G1 ouviu coordenadores das principais escolas preparatórias do estado sobre as questões do exame aplicado neste domingo (19). Educadores avaliaram dificuldade, atualidade e interdisciplinaridade.
Por G1 Campinas e Região
Coordenadores de alguns dos principais cursinhos do estado de SP ouvidos pela reportagem do G1,após a realização da primeira fase do Vestibular da Unicamp neste domingo (19), elogiaram a "sofisticação" da prova e identificaram um nível de dificuldade das questões superior ao de anos anteriores. Com expressões diversificadas - "crítica", "voltada à cidadania", "engajada", "inclusiva" -, os professores destacaram o fato de o vestibular ter apresentado questões politizadas.
A primeira fase do vestibular 2018 da universidade de Campinas (SP) foi aplicada para 76.225 estudantes. O exame foi composto por 90 questões de múltipla escolha: 13 de língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa, 13 de matemática, 9 de história, 9 de geografia (inclui filosofia e sociologia), 9 de física, 9 de química, 9 de biologia, 7 de inglês e 12 interdisciplinares.
A seguir, confira as observações dos coordenadores de cursinhos sobre os seguintes aspectos da prova: nível de dificuldade, atualidade, interdisciplinaridade e geral.
Nível de dificuldade
Daniel Perry, coordenador do Anglo: "Em relação às provas de anos anteriores, este ano estava um pouco mais difícil. Em relação à prova da Unesp, foi mais difícil. Porém, se você pensar comparando com Enem, com a Fuvest que ainda virá, é uma prova cujo nível de dificuldade é médio. Porque há algumas matérias que, de fato, estavam difíceis, tipo história, tipo português, que estava trabalhosa, tipo química, que estava sofisticada. Agora, havia outras que estavam mais fáceis, por exemplo, matemática, física... E algumas de nível médio: biologia, geografia... Então, foi nível médio de dificuldade".
Edmilson Motta, coordenador do Etapa: "Três matérias foram um pouquinho mais difíceis: português, inglês e história. As outras disciplinas, o nível de dificuldade é o que o exame tem apresentado nos últimos anos. É uma prova que o candidato sai feliz da vida porque pontua bem, mas aí, quando sai a nota de corte, nem sempre fica tão feliz porque elas são bem altas. Apesar de inglês, português e história virem um pouco mais difíceis, não deve impactar tanto na nota final. Talvez seja um pouquinho mais baixa, mas não muito. E considerando que em Medicina - que é o curso mais procurado - a relação candidato-vaga subiu muito, então, duvido que haja uma mudança significativa na nota de corte".
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Objetivo: "Ela é uma prova mais difícil do que foi a da Unesp na semana passada. Agora, não dá pra comparar com Enem porque é outro aspecto. Dá para comparar que tem questões mais difíceis em algumas disciplinas do que a própria Unicamp do ano passado. É uma prova, de um modo geral, exigente. É uma prova em que o aluno tem que ter formação, tem que conhecer a matéria. Não é uma prova em que o aluno pode ir de "paraquedista". Ele tem que ter conhecimento, domínio de vocabulário, domínio de conceitos. Isso vale para todas as disciplinas. Foi uma prova que exigiu domínio do programa inteiro. Isso é curioso. Eles conseguiram fazer uma prova inteligente onde realmente abrangesse os conteúdos. Foi uma prova abrangente".
Célio Tasinafo, coordenador do Oficina do Estudante: "A prova de hoje estava um pouco mais difícil que a de anos anteriores de vestibulares da Unicamp, e bem mais difícil que a da Unesp, que foi feita na quarta-feira. É uma prova muito mais consistente, mas que, para o candidato, apresentou mais dificuldade. Houve cobrança de conteúdos mais específicos. Não fugiu aos temas que são clássicos da Unicamp, então, é uma prova voltada para cidadania [...]. Em termos temáticos, não é uma prova muito surpreendente, não. Mas, é uma prova mais difícil pela especificidade com que esses temas foram cobrados".
Atualidade
Daniel Perry, coordenador do Anglo: "Com exceção da prova de matemática, que estava bastante tradicional e técnica, o restante estava bem contextualizado, bem criativo e sofisticado. É um indicativo do aluno que a Unicamp deseja: um aluno antenado com o que ocorre no mundo, um aluno crítico, analítico, que tem uma boa bagagem cultural. É bem clara esta direção. Uma questão que achei bastante interessante é a da "Caneta Desmanipuladora". Por que? Porque trata de uma página no Facebook, que tem um viés crítico em relação à mídia tradicional e, portanto, a questão em si exigia uma interpretação textual de um gênero de linguagem que não era fácil, demonstrando que ela quer um aluno que esteja antenado em tudo. Ele tem que se informar através da mídia convencional, das redes sociais e sofisticação em termos de linguagem e repertório cultural".
Edmilson Motta, coordenador do Etapa: "Quem acaba tendo uma preocupação maior com isso é a prova de história. Tem uma questão em especial bem interessante que é uma questão interdisciplinar de história com química, que ainda trata da questão de gênero. É a que mais se destaca. Então, a prova que mais conversou com questões atuais foi a prova de história, realmente. A de português também teve um destaque, mas não exatamente por esse motivo, mas pela originalidade com que ela apresentou suas questões".
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Objetivo: "Você olha para a prova de português, a de inglês, a de geografia... Na hora que você vai olhando essas de humanas, o que você vê de atualidade! A prova de português é uma prova engajada, é uma prova politizada, uma prova com denúncias, com crítica social, com grafite. A questão 63 da prova Z fala de terrorismo literário, fala da literatura marginal. Em geografia tem as consequências do 'Brexit'... Então, é bem atual, coisa deste ano. É uma prova que, de um modo geral, é atual. Na prova de inglês, você fala em gêneros, em transgênero, fala de negros... São temas que estão sendo superdiscutidos".
