A Corregedoria da Polícia Civil apura se o investigador José Camilo Leonel fez uma falsa comunicação de crime à uma equipe do Grupo de Operações Especiais (GOE) após agredir o comerciante iraniano Navid Saysan. O caso ocorreu em 21 de janeiro, em uma loja nos Jardins, área nobre de
São Paulo.
Depois de agredir o iraniano com socos e apontar uma arma, Leonel voltou para a viatura e pegou um rádio. A Corregedoria investiga se o policial chamou o GOE comunicando que a loja estava sendo assaltada, informou o SPTV. Todos os 13 agentes do Grupo de Operações Especiais que estiveram no local após o chamado foram ouvidos.
A confusão ocorreu por causa da venda de um tapete na loja de Navid Saysan. A estudante de Direito Iolanda Delce dos Santos, que comprou o produto, decidiu devolvê-lo, mas não conseguiu o dinheiro de volta. O comerciante ofereceu um crédito para a compra de outros itens da loja, mas a universitária não aceitou.
Depois disso, ela acionou o investigador José Camilo Leonel, para auxilia-la. Ele agrediu o iraniano com socos. Toda a agressão foi flagrada por câmeras de segurança. Antes do ocorrido, Iolanda e o policial se encontraram em um restaurante a 250 metros da loja.
Iolanda prestou depoimento à Corregedoria na quinta-feira (25). Ela confirmou que se encontrou com o policial antes de ir à loja para ser orientada sobre os problemas que estava tendo na compra do tapete. Ela negou, no entanto, ter amizade com José Camilo Leonel.
Em entrevista ao Fantástico, a estudante disse que se sente culpada, mas que o dono da loja provocou o policial e, por isso, ele o agrediu. "O comerciante xingou ele. Ele provocou o policial", afirmou a universitária.
José Camilo Leonel responde a um inquérito policial sobre a agressão e um procedimento administrativo disciplinar, que apura desvios de conduta de agentes da corporação. Para o inquérito, a polícia já ouviu pessoas que estiveram na loja de tapetes no dia da agressão, além da estudante e policiais do GOE. A Corregedoria pretende concluir, em 15 dias, essa investigação.
O investigador José Leonel ainda não prestou depoimento para o inquérito e nem para o procedimento administrativo e não há data marcada para ele ser ouvido. A conduta de Iolanda também é investigada. "Eles foram lá para intimidar o comerciante e obrigar a fazer ele algo que não deveria fazer", disse a promotora do Grupo de Ação Especial para o Controle Externo da Atividade Policial (Gecep) Luciana Frugiuele, que acompanha o caso.
A advogada de defesa do policial civil, Eliana Rasia, disse ao G1 que não vai comentar a investigação.
Investigado
José Camilo Leonel é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil também por sua atuação em uma ocorrência em julho de 2013, na qual duas adolescentes de 13 e 14 anos foram baleadas, segundo o G1 apurou. De acordo com o boletim de ocorrência registrado na época, houve troca de tiros entre o carro em que estavam as adolescentes e a viatura de Leonel.
No entanto, a mãe de uma das adolescentes disse ao
G1 que as meninas foram baleadas na perna, mesmo sem estarem armadas, e depois de terem descido do carro e informado que não sabiam o que estava ocorrendo. José Camilo Leonel também é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil
por uma agressão em um posto de combustíveis, em 2015.
Encontro em restaurante e agressão
José Camilo Leonel foi visto em um restaurante com a estudante universitária Iolanda Delce dos Santos, antes de ela o acionar no dia 21 de janeiro para ir à loja do comerciante iraniano. Imagens registradas pelas câmeras do estabelecimento mostram os dois se encontrando (veja no vídeo abaixo).
No vídeo, a mulher está à espera em uma mesa. O policial civil chega e cumprimenta a mulher com um beijo. Eles conversam por mais de 30 minutos. O G1 apurou que o policial e a mulher foram vistos juntos na calçada, em frente ao restaurante, que fica a 250 metros da loja, e que o vídeo está com a polícia.
Depois do encontro, a mulher foi à loja para pedir o dinheiro de volta da compra de um tapete, chamou a polícia e, em seguida, o policial civil chegou e agrediu o comerciante. Em depoimentos à polícia, tanto o policial quanto a jovem negaram que se conheciam antes do ocorrido.
O Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, disse nesta quinta-feira (25) que o policial e a mulher combinaram toda a cena ocorrida na loja do comerciante. "Nós já temos provas robustas que os dois não só se conheciam como se encontraram minutos antes do ocorrido. Temos provas de que combinaram o ocorrido".
Moraes disse que Iolanda "vai responder por participação em todos os crimes praticados pelo investigador". "Isso vai sem nenhuma dúvida tipificar, no mínimo, além de abuso de autoridade, além das agressões, vai tipificar advocacia administrativa por parte do investigador", afirmou o secretário.
Câmera de segurança do restaurante mostra o policial civil dando um beijo na mulher no encontro antes de ela ir à loja do comerciante (Foto: Reprodução/TV Globo)
Corregedoria tem o vídeoA Corregedoria da Polícia Civil teve acesso às imagens do restaurante dias depois do
caso ter sido divulgado pelo Fantástico, na edição do dia 14 de fevereiro. A reportagem mostrou imagens de câmeras de segurança da loja do comerciante sendo agredido pelo policial.
O investigador também ameaçou o iraniano e um funcionário com uma arma. Leonel trabalhava na Corregedoria da Polícia Civil e pode responder por abuso de autoridade. Após a divulgação das imagens, o policial foi afastado. O investigador José Camilo Leonel trabalha na Corregedoria e pode responder por abuso de autoridade.
O policial foi afastado preventivamente por 180 dias e teve de entregar distintivo e arma até o final da apuração dos fatos. O afastamento não foi publicado no Diário Oficial e ele segue recebendo seu salário. A advogada de defesa dele, Eliana Rasia, disse ao G1 que não vai comentar a investigação.
VEJA A CRONOLOGIA DO CASO:
21 de janeiro: A universitária Iolanda Delce dos Santos foi à loja do iraniano Navid Saysan tentar recuperar o dinheiro da compra de um tapete. Ela pagou R$ 5 mil pelo produto e queria o dinheiro de volta. Ela saiu da loja dizendo que iria chamar a polícia. O policial civil José Camilo Leonel chegou em seguida e agrediu o comerciante. Ele chamou o reforço do GOE. O iraniano deixou o local algemado.
14 de fevereiro: Reportagem do Fantástico mostra
imagens das câmeras de segurança da loja de tapetes que mostram a agressão do policial civil ao comerciante. Após a confusão, os envolvidos foram pra delegacia do consumidor e para a corregedoria, onde foi feito um boletim de ocorrência.
15 de fevereiro: A Secretaria de Segurança Pública diz que o
policial civil será afastado até o final da apuração dos fatos e que iria abrir inquérito contra a mulher.
16 de fevereiro: O policial civil é afastado por 180 dias.
22 de fevereiro: Reportagem do
G1 revela que o policial civil José Camilo Leonel é
sócio de uma empresa de segurança. Ele é um dos donos da Pentalpha Consultoria Técnica de Segurança e Investigação em Fraudes Contra Seguros Ltda., que tem como sócia administradora uma parente do policial, Zenaide Leonel dos Santos. Segundo a SSP, os policiais civis podem ser cotistas ou acionistas de empresas, de acordo com a Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo, mas não podem ser sócios administrativos ou gerentes. No mesmo dia, a secretaria recolhe o distintivo e a arma do policial.
Estudante universitária conversa com policial civil em frente a loja de tapetes (Foto: Reprodução TV Globo)