Agência cita crise política, 'aumento da incerteza' sobre a aprovação das reformas e efeitos no ambiente de negócios.
A agência de classificação de risco Moody’s anunciou nesta sexta-feira (26) que decidiu alterar novamente a perspectiva da nota do Brasil, de estável para negativa, citando o "aumento da incerteza em relação ao momento favorável às reformas após os últimos acontecimentos políticos".
Em março, a agência tinha mudado a perspectiva do rating do Brasil de negativa para estável, citando sinais de recuperação e a inflação em queda. Em comunicado no último dia 19, entretanto, a Moody´s já apontava que a crise política aberta com a delação de Joesley Batista envolvendo o presidente Michel Temer pode interromper as reformas e prejudicava a perspectiva da nota de crédito do Brasil.
Com a nova revisão, a Moody´s passa a sinalizar que não está descartado um novo rebaixamento da nota do Brasil nos próximos meses.
"Independentemente de seu desfecho, a crise política que emergiu no Brasil na última semana provavelmente debilitará a agenda de reformas do governo e comprometerá a aprovação de reformas futuras, incluindo a da Previdência. Isto provavelmente impactará negativamente a confiança do investidor e levará ao aumento da volatilidade nos mercados, ameaçando o momento macroeconômico positivo observado desde o início da agenda de reformas promovida pelo presidente Michel Temer", afirmou a Moody´s em comunicado.
Apesar da mudança da perspectiva, a nota do Brasil em moeda estrangeira foi mantida como "Ba2", dois degraus abaixo do grau de investimento (selo de país bom pagador).
Entre os fatores que poderiam levar a um rebaixamento do rating brasileiro, a agência cita uma "intensificação da crise política" e a reversão do impacto de reformas fiscais já aprovadas, "principalmente o cumprimento do teto de gastos".
Fazenda fala em compromisso com reformas
Em nota, o Ministério da Fazenda reafirmou o seu compromisso com a continuidade da implementação da agenda de reformas estruturais e destacou "os resultados positivos obtidos por meio da manutenção de intenso diálogo e coordenação com o Congresso Nacional, sinalizando o empenho para alcance da estabilidade da política econômica".
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avaliou mais cedo que há pessimismo exagerado no país, o que pode 'levar a decisões equivocadas.'
Meirelles evitou responder diretamente se a eventual saída de Temer prejudicaria a agenda das reformas. Ele disse, porém, que trabalha com a permanência do presidente.
Posição do Brasil nas principais agências
Desde 2015, o Brasil perdeu a classificação de grau de investimento nas principais agências internacionais. Com isso, os títulos da dívida do país e, por consequência, o investimento no país, passou a ser considerado especulativo.
Atualmente, a nota do Brasil está na mesma posição nas escalas das 3 principais agências: dois degraus abaixo do grau de investimento (selo de país bom pagador). Com a revisão da Moody´s, o rating do Brasil passa a ter também perspectiva negativa nas três.
Na última segunda-feira (22), a Standard & Poor’s (S&P) decidiu, entretando, colocar a nota do Brasil em observação negativa (CreditWatch negativo) em razão da crise política, o significa que a nota brasileira pode ser reduzida nos próximos três meses.
Na sexta-feira (19), a Fitch anunciou que decidiu manter a perspectiva negativa para o rating do país, citando o crescimento fraco e 'repetidos episódios de instabilidade política'.
O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard & Poor’s pela primeira vez em 2008. Em 2009, conseguiu a classificação pela Moody’s.
A S&P foi primeira a tirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015, ação que foi seguida pelas outras duas grandes agências internacionais: Fitch e Moody´s.
Segundo analistas de mercado, historicamente, países costumam levar cerca de 5 a 10 anos para recuperar o selo de país bom pagador.