Célio Tasinafo, coordenador do Oficina do Estudante: "É a prova mais atual que a gente tem nessa temporada. São questões muito atuais e absolutamente relevantes. Então, a gente vai ter a discussão sobre inclusão, de novo referências a Mariana (MG), no caso da questão de língua portuguesa. Teve a saída do Reino Unido da União Europeia e as possíveis consequências. Uma prova que valorizou aquele aluno leitor, aquele aluno integrado ao mundo. Mesmo na parte de Ciências da Natureza, a gente tem uma pergunta sobre a descoberta de um planeta pela Nasa. É uma prova atualíssima".
Interdisciplinaridade
Daniel Perry, coordenador do Anglo: "Olha, ano passado, isso foi um destaque. Este ano, nem tanto. Esse ano, eu diria que o grande destaque é a sofisticação de algumas questões que abordavam determinados assuntos de uma maneira pouco usual. Por exemplo, tinha uma questão de biologia cujo tema era genética. Genética é um tema habitual, é um tema que cai sempre no vestibular. Agora, a maneira como foi abordado obrigava o aluno a ter muita atenção no enunciado e inferir a resposta. O que significa isso? É uma habilidade de alta complexidade. Você tem que ter o conteúdo de genética, você tem que associar com o enunciado, com a situação-problema ali colocada e, a partir disso, chegar à resposta. Não é só interpretação do enunciado. Não é só o conceito tradicional. É uma mistura das duas coisas, indo além".
Edmilson Motta, coordenador do Etapa: "A prova de inglês merece um comentário. Inglês às vezes fica uma matéria que entra como auxiliar, pouco importante nos exames, e a Unicamp soube dar muito valor a ela. Porque qual é o papel de eu saber inglês para entrar numa universidade? Em princípio, é poder ler a literatura inglesa que costuma ser a principal nas mais variadas áreas do conhecimento. Então, é natural que o inglês venha como uma matéria bastante interdisciplinar. E eles colocaram exatamente dessa maneira. Eu acho que isso dá um papel mais claro para o inglês nos exames de ingresso na universidade. A prova de inglês explorou muito a interdisciplinaridade e é muito valioso que isso seja feito. Dá força para ela. E, aí, apareceu um pouquinho [de interdisciplinaridade] em cada uma das outras disciplinas, o que é bem característico da Unicamp, que faz isso bem. Dos vestibulares, a Unicamp é a que faz melhor isso".
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Objetivo: "Excelente. O aluno tem que ter domínio do conhecimento dele. Ele não tem caixinhas na cabeça. Ele tem que ter domínio, ele tem que saber relacionar. Por exemplo, a prova de literatura é bonita, interdisciplinar com história. Tem uma questão sobre "O Bem Amado", que o aluno tem que saber da obra que a Unicamp indicou e, na hora que ele lê, ele tem que saber em que momento história se deu aquilo. Dentro do interdisciplinar você vê o próprio Inglês, que tratava da Segunda Lei de Newton, que é física. Era dificílima. Você tinha que preencher lacunas no texto de inglês com informações da Lei de Newton. O aluno tinha que conhecer física e saber empregar o inglês... Não foi fácil".
Célio Tasinafo, coordenador do Oficina do Estudante: "Melhorou. Nos outros anos era até difícil a gente identificar questões interdisciplinares pra valer na Unicamp. Este ano não. Elas estão muito bem feitas. Destaco uma de química e história sobre um experimento realizado pelo Lavoisier. O aluno tem que conhecer um pouco de química e o contexto do século 18 em que a experiência foi realizada. Aí, sim, é uma questão interdisciplinar. Porque muitas vezes as questões interdisciplinares da Unicamp vinham com uma referência esparsa a um conteúdo, mas as alternativas eram só com conhecimento de uma área. Não era uma questão interdisciplinar neste caso, era uma questão contextualizada. Este ano não. Este ano tivemos realmente questões em que o aluno precisava mobilizar conhecimento de duas disciplinas para fazer a questão.
Geral
Daniel Perry, coordenador do Anglo: "Foi um vestibular bem abrangente, temas relevantes, questões bem elaboradas e cumpre, sim, a função de selecionar bons candidatos para a segunda fase".
Edmilson Motta, coordenador do Etapa: "Eu achei que a questão da atualidade e a da interdisciplinaridade foram muito bem feitas. Eu achei uma prova bem interessante, em que as notas devem ser altas, porque é bom e fica mais fácil de diferenciar os candidatos. Eu realmente gostei da prova".
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Objetivo: "Foi ótima. O ano passado nós criticamos biologia. Este ano, não há crítica em relação a disciplina nenhuma. Muito pelo contrário. A Unicamp está no caminho certo, fez uma prova com cuidado, uma prova que não gera dúvidas ao aluno. Só identificamos um problema em química, que era uma questão fácil, mas eles usaram Dalton, que não é oficial na química, não é o nome usado, muita gente nunca ouviu falar em Dalton. Então, o aluno viu aquilo e pulou, mas era fácil. Dalton é unidade de massa atômica, e ele está acostumado a falar “unidade de massa atômica”. Mas foi uma prova de excelente nível".
Célio Tasinafo, coordenador do Oficina do Estudante: "Este modelo de Unicamp com 90 testes é relativamente recente e, este ano, a prova atinge uma maturidade muito importante. É o melhor vestibular da Unicamp dos últimos cinco anos sem sombra de dúvidas, pela qualidade das questões, pelo nível de elaboração, pelos temas cobrados, pelo exercício à cidadania que a prova provoca.
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