Ao G1, Joselia Aguiar comenta escalação dos autores; 30% são negros. Evento abre nesta quarta com Lázaro Ramos e homenagem a Lima Barreto.
Por Cauê Muraro, G1, Paraty
O recorde de autoras e autores negros na 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) – eles são 30% dos convidados – não se deve a um sistema de cotas raciais. De acordo com a curadora do evento (veja a programação abaixo), que começa nesta quinta-feira (26) e vai até domingo (30), jamais houve um percentual pré-determinado.
"Eu gosto de explicar isso porque as pessoas podem pensar: 'Ah, então foi uma cota!'. Não é nada disso, foi o contrário", afirmou ao G1 Joselia Aguiar, pela primeira vez na função, em entrevista por telefone.
"Quando as pessoas pensam que houve cotas, fica parecendo que eu reservei um lugar, e não era o caso. O que eu fiz: comecei a pensar nos autores negros, nas autoras negras, e brancos e mulheres e homens... Pensei em forma de muitas listas. Brinco que montei uma espécie de Tinder imaginário."
A curadora afirma que a partir dessas combinações é que "no final consegui ter os 30% e ter também a paridade de gênero: 24 mulheres e 22 homens".
Segundo ela, "isso aí eu tive de tomar conta, porque você acaba recebendo mais sugestões de autores homens, no sentido de que os editores publicam mais homens, os homens historicamente escreveram mais, publicaram mais, foram mais premiados e ainda por cima viajam com mais prontidão".
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Neste ano, a organização optou por convidados que estão nas margens (ou "subúrbios") da literatura internacional.
Em anos anteriores, a Flip trouxe autores consagrados e, em alguns casos, ganhadores do Nobel. Agora, embora haja escritores premiados, o que chama a atenção é o grande número de "desconhecidos".
Os participantes não recebem cachês para vir ao evento. "Isso nunca impediu a Flip de trazer grandes autores, prêmios Nobel...", afirma Joselia Aguiar. "O autor recebe o convite e entende que vai ser importante para ele apresentar a obra. E muitas vezes ele tem curiosidade de conhecer o lugar, o povo, porque pode ser uma experiência inclusive artística."
O orçamento da Flip 2017 é de R$ 5,8 milhões, ou R$ 1 milhão a menos do que do ano passado, confirmando uma recente tendência de queda.
A organização informou ao G1 dados das últimas sete edições. Os orçamentos foram: 2010 (R$ 6,3 milhões), 2011 (R$ 6,8 milhões), 2012 (R$ 8,4 milhões), 2013 (R$ 8,6 milhões), 2014 (R$ 8,5 milhões), 2015 (R$ 7,4 milhões) e 2016 (R$ 6,8 milhões).
Lázaro Ramos abre a Flip
O homenageado da Flip 2017 é Lima Barreto (1881-1922), conhecido por obras como "Triste fim de Policarpo Quaresma".
Na sessão de abertura, às 19h15 desta quarta, o ator e escritor Lázaro Ramos dará voz ao autor em apresentação criada por Lilia Schwarcz, autora da recém-lançada biografia "Lima Barreto: Triste visionário" (Companhia das Letras). A direção de cena será de Felipe Hirsch.
Em seguida, às 21h30, haverá um show do pianista André Mehmariem que ele vai tocar uma música inspirada em Policarpo Quaresma. No recital, o arranjador e compositor vai mostrar a inédita "Suíte Policarpo", criada especialmente para a Flip. O número vai ter quatro movimentos: modinha, valsa, dobrado e maxixe.
Mehmari também vai interpretar a obra de Ernesto Nazareth (1863-1934), descrito como "um dos gênios no período de formação da música brasileira no Rio da virada para o século 20, época em que viveu Lima Barreto".
Atrações
Dentre os destaques da programação, estão Marlon James, primeiro jamaicano e um dos três negros a vencer o Man Booker Prize, o principal da literatura britânica e um dos mais reconhecidos da literatura internacional.
Ele será acompanhado em debate no sábado pelo americano Paul Beatty, outro negro também agraciado com o Booker Prize.
A chilena Diamela Eltit, conhecida pelo trabalho experimental, irá falar de "literatura latino-americana, as relações entre arte e política, feminismo e contracultura e sua trajetória como autora e ensaísta entre a América Latina e Estados Unidos".
Scholastique Mukasonga, conhecida pela obra que reflete sobre o genocídio de Ruanda, também participa, assim como as brasileiras Conceição Evaristo e Ana Maria Gonçalves.
