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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Greve da PM na Bahia: Cerveja foi a mercadoria preferida dos saqueadores aos supermercados.



A bebida foi a mercadoria mais roubadas por jovens, adultos, crianças e até famílias, segundo relato de funcionários e seguranças das lojas visitadas pelo CORREIO.

 

Mesmo sem o peixe garantido, não vai faltar a cervejinha neste feriadão de Semana Santa — pelo menos para os saqueadores a supermercados de Salvador, que agiram nos três dias de greve da Polícia Militar.
A bebida foi a mercadoria mais roubadas por jovens, adultos, crianças e até famílias, segundo relato de funcionários e seguranças das lojas visitadas pelo CORREIO, que, ontem, flagrou uma sucessão de saques à Cesta do Povo de Cajazeiras X.
Não por acaso, a bebida era a mercadoria que enchia os carrinhos dos saqueadores. O flagrante foi registrado ontem, mas a loja vinha sendo roubada desde a noite da última quarta-feira, após um grupo abrir um buraco de 60 m de altura e 80 m largura, na lateral do prédio. 
Rastro de destruição na Cesta do Povo, em Cajazeiras X: após saques seguidos, população incendiou loja(Foto: Mauro Akin Nassor)
Em seguida, o grupo  derrubou uma das portas e uma multidão entrou. Uma guarnição da 13ª Delegacia (Cajazeiras) espantou parte dos saqueadores, que voltou após a saída dos agentes e, com raiva, ainda incendiou a loja.
Por volta das 10h de ontem, a fumaça ainda saía do prédio, mas a população ignorava o risco de o teto desabar, para retirar as sobras. A distância, a equipe do CORREIO flagrou grupos de motociclistas, motoristas e pedestres levando caixas de cerveja, refrigerantes e energéticos.
Os mais ágeis eram os motociclistas. Em dupla, iam e voltavam com pacotes de Skol, Skin e Grau. Mulheres contavam com os filhos para carregar as “compras”. “Bora menino com isso aí. Sua tia está esperando”, disse uma senhora a uma das três crianças. As bebidas eram transportadas em carrinhos da própria loja.
Saqueador empurra carrinhos de compras, da própria loja, lotado delatas de  cervejas
(Foto: Mauro Akin Nassor)
Duas pessoas foram detidas por agentes da 13ª Delegacia  (Cajazeiras) para averiguação, entre elas um adolescente de 17 anos. “Ia cortar o cabelo quando fui abordado pela polícia”, justificou. O outro detido, um auxiliar de serviço gerais, também negou que fizesse parte dos saqueadores.
Churrascão
Na Cesta do Povo de Alto de Coutos, arrombada na quarta, as bebidas também foram os produtos mais disputados. Segundo populares, um grupo de moradores usou um pé-de-cabra para ter acesso ao local.
“Essa loja tinha mais cerveja do que comida. No mesmo dia, uma turma fez um churrascão com o que foi levado”, disse um rodoviário. Na madrugada de quarta, a Cesta do Povo do Ogunjá foi arrombada — cervejas e alimentos foram levados.
O presidente da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), que administra as lojas da Cesta do Povo, Eduardo Sampaio, confirmou que a greve ter ocorrido próximo à Semana Santa contribuiu para os saques de bebidas e pescados. “Como esse é um período de pré Semana Santa, e estávamos bem abastecidos, roubaram bacalhau, camarão, salmão, pescada amarela, além das bebidas, que foram alvo da maior parte dos saques”, disse.
Aglomeração na porta da loja: crianças e até famílias participaram de arrastão a mercado
(Foto: Mauro Akin Nassor)
Sampaio estima o prejuízo em R$ 2 milhões. As lojas de Cajazeiras X, Caixa D'Água e Alto de Coutos podem não ser reabertas. Já as unidades do Ogunjá, São Thomé de Paripe, Barros Reis, Estrada das Barreiras e Castelo Branco funcionam amanhã, a partir das 12h, com reforço na segurança.
Prejuízo  
Também no Ogunjá, o G Barbosa sofreu ataques — foram levados TVs e micro-ondas. Em Brotas, o Bompreço foi invadido por cerca de 30 pessoas. Segundo funcionários, foram roubados cerveja, uísque, refrigerante, carnes e peixes. Ainda na quarta, 50 pessoas invadiram o Hiper Bompreço da Garibaldi e levaram bebidas, roupas e eletrônicos.  
Buraco aberto, na última quarta, pela população em uma das laterais da Cesta do Povo(Foto: Mauro Akin Nassor)
A assessoria do GBarbosa informou que não vai divulgar o prejuízo durante a greve. Já o Bompreço disse que está concluindo um levantamento dos saques.

