Durante o processo de impeachment da presidente Dilma, reiteradas vezes fui à tribuna da Câmara dos Deputados dizer que não era correto tirar do poder uma presidente que não tinha cometido crime de responsabilidade fiscal para entregar a gestão do País à turma de Eduardo Cunha (PMDB). Após a consumação do injusto processo de impeachment, apareceram várias gravações de figuras relevantes do PMDB - áudios entregues aos investigadores pelo atravessador peemedebista, Sérgio Machado -, revelando a trama para derrubar a presidente Dilma. Líderes do PMDB diziam que seria fundamental derrubar Dilma para estancar a Operação Lava Jato.
Recentemente, o Brasil tomou conhecimento de uma articulação entre o governo Michel Temer e um grupo de parlamentares envolvidos na Lava Jato, visando aprovar no Congresso Nacional uma anistia ao Caixa Dois das campanhas eleitorais. Quando as ruas reagiram, o Temer convocou entrevista coletiva às pressas, em um domingo à tarde, para dizer que não estava participando daquela articulação e que vetaria a anistia ao Caixa Dois, caso o projeto fosse aprovado. Puro jogo de cena. Temer estava envolvido até a medula naquela trama de autoproteção dos principais personagens da Lava Jato.
Agora, Michel Temer tem o nome citado 43 vezes por um dos delatores da Odebrecht e continua dizendo que não tem "nada a ver com isso". Temer é um desinformado? Um ingênuo? Um santo? Quantas vezes será preciso ele ser citado para que a Câmara Federal instale a comissão do seu impeachment, cujo pedido foi protocolado há algum tempo, ou o próprio Temer entenda que perdeu as condições éticas e está perdendo as condições políticas para continuar na Presidência da República?
Esquece Michel Temer que delatores têm consciência de que a mentira ou a falta de provas causa a perda dos privilégios jurídicos de redução de pena. Seria este delator tão descuidado a ponto de citar Temer 43 vezes, em detalhes, e não ter nenhuma prova? A verdade é que o governo Temer acabou. Aliás, parafraseando o ex-presidente Lula, "nunca na história deste País" tivemos um governo tão medíocre e tão submisso aos interesses mais obscuros da sua base de apoio.
Com apenas seis meses de mandato, Temer já foi obrigado - sim, ele foi obrigado, porque por sua vontade não sairiam - a demitir seis ministros por problemas éticos e falta de decoro. Um governo frágil, indeciso e refém do Parlamento. A última prova de fragilidade deste governo foi o recuo na indicação do deputado Antônio Imbassahy, do PSDB, para a Secretaria de Governo. Partido também multiplamente citado na Lava Jato.
O Brasil não pode continuar sendo administrado, mais 24 meses, por essa confraria de delatados do PMDB, que trama pelos cantos dos palácios de Brasília a autoproteção jurídica. O País não aguentará. Só há dois caminhos para que o Brasil volte à normalidade democrática e retome a trajetória de crescimento: renúncia ou impeachment de Michel Temer.
Alerto para o fato de que ainda está faltando a delação premiada do ex-deputado e membro da cúpula peemedebista Eduardo Cunha, que conhece como poucos o modus operandi da turma do PMDB. Com a palavra aqueles e aquelas que foram às ruas tirar do poder uma mulher digna, que foi vítima de um erro histórico provocado por parte do Congresso Nacional.
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