A 15ª Flip conta ainda com participações de William Finnegan, repórter da revista "The New Yorker" que cobriu conflitos na África e vencedor do Pulitzer; a jornalista argentina Leila Guerriero; o francês Patrick Deville, escritor-viajante que pratica o que chama de romance de não ficção; a britânica da África do Sul Deborah Levy; o islandês Sjón, letrista de sucesso em parcerias com Björk; e o rapper e ativista Luaty Beirão, dentre outros.
Debates na Igreja Matriz
Em 2017, a programação principal da Flip acontece dentro da Igreja Matriz, que fica na área central do centro histórico de Paraty. Até o ano passado as mesas de debates aconteciam na então chamada Tenda dos Autores, na margem oposta do canal que corta a cidade.
Também na área da Praça da Matriz, está montado o Auditório da Praça, onde foi instalado um telão para transmissão ao vivo das mesas literárias. Há 700 lugares cobertos e tradução simultânea. A entrada é de graça.
Já para assistir aos debates na igreja, as entradas custam R$ 55 (veja o serviço abaixo). De acordo com a assessoria da Flip, nenhuma mesa teve os ingressos esgotados, mas restam poucos. Em edições anteriores, os ingressos para os debates mais concorridos acabavam em questão de horas.
Veja, abaixo, a programação da Flip 2017:
Quarta-feira (26)
- 19h15: Mesa 1 – Sessão de abertura – "Lima Barreto: Triste visionário". Com Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz.
- 21h30: Show de abertura – André Mehmari apresenta a "Suíte Policarpo", inspirada na obra de Lima Barreto
Quinta-feira, (27)
12h: Mesa 2 – "Arqueologia de um autor". Com Beatriz Resende, Edimilson de Almeida Pereira e Felipe Botelho Corrêa.
15h: Mesa 3 – "Pontos de fuga". Com Carol Rodrigues, Djaimilia Pereira de Almeida e Natalia Borges Polesso.
17h15: Mesa 4 – "Fuks & Fux". Com Julián Fuks e Jacques Fux.
19h15: Mesa 5 – "Odi et amo". Com Frederico Lourenço e Guilherme Gontijo.
21h30: Mesa 6 – "Em nome da mãe". Com Noemi Jaffe e Scholastique Mukasonga.
Sexta-feira (28)
- 12h: Mesa 7 – "Moderno antes dos modernistas". Com Antonio Arnoni Prado e Luciana Hidalgo.
- 15h: Mesa 8 – "Subúrbio". Com Beatriz Resende e Luiz Antonio Simas.
- 17h15: Mesa 9 – "Na contracorrente". Com Pilar del Río e Niéde Guidon.
- 19h15: Mesa 10 – "A contrapelo". Com Carlos Nader e Diamela Eltit.
- 21h30: Mesa 11 – "Por que escrevo". Com Deborah Levy e William Finnegan.
Sábado (29)
- 12h: Mesa 12 – "Foras de série". Com Ana Miranda e João José Reis.
- 15h: Mesa 13 – "Kanguei no maiki – Peguei no microfone". Com Luaty Beirão e Maria Valéria Rezende.
- 17h15: Mesa 14 – "Mar de histórias". Com Alberto Mussa e Sjón.
- 19h15: Mesa 15 – "Trótski e os trópicos". Com Leila Guerriero e Patrick Deville.
- 21h30: Mesa 16 – "O grande romance americano". Com Marlon James e Paul Beatty.
Domingo (30)
- 12h: Mesa 17 – "Amadas". Com Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo.
- 15h: Mesa 18 – "Livro de cabeceira". Autores convidados leem trechos de suas obras favoritas. Com Alberto Mussa, Ana Miranda, Djaimilia Pereira de Almeida, Patrick Deville, Paul Beatty, Scholastique Mukasonga e William Finnegan.
Flip 2017
Quando: de 26 a 30 de julho
Onde: Paraty (RJ)
Ingressos: R$ 55 para cada mesa (com meia-entrada);
Onde comprar: durante a Flip, entre 26 e 30 de julho, a venda aocntece só em Paraty, na bilheteria oficial localizada em local próximo à Praça da Matriz, no Centro Histórico; nos dias 26 a 29 de julho, das 10h às21h30, e em 30 de julho, das 10h às 15h30.
Vendas exclusivas para moradores de Paraty: 28 e 29 de junho, das 10h às 18h, na Agência Paraty Tours: Avenida Roberto Silveira, 479. Pagamento somente em dinheiro e mediante apresentação de comprovante de residência e documento de identidade. Sem taxas de conveniência.
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