Após acordo, policiais militares decidem encerrar a greve na Bahia.

Greve foi deflagrada durante assembleia no início da noite da última terça (15)
Os policiais militares e bombeiros da Bahia decidiram encerrar a greve deflagrada no início da noite da última terça (15). O coordenador-geral da Aspra, Marco Prisco, apresentou os itens da contra-proposta elaborada pelo Governo do estado, em assembleia realizada no Wet'n Wild, na tarde desta quinta-feira (17), e perguntou aos policiais se eles aprovavam. A maioria levantou as mãos, em sinal de que aprovava o fim da paralisação, gritando em coro "ô, ô, a PM voltou". 

Detalhes do acordo que pôs fim à greve dos militares ainda não foram divulgados. A contra-proposta do Governo foi elaborada durante a madrugada e apresentada aos líderes dos grevistas pelo coronel da Polícia Militar Alfredo Castro na manhã desta quinta (17), no Quartel do Comando Geral da Polícia, nos Aflitos. O arcebispo-primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, foi convidado para participar da reunião e abençoou o acordo. 
Dom Murilo Krieger acompanhou a assembleia no Wet (Foto: Yuri Almeida/Reprodução/Twitter)
A categoria, que reúne pelo menos 34 mil homens na ativa no estado, reivindicava melhoria salarial, mudanças na política remunerativa, plano de carreira, acesso único ao quadro de oficiais, um Código de Ética, aposentadoria com 25 anos de serviço para a Polícia Feminina, aumento do efetivo, bacharelado em Direito para os oficiais, além de elevação de toda a tropa para o nível superior entre 2014 e 2018.
A assembleia desta quinta-feira (17) contou com as diversas associações da categoria, como a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), a Associação de Praças da Polícia Militar do Estado da Bahia (APPM-BA) e a Associação dos Oficiais da Polícia Militar da Bahia (Força Invicta).

Consenso
Segundo a Secretaria de Comunicação Social do Governo da Bahia (Secom), com o encerramento da paralisação, o Governo do Estado e representantes de entidades de policiais militares vão retomar as negociações para implantação do Plano de Modernização da PM. De acordo com o governo, houve consenso nos seguintes pontos:
- aumento da Gratificação por Condições Especiais de Trabalho (CET) dos praças na proporção de 25% para as funções administrativas, 45% para as operacionais, 65% para os motoristas e Regime de Tempo Integral (RTI) para os oficiais, com atualização da lei;
- retirada para nova discussão da proposta do Código de Ética e rediscussão das propostas do Estatuto e Plano de Carreira;
- rever os processos administrativos e disciplinares referentes à mobilização de 2012;
- e regulamentar o artigo 92 do Estatuto dos Policiais Militares, nas bases a serem negociadas com o Governo do Estado, Associações e PM – o artigo trata dos auxílios alimentação, funeral, fardamento para alunos em formação, transporte e bagagem.

Os pontos listados estão em um documento assinado por dirigentes de seis associações representativas da categoria, o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, e o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa.
Multa
Na tarde de quarta-feira (16), o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), sediado em Brasília, concedeu liminar determinando a imediata paralisação da greve dos policiais militares na Bahia, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 1,4 milhões. A Justiça determinou ainda o bloqueio de bens de Marco Prisco, das associações envolvidas no movimento e de seus dirigentes. 

A decisão foi tomada a partir de pedido urgente ajuizado por meio do Ministério Público Federal (MPF). Segundo a Justiça, o bloqueio de bens visa garantir o ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos, a exemplo do uso da Força Nacional de Segurança Pública para o estado. 
ConsequênciasDurante as 36 horas de greve dos policiais militares, 25 pessoas foram mortas e outras quatros ficaram feridas em Salvador, segundo o boletim diário de ocorrências da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). Entre as vítimas estão crianças, adolescentes e policiais militares. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, nas últimas 24 horas, houve um aumento superior a 100% no numero de agressões físicas por arma de fogo e branca na capital.
Ruas ficaram desertas, lojas foram saqueadas e os pontos de ônibus ficaram vazios por conta do medo da população. Pelo menos 50 pessoas foram presas em flagrante por roubo a mão armada, arrombamentos e saques. Centenas de ônibus deixaram de circular para evitar ataques de vândalos e arrastões. 

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