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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ebola: há risco de epidemia nos EUA?.


Credito: AP
Os Estados Unidos confirmaram nesta quarta-feira mais um caso de ebola, o segundo transmitido dentro do país. Como o vírus chegou e começou a se espalhar em um dos países mais ricos do mundo?
A epidemia que atinge a África Ocidental é a pior que já houve. Mais de 9 mil casos da doença foram confirmados e cerca de 4,4 mil pessoas morreram, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Thomas Eric Duncan, o primeiro paciente diagnosticado já nos EUA, veio de um dos países mais afetados pela epidemia, a Libéria, e morreu cerca de duas semanas depois. Ele passou por testes em um aeroporto americano e foi liberado pelo hospital da primeira vez que buscou ajuda.
Para que Duncan infectasse outras pessoas, também ocorreram falhas. Autoridades americanas disseram que houve um erro no protocolo de segurança por parte dos profissionais de saúde infectados, enquanto médicos e enfermeiros envolvidos apontaram falta de treinamento e de roupas de proteção adequadas.
Há risco para outros americanos? Esses foram os primeiros pacientes com ebola no país? A BBC ajuda a entender a evolução do ebola nos EUA.

Quem são os pacientes dos EUA?

O liberiano Thomas Eric Duncan foi diagnosticado com ebola em Dallas, no Texas, no dia 30 de setembro, dez dias depois de chegar nos EUA para visitar sua ex-namorada e o filho de 19 anos do casal.
Ele trabalhava como motorista para um serviço postal e morava no subúrbio de Monróvia, capital da Libéria.
Duncan foi liberado na primeira vez que procurou hospital
Apesar de ter recebido tratamento intensivo no hospital, com o uso de uma forte droga experimental, Duncan morreu no dia 8 de outubro.
No dia 12, oficiais americanos anunciaram que uma enfermeira que tinha tratado do liberiano antes de ele morrer também estava infectada, de acordo com um teste preliminar.
Nina Pham, de 26 anos, se contaminou durante a segunda ida de Duncan ao hospital, quando ele foi diagnosticado com ebola.
Leia mais: Entenda o que é o ebola e como a doença mortal se espalha
Thomas Frieden, funcionário de alto escalão do departamento de Saúde dos EUA, disse, a princípio, que a enfermeira havia sido contaminada porque houve um erro no protocolo de segurança dos profissionais de saúde do hospital.
No entanto, enfermeiros que trabalham no hospital disseram que receberam pouca instrução e roupas inadequadas para lidar com a infecção.
O paciente diagnosticado com ebola nesta quarta-feira não foi identificado. A única informação divulgada é que a pessoa também estava na equipe que atendeu Duncan.

Essas foram as primeiras pessoas nos EUA a ter ebola?

Não. Um pequeno número de trabalhadores humanitários americanos que contraíram o vírus no exterior se recuperaram depois de voltar para os EUA. Mas Duncan foi o primeiro a ser diagnosticado dentro os EUA, e Pham foi a primeira pessoa a contrair o vírus no país.
Três desses trabalhadores foram colegas no mesmo hospital na Libéria. Kent Brantly e Nancy Writebol foram levados de volta para Atlanta para tratamento, enquanto Rick Sacra, um clínico geral de Massachusetts, se recuperou em Nebraska.
Nancy Writebol se curou após tratamento nos EUA
Outro americano que contraiu ebola, o cinegrafista da rede de televisão NBC Ashoka Mukpo, foi levado da Libéria para os EUA e está sendo tratado no Centro Médico de Nebraska, em Omaha.
Um quarto americano, que não foi identificado, também se recuperou depois de ser levado de avião para Atlanta.

Sabemos como Duncan foi infectado?

Acredita-se que ele tenha entrado em contato com Marthalene Williams, uma jovem infectada por ebola na Libéria em 15 de setembro, de acordo com uma reportagem do New York Times.
Duncan teria ajudado a levá-la ao hospital, mas ela não foi internada devido à falta de espaço na ala de tratamento para ebola. Ele ajudou a levá-la para casa, onde a jovem morreu horas depois.
Mais tarde, o irmão de Williams, Sonny Boy, também teve sintomas do ebola e morreu a caminho de um hospital local.

Como uma pessoa infectada entra nos EUA sem ser notada?

