Estudante que queria cursar medicina não acessava o Sisu desde sexta.
Ela soube de conta 'furtada' e senha alterada apenas nesta terça-feira (31).
Após incluir inscrição e senha, sistema do Sisu não reconhece os dados de estudante paraibana que teve a conta hackeada (Foto: Reprodução/Sisu)
A estudante Tereza Gomes, 23 anos, de João Pessoa, teve a conta no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) hackeada e foi inscrita no curso de produção de cachaça, no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG). No período de inscrição do Sisu, Tereza tentava aprovação para o curso de medicina, mas na sexta-feira (27) viu que estava longe da aprovação - mesmo tirando nota mil na redação - e parou de acessar o sistema. “É um absurdo, fiquei muito nervosa”, destacou.O IFNMG, no perfil oficial no Facebook, reprovou a ação de hackers e exigiu respeito ao curso de produção de cachaça, oferecido na cidade mineira de Salinas. "Tanto os alunos quanto o curso Produção de Cachaça merecem o nosso respeito. Para quem não sabe, Salinas é uma cidade do Norte de Minas reconhecida mundialmente pela produção de cachaça, e o curso é o único do país oferecido por instituição pública na área. Quem tirou nota mil pode cursar o que quiser. Afinal, quem é nota mil terá sucesso em qualquer área. E a cachaça de Salinas é nota mil!"
Em nota, o Ministério da Educação esclareceu que "os sistemas do MEC e do Inep não registraram, até o momento, indício de acesso indevido a informações de estudantes cadastrados, que configure incidente de segurança".
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Tereza foi uma das 77 pessoas que conseguiram nota mil na redação em todo o Brasil, no entanto, o desempenho geral não foi suficiente para conseguir a aprovação no curso de medicina. Mesmo assim, a estudante manteve a inscrição nas duas opções para medicina, mesmo sabendo que não teria chance de ser aprovada.Na noite de segunda-feira (30), Tereza recebeu uma mensagem de uma pessoa desconhecida na rede social Facebook com um print da lista de aprovados em um outro curso, incluindo o nome dela. No momento, achou que era montagem e não se preocupou.
Nesta terça-feira (31) recebeu a notícia de que sua conta teria sido invadida e que seu nome estava mesmo na lista do curso de produção de cachaça, no IFNMG. “Imagina se eu tivesse média para passar para medicina? Além disso, prejudicou quem queria esse outro curso”, refletiu.
Sobre o caso em questão, o MEC diz que "consta nos registros do Sisu acessos nos dias 24 e 29 de janeiro, respectivamente, às 12h15 e 22h12. O sistema também apresenta três tentativas de acessos sem sucesso (nos dias 24 de janeiro, sendo dois deles às 20h06 e o último às 20h07). A única opção de escolha de curso que consta é a de Produção de Cachaça [...], realizada no dia 29 de janeiro às 22h14, conforme consta no último acesso registrado no Sisu".
Paraibana Tereza Gomes, de 23 anos, foi uma das 77 pessoas que alcançaram nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Foto: Tereza Gomes/Arquivo Pessoal)
Fórum em rede socialUm fórum anônimo na internet mostra que internautas disseminaram dicas para "roubar" a senha de estudantes que se destacaram no Enem 2016 e manipular as inscrições no Sisu, que usa a mesma senha.
Paraibana foi uma das 77 pessoas com nota mil na
redação do Enem (Foto: Tereza Gomes/Arquivo Pessoal)
Tereza confessou que ficou desapontada com o acontecido, mas que já se matriculou em um cursinho preparatório para o Enem 2017 e vai tentar novamente ser aprovada no curso de medicina.redação do Enem (Foto: Tereza Gomes/Arquivo Pessoal)
Esclarecimento do MEC
Procurado pelo G1, o Ministério da Educação afirmou que o sistema do Sisu tem um nível de segurança elevado, onde qualquer ação realizada nos perfis pessoais são registradas em um histórico. Porém, a pasta ainda não confirmou se as denúncias de roubo de senha procedem.
Em nota, o MEC destacou ainda que há "casos pontuais de acesso indevido a dados pessoais de candidatos, que teriam possibilitado mudança de senha e de dados de inscrição, como opção de curso. A senha é sigilosa e só pode ser alterada pelo candidato ou por alguém que tenha acesso indevidamente a dados pessoais do candidato".
A nota cita que "casos individuais que forem identificados e informados ao MEC como suposta mudança indevida de senha e violação de dados, o MEC vai remetê-los para investigação da Polícia Federal. Nos dois casos citados pela imprensa, o Inep já identificou no sistema data, hora, local, operadora e IPs de onde partiram as mudanças de senha. Os dados serão encaminhados para a Polícia Federal".