R$7,7 milhões serão gastos na urbanização do trecho da encosta no Barra Branco, cenário da tragédia da chuva em abril de 2015
A localidade de Barro Branco, na avenida San Martin, em Salvador, ainda precisa conviver com uma cratera. O terreno é como uma ferida aberta na comunidade onde 11 pessoas morreram durante as fortes chuvas que atingiram a cidade em abril deste ano.
Ferragens expostas lembram a demarcação das casas que foram ao chão, em um trecho alto um pelúcia sujo de barro foi apoiado em um pedaço de parede que sobrou, ao lado de uma placa onde se lê: “Construção da encosta do Barro Branco com Área de Lazer”.
A cena foi observada na manhã desta sexta-feira (2), quando o prefeito ACM Neto assinou a ordem de serviço que determina o início da obra, previsto para a próxima segunda-feira (5). Com o início das obras, cerca de 20 casas no local serão demolidas pela própria empresa que fará a requalificação, uma contenção de cimento e grama vai se erguer e a comunidade vai ganhar uma área de convívio que também evitará novas construções irregulares.
Ex-moradora Maria Cecília observa local que ainda guarda marcas da tragédia
(Foto: Alexandro Mota/CORREIO) |
Serão aplicados R$7,7 milhões da prefeitura para conclusão da obra, que abrange uma área de 8,5 mil metros quadrados. Além da contenção, uma praça será construída e o prefeito solicitou durante a solenidade que seus secretários providenciem a instalação de uma academia comunitária ao ar livre. Na área estrutural, será realizado drenagem para o escoamento das águas das chuvas, com 570 metros de galeria tubular e calha.
O evento foi acompanhado por moradores que têm com o local uma relação de más lembranças. “Voltar aqui é muita tristeza, aqui eu perdi minha sogra, meu cunhado, dois sobrinhos. É muita tristeza e ao mesmo tempo é bom ver que está sendo feito algo”, comenta Maria Cecília, 64 anos, nora de Maria José dos Santos, 75 anos, que morreu na tragédia do dia 27 de abril.
É a Secretaria de Infraestrutura e Defesa Civil (Sindec) a responsável pela fiscalização das obras, que será de executada pela empresa MAF Construtora e Incorporadora, contratada pelo regime de conhecido como empreitada por preço unitário (quando o trabalho é executado paulatinamente e pago por unidade de execução). “A principal dificuldade dessa obra é por ser uma área íngreme, fazer uma cortina de contenção vai precisar ser de rapel ou andaime de baixo para cima”, afirma Paulo Fontana, titular da Sindec.
A previsão é de que a obra seja concluída em doze meses. O prazo, no entanto, pode ser menor, de dez meses, mas isso depende justamente de como será o período de chuva do próximo ano, que a depender da intensidade, segundo Paulo Fontana, pode exigir a interrupção da obra, o que fará com que ela seja entregue só em outubro de 2016. A pedido do padre Zé Carlos, da paróquia do bairro, a prefeitura está intermediando com a empresa a contratação de moradores do bairro na obra.
Projeção de como vai ficar a praça abaixo da contenção da encosta
(Foto: Reprodução/AGECOM) |
Novas casasOs antigos moradores não voltarão para o local, serão mantidos no auxílio-moradia até serem contemplados em um programa de habitação. Na avenida San Martim, dois condomínios de apartamentos serão construídos para gerar vagas para esse programa.
O prefeito ACM Neto defende que os dois projetos juntos são “soluções definitivas” para o problema da localidade. “Até o fim do ano nós vamos autorizar a licitação do conjunto habitacional do Barro Branco com 400 casas e outros 150 imóveis no Largo do Tanque, que serão prioritariamente destinadas aos moradores do Barro Branco e do Alto do Peru”, afirmou o prefeito.
O investimento estimado é de R$44 milhões para os dois conjuntos, eles ainda estão em fase de elaboração de projeto. Um deles será na antiga garagem da Viação São Luiz, terreno que já foi decretado de utilidade pública para desapropriação. Segundo Fontana, a empresa de transporte já garantiu a área em troca de um terreno municipal que fica próximo da Usina de Asfalto da prefeitura, no bairro de Pirajá. “Há uma encosta no fundo do terreno (da garagem da São Luiz), estamos já agilizando para que a encosta esteja pronta antes do início das obras do condomínio”, afirmou Fontana.
Outras obrasO prefeito ACM Neto antecipou ontem que na próxima semana deve visitar a região do Marotinho, no Bom Juá, para autorizar as obras de requalificação do local. No Marotinho, quatro pessoas morreram vítimas de deslizamento.
Segundo Paulo Fontana, a capital tem cerca de 440 áreas de risco que demandam obras. Em Brasília, na quinta-feira (1º), o secretário esteve nos dois ministérios responsáveis por repasses de recursos para essas obras. Foram apresentados projetos de outras 28 encostas, distribuídas por toda a cidade, segundo Fontana. Os projetos ainda aguardam aprovação das pastas e custam em média R$40 milhões.
Atualmente outras obras de contenção de encostas estão em andamento na cidade. A Prefeitura está intervindo em 22 encostas este ano, dez já foram entregues, seis têm obras em andamento e outras seis já têm recurso garantido, mas ainda não iniciaram. O investimento municipal é de R$21,5 milhões. Com R$32,6 milhões do governo federal (ministérios das Cidades e da Integração), a prefeitura executa 38 obras de contenção, dessas quatro já foram entregues e sete estão em execução.
Este ano, 12 encostas já foram entregues e outras 21 estão em fase de execução pelo governo do estado. Além disso, 78 contenções estão em fase de projeto ou licitação.O investimento do governo do estado é de R$230 milhões.
Ao lado de parentes de vítimas da tragédia, prefeito ACM Neto faz homenagem
(Foto: Max Haack/AGECOM) |
Vítimas homenageadasO prefeito ACM Neto depositou flores ontem no terreno em homenagem às vítimas da chuva, acompanhado de três moradores que perderam familiares. Ele destacou que o evento de ontem, apesar da euforia de populares, não era um momento de festa, mas de solidariedade às vítimas e seus familiares.
“Ninguém nunca me ouviu dar uma declaração responsabilizando as pessoas que construíram as suas casas nos meios das encostas, se alguém está morando em uma área de risco não é por que quer, mas por que a vida lhe impôs aquela dura realidade”, ponderou.
Durante a homenagem, dona Marivalda Pereira de Oliveira, 69 anos, não conteve as lagrimas. “É muito triste, não foi só por causa da minha filha que me emocionei, foram dois sobrinhos, uma comadre, uma nora, uma cunhada, a nora dela... Era uma grande família”, lembra. Marivalda é mãe de Elaine Oliveira dos Santos, 30 anos.
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