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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Arqueólogo Encontra Relíquias que Comprovariam a Existência do Rei Davi

"As pessoas têm de aprender a ler a Bíblia. Há questões que podem ser interpretadas do ponto de vista histórico e outras, não" Yosef Garfinkel, arqueólogo, na foto com um dos objetos descobertos na escavação

Um dos mais renomados arqueólogos bíblicos, o israelense Yosef Garfinkel anunciou ontem que, depois de cinco anos de escavações no Vale de Elá, a cerca de 30 quilômetros de Jerusalém, sua equipe encontrou ferramentas e artefatos de ferro e cerâmica em três santuários de pedra que, de acordo com ele, eram do tempo de Davi e, mais tarde, foram anexados ao Primeiro Templo de Salomão. As peças são as mais antigas já descobertas referentes aos primeiros monarcas judaicos, descritos pela Bíblia no Livro dos Reis. Além das escrituras sagradas, não há outras fontes que citem esses reis.

Santuário Datados com carbono 14 na Universidade de Oxford, no Reino Unido, os objetos foram produzidos entre 1020 a.C. e 980 a.C., quando Davi teria governado a Fortaleza de Kuttamuwa, onde hoje é o sítio arqueológico. Os artefatos, segundo Garfinkel, eram usados em cultos religiosos.

Relicário de barro escavado próximo a Jerusalém: produzido há cerca de mil anos


Trata-se de cinco blocos de pedra, dois altares de basalto, dois vasos de cerâmica e dois oratórios portáteis, um de cerâmica, com 20cm de altura, e outro de pedra, com 35cm. O relicário de argila tem uma fachada elaborada, na qual se veem dois leões, uma porta principal, um pano dobrado, dois leões (símbolo da tribo de Judá, à qual Davi pertencia) e três pássaros pousando no telhado.


O santuário de pedra é feito de calcário fino, pintado de vermelho, com o estilo de arquitetura semelhante ao dos templos gregos, como o Parthenon. No alto, há um elemento de entalhe chamado triglifo, caracterizado por sulcos que se intercalam. “Nossa descoberta tem importância mundial, pois é o mais antigo exemplo desse tipo de arquitetura”, conta Garfinkel.

Segundo ele, durante muito tempo, o livro dos Reis foi entendido de maneira errada. A expressão slaot, traduzida como “pilar”, seria, na verdade, o triglifo. O tipo de porta, embutida, também é descrito na Bíblia, tanto tem Reis quanto em Ezequiel. “Escavar esses objetos foi como entrar em uma cápsula do tempo”, empolga-se o especialista.




O arqueólogo garante que o estilo dos artefatos mostra que os frequentadores do tabernáculo respeitavam orientações judaicas, de proibir a reprodução de imagens humanas em objetos decorativos e esculturas. Dessa forma, não se poderiam atribuir os objetos a religiões politeístas, como a dos cananeus e dos filisteus.


Na Fortaleza de Kuttamuwa, há outros indícios de obediência às leis judaicas, como a de não comer porco nem oferecer esse animal em sacrifício. “Já descobrimos milhares de ossadas de outros animais, como ovelhas, cabras e bois, mas jamais encontramos ossos de porcos”, diz Garfinkel, cujas descobertas foram publicadas no livro Footsteps of king David in the Valley of Elah (Pegadas do rei Davi no Vale de Elá, em tradução livre), lançado ontem em Jerusalém.

Para o arqueólogo, as descobertas fornecem evidências fortes que contradizem os acadêmicos para quem Davi não existiu ou foi apenas liderou uma tribo pouco significativa.


Foram encontradas casas na cidade cuja altura é exatamente duas vezes sua largura, como são muitos edifícios de Jerusalém. Esse seria o teste de conexão entre a capital e o que se acredita que foi a cidade bíblica de Saaraim, habitada nos tempos de Davi e Salomão e mencionada nos livros de 1 Samuel e 1 Crônicas.

“Saaraim, aqui no Vale de Elá, significa “duas portas”. É uma cidade única do período do Primeiro Templo, pois possuía duas portas de entrada, todas as outras tinham apenas uma”, disse.
Para os pesquisadores, essas últimas descobertas reforçam a corrente de estudo que vê na Bíblia um relato confiável dos acontecimentos históricos. “A precisão das descrições não nos deixa outra opção, mas quem ainda não acredita me explique como tal similaridade é possível”, finaliza Garfinkel.



Hershel Shanks, editor da revista Biblical Archaeology Review, disse ao Christian Post que as descobertas são “extremamente interessantes” e que nem 20% do local foi escavado ainda, então o mais é provável que podem haver algumas surpresas pela frente”.

“Esta é a primeira vez que arqueólogos descobrem uma cidade fortificada de Judá, datando do tempo do rei Davi. Mesmo em Jerusalém não temos uma cidade fortificada desse período. E a riqueza decorativa e arquitetônica mostra que era um local culturalmente avançado, então, o argumento de que ele era uma figura mitológica ou líder de uma pequena tribo pode estar errado”, acrescenta.

Achados não podem ser dissociados de contextos
Historiador e arqueólogo com ênfase em judaísmo helenístico e paleocristianismo, o professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) André Chevitarese faz ressalvas às descobertas de Yosef Garfinkel. Ele conta que o ramo da arqueologia bíblica teve início no século 19, tendo como proposta “materializar aquilo que não pode ser explicado”. “Em um mundo cada vez mais laico, em que o ‘deus ciência’ se instaura no Ocidente, as experiências religiosas foram objeto de intensas críticas. A arqueologia bíblica surge como o lugar da materialidade, da prova da experiência de fé, tanto no judaísmo quanto no cristianismo”, afirma.

Com informações do:  pr. jose iadrn 

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