane é
revistado e, instantes depois, colocado no fundo da viatura. Em seguida,
os policiais deixam o local. Um dos PMs sai pilotando a moto (CG 125
Fan, placa JRB-9929), que até agora também não foi localizada. Toda a
ação dura cinco minutos.
“Tenho certeza que é meu filho ali. Além das
características físicas, altura, a roupa, a moto, têm pessoas que
conhecem a nossa família e viram”, disse Jurandy. A qualidade da imagem
não permite a identificação da Companhia, mas o comerciante disse se
tratar de uma guarnição das Rondas Especiais (Rondesp), citada em duas
ocorrências em que registrou do sumiço do filho na Corregedoria da
Polícia Militar, no dia 4, e no Departamento de Homicídios e Proteção à
Pessoa (DHPP), no dia 9.
Buscas
Ontem pela manhã, o CORREIO acompanhou mais um dia de busca de Jurandy pelo filho. Acompanhado da nora, Jamille Santos de Jesus, ele foi até o local da abordagem policial para saber se alguém sabia de mais alguma coisa. “É duro vir aqui. Se pelo menos deixassem ele em algum lugar...”, dizia o comerciante, quando foi interrompido por um morador da região que diz ter testemunhado um trecho do diálogo entre os PMs e Geovane.
Ontem pela manhã, o CORREIO acompanhou mais um dia de busca de Jurandy pelo filho. Acompanhado da nora, Jamille Santos de Jesus, ele foi até o local da abordagem policial para saber se alguém sabia de mais alguma coisa. “É duro vir aqui. Se pelo menos deixassem ele em algum lugar...”, dizia o comerciante, quando foi interrompido por um morador da região que diz ter testemunhado um trecho do diálogo entre os PMs e Geovane.
“Um policial disse: ‘Se pique, se pique’. Mas o
rapaz não queria ir sem a moto e acabou sendo colocado nos fundos da
viatura”, contou o homem, pedindo anonimato. “A moto está no nome de meu
filho e está em dia”, disse o pai, mostrando o documento do veículo. No
Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e
sobre Drogas (Sinesp) do Ministério da Justiça, o veículo não aparece
como roubado.
ASSISTA A ABORDAGEM DA PM
ASSISTA A ABORDAGEM DA PM
Uma notícia de que o rapaz estaria na Cadeia Pública
levou o pai e a mulher de Geovane ontem ao Complexo Penitenciário da
Mata Escura. “Tenho esperança de encontrá-lo”, disse Jurandy, antes de
entrar no complexo.
Isso mesmo: ver o filho preso, no caso de Jurandy,
seria um alívio. Quarenta e cinco minutos depois, o comerciante e a nora
retornaram. “Nada, mais uma vez”, lamentou ele. No IML, os dois únicos
corpos ignorados no necrotério não eram do filho. “O primeiro usava
cavanhaque, o que meu filho não gostava. O segundo usava um casaco
amarelo, mas Geovane saiu de bermuda estampada azul e camisa preta”,
disse o comerciante.
Meia hora antes de seu desaparecimento, Geovane tinha acabado de lavar a moto comprada pelo pai. “Ele disse que ia ver uns amigos e que à noite sairíamos para dormir fora”, disse a mulher dele, Jamille. Ela contou que já foi a vários hospitais. “O HGE, Roberto Santos, Hospital do Subúrbio e nada. Nossos parentes estão ligando todos os dias para várias unidades médicas. Todos estão mobilizados e desesperados”, disse Jamille. “Sonho com ele todos os dias pedindo ajuda”, contou.
Meia hora antes de seu desaparecimento, Geovane tinha acabado de lavar a moto comprada pelo pai. “Ele disse que ia ver uns amigos e que à noite sairíamos para dormir fora”, disse a mulher dele, Jamille. Ela contou que já foi a vários hospitais. “O HGE, Roberto Santos, Hospital do Subúrbio e nada. Nossos parentes estão ligando todos os dias para várias unidades médicas. Todos estão mobilizados e desesperados”, disse Jamille. “Sonho com ele todos os dias pedindo ajuda”, contou.
Na
esquina onde o filho foi abordado, Jurandy mostra denúncias registradas
na Corregedoria da Polícia Militar e no Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP). Em nota, a PM informa que sua
corregedoria ‘não recepcionou a referida denúncia’ |
Humilhação
Jurandy relatou que passou por várias unidades da polícia. Central de Flagrantes, 1ª Delegacia (Barris), 2ª DP (Lapinha), 5ª DP (Periperi), 9ª DP (Boca do Rio), 22ª DP (Simões Filho), Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), 37ª Companhia Independente (Liberdade), além dos Batalhões da Rondesp de Lobato e Simões Filho.
Jurandy relatou que passou por várias unidades da polícia. Central de Flagrantes, 1ª Delegacia (Barris), 2ª DP (Lapinha), 5ª DP (Periperi), 9ª DP (Boca do Rio), 22ª DP (Simões Filho), Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), 37ª Companhia Independente (Liberdade), além dos Batalhões da Rondesp de Lobato e Simões Filho.
“Quando chego nas delegacias, mandam aguardar o
corpo aparecer boiando em algum lugar ou jogado num matagal. Eles
desprezam por que meu filho já esteve preso duas vezes. Na Rondesp de
Simões Filho, um policial disse: ‘Vá lá no IML que tem 30 corpos’! É
muita humilhação. Não se importam com a dor de ninguém”, relatou.
Geovane foi preso duas vezes em 2011 por roubo (veja ao lado). Atualmente, segundo o pai, o rapaz trabalhava limpando ônibus de uma empresa em Santa Mônica. “Mas estava afastado há oito meses. Levou um tiro no braço quando passava pela rua e se recuperava”. Geovane é o filho mais velho de sete irmãos por parte do pai. Ele tem mais três irmãs por parte da mãe, que mora em São Paulo.
