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terça-feira, 10 de abril de 2018

Em depoimento de 5 horas ao Senado americano, Mark Zuckerberg admite erros do Facebook

Presidente do Facebook respondeu questões sobre regulação, uso de dados de usuários e como empresa reagiu ao escândalo da Cambridge Analytica.

Por Helton Gomes Simões, G1
 
Mark Zuckerberg depõe no Senado (Foto: REUTERS/Leah Millis)Mark Zuckerberg depõe no Senado (Foto: REUTERS/Leah Millis)
Mark Zuckerberg depõe no Senado (Foto: REUTERS/Leah Millis)
O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, depôs por mais de cinco horas em uma audiência no Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira (10). Ele teve de explicar como o Facebook reagiu ao vazamento de dados de 87 milhões de pessoas pela consultoria política Cambridge Analytica e afirmou que a empresa vai investir em medidas para proteger os dados de usuários da rede social.
A audiência conjunta foi realizada entre os comitês de Justiça e do Comércio, Ciência e Transportes, ambas do Senado dos EUA. Ele foi questionado por 44 senadores em uma sessão com dois intervalos. Na quarta, será a vez da Câmara dos Deputados. Lá Zuckerberg falará diante do Comitê de Energia e Comércio.
"Esse episódio (Cambridge Analytica) claramente nos machucou e evidentemente tornou mais difícil para nós alcançar a nossa missão social. Nós agora temos muito trabalho para reconstruir uma confiança", disse Zuckerberg.
Ele também disse que a empresa está fazendo investimentos para reforçar a sua segurança, o que vai "impactar significativamente a rentabilidade no futuro".
"Proteger a nossa comunidade é mais importante que maximizar nossos lucros," disse.
Jornal Nacional: Zuckerberg reconhece erro do Facebook na proteção de dados
A audiência de Zuckerberg provocou o maior burburinho no Senado desde as audições da Microsoft nos anos 1990. Dos 100 parlamentares que a Casa possui, 44 participam da sessão.
Em seu discurso de abertura, o CEO do Facebook afirmou que os dados coletados pelo desenvolvedor do teste que gerou todo o escândalo foram vendidos pela Cambridge Analytica. Essa é a primeira vez que a rede social admite ou assume isso.
No dia do depoimento, as ações do Facebook fecharam em alta de 4,5%, a maior em quatro anos.

Questionamentos de senadores

“Estamos aqui por uma quebra de confiança", afirmou o senador John Thune, presidente da comissão de Comércio, Ciência e Transportes, em seus comentários iniciais. “Uma das razões para tantas pessoas estarem preocupadas com isso é porque isso diz sobre como o Facebook trabalha.”
Para ele, o "sonho americano" de Zuckerberg, ao criar o Facebook, pode se tornar um "pesadelo de privacidade" para americanos.
Durante a audiência Zuckerberg foi questionado, principalmente, sobre os seguintes temas:
  • como o Facebook reagiu ao vazamento de dados pela Cambridge Analytica;
  • como o Facebook usa os dados de seus usuários para ganhar dinheiro;
  • como a rede social reage ao uso político da plataforma;
  • posição do Facebook sobre regulamentação de empresas de internet.

Caso Cambridge Analytica

Zuckerberg afirmou, na primeira parte de seu depoimento, que a Cambridge Analytica não foi banida em 2015, quando o Facebook soube que a empresa britânica tinha dados de seus usuários, porque a consultoria política não usava nenhum dos serviços da rede social. "Não tínhamos do que bani-los."
Após o recesso, ele corrigiu a informação. Ele disse que a empresa estava, sim, na plataforma na ocasião e não foi banida. "Foi um erro não ter banido", disse.
Ele disse também que, quando soube que a Cambridge Analytica não havia deletado os dados de 87 milhões de usuários anos atrás, o Facebook não notificou os afetados porque "nós consideramos isso um caso encerrado". E ainda respondeu que nenhuma pessoa da empresa foi processada devido ao escândalo.
Zuckerberg ressaltou que não foi registrada uma queda do uso do Facebook após o escândalo.
Mark Zuckerberg fala a senadores americanos sobre como Facebook usa dados (Foto: REUTERS/Win Mcnamee/Pool)Mark Zuckerberg fala a senadores americanos sobre como Facebook usa dados (Foto: REUTERS/Win Mcnamee/Pool)
Mark Zuckerberg fala a senadores americanos sobre como Facebook usa dados (Foto: REUTERS/Win Mcnamee/Pool)

Regulamentação

Zuckerberg foi questionado diversas vezes sobre regulamentação de empresas de internet e assumiu uma mudança de postura ao admitir a "regulamentação certa". No passado, a rede social refutou iniciativas de regular o setor e de assumir responsabilidade pelo conteúdo postado na rede.
O líder do Facebook disse que a rede social poderia, inclusive, contribuir com algumas ideias sobre regulamentação.
Ele afirmou que, "a princípio", apoiaria uma legislação que exigisse permissão dos usuários para que as empresas usassem seus dados no negócio.
Ele também foi questionado se apoiaria uma regra que exigiria que as empresas notifiquem os usuários sobre um vazamento de dados em até 72 horas. "Faz sentido pra mim", respondeu Zuckerberg.

