Imagem anunciava parceria em hospitais; na tarde desta sexta, post já tinha saído do ar. Em nota, pasta se desculpou por erro; 'gafe é fruto da ignorância', diz especialista.
O Ministério da Educação cometeu uma gafe diplomática ao anunciar, em redes sociais, uma parceria entre os governos do Brasil e da França. Ao invés de usar as três listras verticais que compõem o estandarte francês, a imagem postada nos perfis oficiais da pasta trazia a bandeira "deitada", similar à de outros países da Europa (veja abaixo).
Só no Instagram, a arte chegou a ter mais de 200 curtidas antes de ser retirada do ar, como indica a captura de tela recebida pelo G1. Até as 19h desta sexta (26), o ministério ainda não tinha publicado uma versão corrigida da arte.
Em nota, o MEC informou que a equipe que produz conteúdo para redes sociais "cometeu um erro no card sobre a parceria entre Brasil e França na área de saúde pública. Pedimos desculpas pelo erro e informamos que o mesmo já foi retirado", diz. O G1 entrou em contato com a Embaixada da França no Brasil, e aguardava retorno até a publicação desta reportagem.
Nesta quinta (25), o site oficial do ministério divulgou a mesma parceria entre a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – estatal vinculada ao MEC, responsável pelos hospitais universitários – e a associação equivalente do governo francês. Segundo a pasta, o acordo de cooperação deve durar quatro anos, promovendo "intercâmbio de competências" entre os países.
Símbolo histórico
O professor de história e relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Martins explica que não existe um "código universal" de bandeiras – em vez disso, os próprios países definem as regras de utilização, proporção e cor de seus emblemas.
"No caso da França, especificamente, as cores foram criadas por uma identificação com a Revolução Francesa [em 1789]. O branco lembra a antiga monarquia bourbônica, superposta pelas cores do escudo de armas de Paris, eixo político da revolução – um azul carregado e um vermelho sangue", enumera.
Segundo Martins, a bandeira com três listras verticais em azul, branco e vermelho (da esquerda para a direita) sobreviveu até às mudanças da monarquia para o império napoleônico e, em seguida, para o sistema republicano.
"É uma das bandeiras mais antigas, nesse formato, tem mais de 200 anos de história. Há várias bandeiras parecidas na Europa com as mesmas cores, por exemplo, Holanda e Luxemburgo".
O trio vermelho-azul-branco, em diferentes ordens e padrões gráficos, também estampa a bandeira da Rússia e das repúblicas que compunham a extinta União Soviética. No início do século 20, a também extinta República da Iugoslávia chegou a usar bandeira idêntica à estampada pelo Ministério da Educação – três faixas verticais, com azul sobre branco sobre vermelho.
"Na Rússia, essas cores representavam a dinastia Romanov, e as cidades de Moscou e São Petersburgo. Em linhas gerais, eram o branco da inocência, o azul do sangue da realeza e o vermelho do sangue dos soldados. Então, tudo isso é bastante simbólico, remete a esse passado histórico", aponta.
Questionado sobre a gafe cometida nesta sexta pelo MEC, Martins afirma que o caso não deve gerar nenhum impacto diplomático mais grave. Ao G1, o especialista disse acreditar que a falha é "sintomática" de problemas no ensino básico.
"A gafe costuma ser fruto da ignorância. No Brasil, a gente chegou a receber um general da Alemanha Ocidental, e a banda responsável tocar o hino da Alemanha Oriental. Quer dizer, é um enfraquecimento geral da cultura escolar", diz.
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