Geovane foi preso duas vezes em 2011 por roubo (veja ao lado). Atualmente, segundo o pai, o rapaz trabalhava limpando ônibus de uma empresa em Santa Mônica. “Mas estava afastado há oito meses. Levou um tiro no braço quando passava pela rua e se recuperava”. Geovane é o filho mais velho de sete irmãos por parte do pai. Ele tem mais três irmãs por parte da mãe, que mora em São Paulo.
Geovane foi preso duas vezes por roubo há três anos
Geovane foi preso duas vezes, em 2011, ambas por roubo. “A primeira vez, em março, ele foi levado para a 9ª DP (Boca do Rio). Passou três meses lá. Uns três meses depois, foi levado para a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) e em seguida transferido para a Cadeia Pública. Passou duas semanas lá”, relatou Jurandy. No Tribunal de Justiça da Bahia há três processos cujos réus se chamam Geovane Mascarenhas de Santana: dois em 2011, por roubo e por furto qualificado, e um mais recente, em 2014, por homicídio contra Cristiano Silva Almeida, vulgo Galego.
No processo, consta que Geovane teria contado com a
ajuda de Antônio Henrique e Davi dos Santos Batista. No entanto, o juiz
Eduardo Augusto Leopoldino Santana negou o pedido de prisão preventiva
por ausência de provas. Na decisão, o juiz diz que Geovane vinha
colaborando com a investigação e que, “das provas colhidas até então, só
há o depoimento de uma testemunha não presencial, que apenas afirma a
autoria do representado, como justificativa por ter tentado matá-lo e
aos seus companheiros”. O pedido de prisão preventiva foi negado no dia
22 de maio deste ano e o processo arquivado na última quinta-feira (7),
cinco dias depois do desaparecimento de Geovane.Geovane foi preso duas vezes, em 2011, ambas por roubo. “A primeira vez, em março, ele foi levado para a 9ª DP (Boca do Rio). Passou três meses lá. Uns três meses depois, foi levado para a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) e em seguida transferido para a Cadeia Pública. Passou duas semanas lá”, relatou Jurandy. No Tribunal de Justiça da Bahia há três processos cujos réus se chamam Geovane Mascarenhas de Santana: dois em 2011, por roubo e por furto qualificado, e um mais recente, em 2014, por homicídio contra Cristiano Silva Almeida, vulgo Galego.
A mão encontrada no Parque São Bartolomeu é de fato
de Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, segundo a Secretaria da
Segurança Pública (SSP) afirmou nesta sexta-feira (15). Em coletiva
hoje, o secretário Maurício Teles Barbosa afirmou que elucidar o caso é
prioridade máxima para a polícia baiana. Barbosa afirmou ainda que a
perícia irá esclarecer se o tronco e a cabeça encontrados próximos à mão
são da mesma pessoa. A identificação da mão foi feita através da
digital. Para a polícia, Geovane está morto.
Mais cedo, depois que a polícia divulgou que o corpo
encontrado era de Geovane, o pai dele, Jurandy de Santana, 40 anos, foi
até o Instituto Médico Legal (IML). Ele não reconheceu o corpo como
sendo do filho. Segundo ele relatou ao Correio, ele não viu a tatuagem
com o nome dele "Jurandy", que ele tinha na costela, feita em homenagem
ao pai. Nos outros corpos apontados pela polícia, Jurandy informou que
havia outras marcas e tatuagens nos corpos que Geovane não tinha.
Segundo Barbosa, os policiais Cláudio Bonfim Borges,
Jailson Gomes de Oliveira e Jesimiel da Silva Resende, que aparecem em
imagens abordando Geovane na última vez que ele foi visto vivo, já foram
ouvidos pela Corregedoria da PM. A conduta deles é investigada por
processo administrativo do órgão. Além disso, o Departamento de
Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), por sua vez, solicitou a prisão
temporária do trio.
"É um caso grave que precisa ser investigado com
celeridade e de maneira responsável, para que não seja cometida nenhuma
injustiça. Se for comprovada a participação dos policiais no sumiço e na
possível morte de Geovane, pediremos a imediata expulsão deles da
Polícia Militar", garantiu o secretário da Segurança Pública. O
comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, e o delegado-geral Hélio
Paixão também estiveram na coletiva.
Exame confirmou digital de Geovane em mão encontrada (Foto: Divulgação/SSP)
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Investigação
Segundo o secretário, em depoimento os policiais disseram que liberaram Geovane depois que uma vítima de assalto não o reconheceu como o homem que a tinha roubado. Barbosa criticou a postura dos PMs envolvidos. "A maneira como eles revistaram o jovem, que sequer insinuou reação, já foi desastrosa. Depoimentos de testemunhas e possíveis imagens de câmeras de estabelecimentos comerciais daquela localidade irão auxiliar no desfecho desse lamentável crime", afirmou.
Segundo o secretário, em depoimento os policiais disseram que liberaram Geovane depois que uma vítima de assalto não o reconheceu como o homem que a tinha roubado. Barbosa criticou a postura dos PMs envolvidos. "A maneira como eles revistaram o jovem, que sequer insinuou reação, já foi desastrosa. Depoimentos de testemunhas e possíveis imagens de câmeras de estabelecimentos comerciais daquela localidade irão auxiliar no desfecho desse lamentável crime", afirmou.
A polícia já tem em mãos informações do GPS e da
câmera implantadas na viatura, que comprovam o trajeto que os PMs
fizeram depois de abordar Geovane perto do Largo do Tanque.
Os PMs estão detidos no Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, enquanto corre a investigação.
Jurandy, pai de Geovane, e Jamille, mulher do rapaz (foto: Marina Silva)
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