Uso de dados e receitas financeiras

Mark Zuckerberg fala ao Senado sobre escândalo do vazamento de dados de 87 milhões de usuários (Foto: REUTERS/Leah Millis)Mark Zuckerberg fala ao Senado sobre escândalo do vazamento de dados de 87 milhões de usuários (Foto: REUTERS/Leah Millis)
Mark Zuckerberg fala ao Senado sobre escândalo do vazamento de dados de 87 milhões de usuários (Foto: REUTERS/Leah Millis)
Zuckerberg foi questionado sobre quais dados coleta das pessoas e se os armazena. Ele classificou os dados de duas formas:
  1. Informações que as pessoas escolhem compartilhar, como fotos e publicações.
  2. Dados que podem transformar os anúncios em algo mais assertivo.
"Eu espero que o que fazemos com dados não seja surpreendente para pessoas", disse Zuckerberg. "As pessoas podem escolher não compartilhar os dados", ressaltou.
Ele, no entanto, refutou a ideia de segmentar os termos de serviços e disse que as pessoas não poderão muda-los.
Facebook sem anúncios?
O senador Bill Nelson perguntou se a rede social estava pensando em cobrar de seus usuários para não ver propaganda. Zuckerberg disse que obter recursos com anúncios da publicidade é a forma encontrada pela companhia para conectar bilhões de pessoas.
"Para não mostrar anúncio nenhum, nós ainda precisaríamos de um modelo de negócio".
Whatsapp sem interceptações
Ele também foi questionado se o Facebook informa os anunciantes sobre o conteúdo das mensagens trocadas no aplicativo Whatsapp, que pertence ao Facebook. "Não. O sistema do Facebook não vê o conteúdo das mensagens no Whatsapp. É criptografado. Então não informamos anunciantes” , disse.

Influência nas eleições

Zuckerberg comentou a tentativa de exploração do Facebook por agentes externos para desestabilizar eleições, como o que agências russas fizeram durante a corrida presidencial dos Estados Unidos em 2016.
"Isso é uma corrida armamentista", afirmou Zuckerberg. Para tentar coibir a prática, a rede social está reforçando sua equipe. Hoje, são 15 mil pessoas trabalhando no time de segurança e espera ter 20 mil até o fim de 2018.
Ele admitiu que o Facebook foi lento em reagir a essas iniciativas e que está se preparando para agir melhor nas próximas eleições, como a do Brasil neste ano.
Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, presta depoimento ao Senado americano (Foto: Reuters)Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, presta depoimento ao Senado americano (Foto: Reuters)
Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, presta depoimento ao Senado americano (Foto: Reuters)

Monopólio e escutas telefônicas

Além dos temas recorrentes, Zuckerberg teve de responder perguntas de temas diversos sobre o Facebook.
Uma delas era se ele considerava que o Facebook seja um monopólio. "Eu certamente não vejo dessa forma", respondeu.
O senador Gary Peters também perguntou a Zuckerberg se o Facebook escuta ligações dos seus usuários por meio do microfone dos dispositivos móveis para melhorar sua classificação de usuários.
Ele negou a prática, que chamou de "teoria da conspiração".

O que Zuckerberg não respondeu

O senador Chuck Grassley perguntou quantas vezes um app fez uma transferência de dados como a da Cambridge Analytica, mas Zuckerberg disse que a rede social conduz uma investigação, mas não respondeu.
Outra questão a que o executivo não respondeu foi a sobre quantas vezes o Facebook fez valer aos desenvolvedores suas políticas de uso. "Eu não saberia dizer quantas vezes isso aconteceu"

Escândalo de vazamento de dados

A ida de Zuckerberg ao Congresso dos EUA ocorre na esteira do escândalo da manipulação indevida de dados de 87 milhões de usuários pela Cambridge Analytica, consultoria política que trabalhou para Donald Trump durante a corrida eleitoral de 2016 e na campanha para a saída do Reino Unido do Brexit.
A forma como as informações foram obtidas pela empresa britânica colocou no centro da discussão o modelo de negócio do Facebook e de outras empresas de tecnologia, que coletam, processam e armazenam dados de seus usuários para segmentar a distribuição de anúncios.
A polêmica da Cambridge Analytica ocorre em um momento em que começou a intensificar a pressão para regulamentar a atuação de empresas de tecnologia que mantêm plataformas, em que pessoas depositam grande quantidade de conteúdo.
No fim de fevereiro, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma lei que mudou um dos grandes paradigmas legais em torno de companhias de internet: a responsabilização judicial delas em caso de ações ilícitas praticadas por usuários.
A nova legislação permite que sites e serviços conectados sejam levados à Justiça caso sejam usados para o tráfico sexual. Até então, as empresas não podiam ser processadas, mesmo que suas plataformas fossem uma porta aberta para escravidão sexual ou tráfico de seres humanos. Os responsáveis por promover esses conteúdos é que deveriam ser processados.

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