As primeiras Civilizações que surgiram na História se localizavam no Oriente Próximo (Oriente Médio e litoral do Mediterrâneo Oriental), pois ali, em meio a terras áridas e extensos desertos, era possível encontrar áreas extremamente férteis, especialmente às margens de grandes rios, como o Nilo, o Tigre, o Eufrates e o Jordão.
Ainda na Pré-história, diversas tribos migraram para essas regiões em busca de melhores condições de vida. Com o passar dos séculos, a agricultura foi se aperfeiçoando e se fez indispensável à construção de obras de irrigação (canais, valas, diques, muros de contenção) que pudessem ampliar a possibilidade de produção de alimentos.
Decorre daí a necessidade da formação de Estados centralizadores, até mesmo militarizados, capazes de organizar os homens, a fim de submetê-los ao trabalho tanto nas obras de irrigação quanto na lavoura, garantindo assim a sobrevivência de todos e o poder de uma elite política senhora das terras. Por isso esses povos receberam a denominação de Civilizações Hidráulicas, já que toda sua organização sociopolítica tinha como foco o controle das águas e da produtividade agrícola.
Dentre as Civilizações Hidráulicas podemos destacar: o Egito, a Palestina e a Mesopotâmia.
Mesopotâmia
Entre os rios Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas da Armênia e desembocam no Golfo Pérsico (formando o Chat al-Arab), surgiu uma das mais grandiosas civilizações da Antiguidade oriental: a Mesopotâmia, cujo território praticamente coincide com o do atual Iraque. Apesar de incorporar povos diversos e, também por isso, formas de organização política muito diferentes, toda região ficou assim chamada a partir das descrições de Heródoto, um grego que viajou por aquelas terras no século 5 a.C.. Mesopotâmia significa, em grego, terra "entre rios" (meso + potamos).
Por volta de 6500 a.C. iniciou-se a ocupação dos vales dos rios Tigre e Eufrates. As primeiras aldeias se formaram ao norte (Alta Mesopotâmia), já que ali a agricultura era mais fácil, pois não sofria com as inundações, muitas vezes violentas, dos dois rios. A parte do sul do território (Baixa Mesopotâmia) só foi povoada quando as técnicas de irrigação já tinham sido desenvolvidas pelos povos que ali habitavam, como os sumérios, os acádios e os caldeus.
Ao mesmo tempo que as obras de irrigação eram construídas para controlar a força das águas dos rios, cidades foram sendo criadas. Os primeiros centros urbanos de que se tem notícia na História se encontram na Baixa Mesopotâmia: Lagash, Ur, Eridu e Uruk surgiram por volta do 4º milênio a.C., fundadas pelos sumérios.
Atribui-se, também, aos sumérios a criação da escrita cuneiforme, uma das mais antigas formas de escrita que se conhece. A utilização da escrita demonstra a complexidade que a sociedade mesopotâmica estava atingindo. O comércio e a contabilidade de bens foram os primeiros registros que a escrita cuneiforme anotou.
Babilônia
As cidades sumerianas eram independentes umas das outras, possuindo leis e governos próprios. Mas foi a rivalidade entre elas, pelo maior controle sobre as terras férteis às margens dos rios, que as enfraqueceu, possibilitando que um povo vindo da Síria as conquistassem: os amoritas.
Os amoritas que, por volta de 2500 a.C. chegaram na região, a partir de 1900 a.C., se estabeleceram como governantes supremos de grande parte da Mesopotâmia. Babilônia, uma cidade as margens do rio Eufrates, passou a ser sede do Império que se formava: o Império Babilônico, e por isso os amoritas passaram a ser conhecidos como babilônicos.
Dentre os reis babilônicos, um merece grande destaque, Hamurabi, que governou durante a primeira metade do século 18 a.C.. Seus grandes feitos foram a unificação de grande parte das cidades sumerianas e o desenvolvimento da navegação pelos rios para facilitar o controle de seus domínios e, também, para ampliar o comércio entre a Alta e a Baixa Mesopotâmia.
Seu maior legado para a humanidade foi o Código de Hamurábi, um dos primeiros códigos de leis escrito na História, também conhecido como Lei de talião, pois as punições para os crimes eram muito rigorosas ("olho por olho, dente por dente").
Assírios e caldeus
Após a morte de Hamurábi, os babilônicos enfrentaram diversas revoltas das cidades dominadas, o que vai levar ao declínio de seu poder, facilitando a invasão dos assírios, povo que vivia ao norte da Mesopotâmia, e conseguiu se impor sobre o Império Babilônico usando de um violento poder militar.
O Império Assírio durou de 1300 a.C. até 612 a.C. Dentre seus reis, merece destaque Assurbanípal, que foi responsável pela maior extensão territorial da Mesopotâmia, incluindo até mesmo o Egito e, também, pela construção da Biblioteca de Nínive, um dos maiores acervos de plaquetas de argilas da Antiguidade.
Devido à imensa crueldade com que os assírios tratavam os povos dominados, eram frequentes as revoltas que tiveram que enfrentar, e em 612 a.C., várias cidades da Baixa Mesopotâmia se uniram sob a liderança dos caldeus, que acabam por tomar o poder.
Sob o controle político dos caldeus, a Babilônia voltou a ser a capital do novo império formado, por isso foi chamado de Segundo Império Babilônico, o mais curto dos períodos polítcos da Mesopotâmia, pois durou de 612 a.C. até 539 a.C..
Nabucodonossor foi o mais importante imperador dessa nova fase política. Organizou a cidade da Babilônia, transformando-a num dos maiores centros comerciais da Antiguidade; construiu templos e palácios, dentre eles o famoso palácio com "jardins suspensos" (pois as plantas ficavam na parte mais alta da construção). Ele também foi responsável pela conquista dos hebreus, povo que habitava o vale do rio Jordão, conduzindo-os como escravos para a Babilônia, episódio contado pela Bíblia.
Pouco mais de 20 anos depois da morte de Nabucodonossor, chega ao fim o período de independência política da Mesopotâmia, que foi invadida e conquistada pelos persas, povo originário do planalto iraniano, que estava em pleno processo de expansão territorial.
Érica Turci é historiadora e professora de história formada pela USP.
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