Cláudio Melo Filho disse que o presidente pediu, em 2014, R$ 10 milhões ao empreiteiro Marcelo Odebrecht. Presidência disse repudiar delação.
No acordo de delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrechet Cláudio Melo Filho dedica um capítulo ao relacionamento que tinha com o presidente Michel Temer. Os relatos fazem parte de um depoimento de 82 páginas que ele deu ao Ministério Público, no qual fala sobre doações da empresa a políticos.
A informação de que Temer solicitou dinheiro à Odebrecht está em material entregue pelo executivo nos termos de confidencialidade – espécie de pré-delação que antecede a assinatura do acordo.
Em nota divulgada na noite desta sexta-feira (9), o Palácio do Planalto informou que o presidente Michel Temer "repudia com veemência" o conteúdo da delação de Melo Filho. "O presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho. As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente.", diz o texto da nota.
O ex-diretor afirmou que Temer atuava de forma "muito mais indireta, não sendo seu papel,em regra, pedir contribuições financeiras para o partido, embora isso tenha ocorrido de maneira relevante no ano de 2014".
No entanto, segundo Cláudio , ao menos uma vez Temer pediu doações pessoalmente. Foi durante um jantar no palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República. Também estavam presentes, segundo ele, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Cláudio disse: "eu participei de um jantar no Jaburu juntamente com Marcelo Odebrecht, Michel Temer e Eliseu Padilha, atual ministro da Casa Civil. Michel Temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro para as campanhas do PMDB em 2014".
O delator afirma ainda que ele e Odebrecht foram recebidos no palácio por Padilha e, como Temer ainda não tinha chegado, ficaram os três "conversando amenidades em uma sala à direita de quem entra na residência pela entrada principal". "Após a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumínio", completou.
Melo Filho também disse que, no jantar, Marcelo Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 10 milhões. Ele afirmou ainda que o local escolhido para o encontro foi "claramente" uma opção para dar mais "impacto" ao pedido de Temer.
"Acredito que, considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões. Claramente, o local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião", afirmou o delator ao Ministério Público.
"Inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo se referiu à ajuda definida no jantar, fazendo referência a Temer como "MT", completou.
O ex-diretor disse que, do total de R$ 10 milhões prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer, Eliseu Padilha ficou responsável por receber e alocar R$ 4 milhões.
"Compreendi que os outros R$ 6 milhões, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o Paulo Skaf, na época candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB", explicou Melo Filho.
Procurado pela reportagem, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que nunca pediu e nem autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não fosse regularmente declarada em suas prestações de contas eafirmou que todas elas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Ainda segundo o delator, os R$ 4 milhões foram destinados a Padilha, sendo que um dos endereços para entrega foi o escritório de advocacia de José Yunes, hoje assessor especial da Presidência da República, o que deixa a entender que o repasse foi em dinheiro vivo.
Melo Filho conta que também levou a Temer recado de Marcelo Odebrecht sobre um questionamento feito ao empreiteiro pela então presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster.
O delator contou que o recado de Odebrecht para Temer era que Graça Foster havia perguntado sobre a existência de pagamentos da empreiteira a nomes do PMDB durante a campanha eleitoral de 2010.
Para fazer chegar a Temer seus pleitos, Melo Filho afirma que se valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, atual secretário no Planalto, que o representavam. Essa era uma via de mão dupla, pois, segundo Melo Filho, Temer também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos operacionalizados via Eliseu.
"Para fazer chegar a Michel Temer os meus pleitos, eu me valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, que o representavam. Essa era uma via de mão dupla, pois o atual presidente da República também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que participei, operacionalizado via Eliseu Padilha", afirmou o delator.
Cláudio deu um exemplo de contrapartida: "Michel Temer, em uma oportunidade, esteve disponível para ouvir tema de interesse da Odebrecht. Este foi o caso de uma viagem institucional que seria realizada por Michel Temer a Portugal, país em que a Odebrecht tem atuação. Entreguei nota a Michel Temer sobre a atuação da companhia em Portugal. Esse exemplo deixa claro a espécie de contrapartida institucional esperada entre público e privado", explica Melo Filho.
Trâmite
Agora, Cláudio Melo Filho detalhará o que contou, nos próximos dias, na delação premiada propriamente dita.
Todos os depoimentos dos 77 executivos da Odebrecht que assinaram a delação serão tomados pela Procuradoria-Geral da República.
Devem ir para a homologação pelo ministro Teori Zavascki, no Supremo Tribunal Federal, depois do recesso, a partir de fevereiro ou março do ano que vem.
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