Duncan passou pelos testes para sintomas do ebola no Aeroporto Internacional Roberts, perto da capital da Libéria, Monróvia. Ele não apresentava nenhum sinal do vírus e foi autorizado a embarcar em um voo da Brussels Airlines para Bruxelas, na Bélgica, e depois para o aeroporto de Washington Dulles e, finalmente, para Dallas-Fort Worth.
Leia mais: Examinar passageiros de avião para evitar ebola é inútil, diz especialista
Binyah Kesselly, presidente do conselho da Liberia Airport Authority, disse que é "quase impossível" identificar uma pessoa infectada com o vírus ebola se ela não tiver sintomas.
O Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA rechaça a ideia de isolar os países afetados pelo ebola porque, segundo eles, isso pode piorar a epidemia ao interromper o fluxo de ajuda.

Pacientes com ebola fora da África Ocidental*

*Exceto em um caso na Espanha e dois nos EUA, os pacientes foram infectados na África Ocidental

Os passageiros que estavam no voo de Duncan estão em perigo?

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) não planeja monitorar os passageiros que estavam nos voos em que Duncan viajou para os Estados Unidos.
Segundo o diretor do CDC, Thomas Frieden, Duncan não foi considerado infeccioso naquela época e apresentou "risco zero de transmissão" para os passageiros na aeronave.
Segundo infectologistas, o ebola só pode ser transmitido quando a pessoa apresenta sintomas da doença, como febre, vômito ou diarreia.
Leia mais: Saiba como evitar o contágio por ebola

O quão perigoso é o ebola?

  • Os sintomas incluem febre alta, sangramento e danos ao sistema nervoso central
  • Se espalha por fluidos corporais, como sangue e saliva
  • A taxa de mortalidade pode chegar a 90% , mas surto atual ela está em cerca de 70%
  • O período de incubação é de dois a 21 dias
  • Não há vacina ou tratamentos comprovadamente eficazes
  • Tratamentos auxiliares como reidratação de doentes que têm diarréia e vômito podem ajudar na recuperação
  • Morcegos que se alimentam de frutas, uma iguaria para alguns africanos ocidentais, são considerados hospedeiros naturais do vírus

O ebola pode se espalhar pelos EUA?

Tom Frieden, diretor do CDC, alertou que outros casos podem surgir.
Autoridades americanas acreditam que podem conter o vírus
Ele disse que 48 pessoas que podem ter tido contato com Duncan estavam sendo monitorados para sintomas enquanto era realizada uma investigação para descobrir como a nova infecção poderia ter ocorrido.
A única pessoa possivelmente exposta a Pham também está sendo monitorada.
No entanto, as autoridades de saúde expressaram confiança de que podem conter o vírus, porque as condições de saneamento básico nos EUA são muito melhores do que na África.
Os mais céticos apontam entretanto que novos erros na detecção de infectados podem voltar a ocorrer pondo em risco o sistema de segurança preventivo, mas acrescentam que os recursos do país mais rico do mundo são mais do que suficientes para impedir uma disseminação em larga escala.

Duncan deveria ter sido diagnosticado mais cedo?

Duncan procurou atendimento médico no Hospital Texas Health Presbyterian em 25 de setembro. Funcionários do hospital disseram que ele tinha febre baixa e dor abdominal. Exames de sangue básicos foram realizados, mas ele não foi testado para o vírus ebola.
A enfermeira perguntou a Duncan se ele tinha vindo da África, e ele disse que tinha, mas esse detalhe não foi totalmente comunicada à equipe médica, um descuido que o hospital agora diz ser "lamentável".
Duncan recebeu antibióticos e um analgésico e foi mandado para casa, onde seu estado de saúde piorou, diz a irmã.
Em 28 de setembro, um amigo de Duncan entrou em contato com o CDC e foi instruído a ligar para o Departamento de Saúde do Texas, que enviou uma ambulância.

Os hospitais dos EUA estão preparados?

Frieden, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, admitiu que o CDC foi lento ao reagir ao primeiro caso no Texas, mas ele anunciou uma série de novas medidas para o hospital em Dallas onde Pham está internada e também em todo o país.
Os profissionais de saúde dos EUA estavam "muito angustiados" que uma enfermeira pudesse ter sido infectado, ele disse ao estabelecer um novo plano de ação:
  • Um "gestor local" irá verificar como os trabalhadores do hospital de Dallas colocam e tiram a sua roupa de proteção
  • Dois enfermeiros do Hospital da Universidade de Emory, em Atlanta, vão oferecer "treinamento avançado" em Dallas
  • o número de funcionários em contato direto com Pham será limitado
  • uma equipe de resposta imediata vai viajar para o local de eventuais futuros diagnósticos de ebola "dentro de horas"
  • novas diretrizes para testes em hospitais em todo os EUA, com especial ênfase para fazer perguntas sobre o histórico de viagem

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