Michael Brown, de 18 anos, foi morto pela polícia de Ferguson em agosto; decisão de júri levou ativistas a incendiar carros
Manifestantes
queimaram veículos e edifícios e saquearam lojas. A polícia usou gás
lacrimogêneo para tentar conter os manifestantes.
O presidente
americano, Barack Obama, afirmou em um pronunciamento na segunda-feira
que a raiva da população com a decisão judicial é "compreensível", mas
pediu que os protestos fossem realizados de maneira pacífica. Também
solicitou à polícia que lide com as manifestações com "cuidado e
moderação".Mesmo assim, diversos estabelecimentos comerciais foram saqueados e ao menos uma loja de departamentos, um restaurante, uma farmácia e um carro da polícia foram incendiados.
Tropas de choque equipadas com blindados para controle de multidões lançaram jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra a multidão. Os manifestantes arremessaram pedras e garrafas em direção às forças policiais. Os conflitos se estenderam pela madrugada.
O jovem Michael Brown foi morto por Darren Wilson em 9 de agosto, durante uma ação policial na cidade de Ferguson. O episódio deu início a uma semana de intensos conflitos entre manifestantes e policiais.
O caso deu início a um processo judicial que culminou na noite da segunda-feira (madrugada de terça-feira no Brasil) com a decisão de um júri por não acusar o policial.
Segundo a polícia local, as manifestações iniciadas na noite de segunda-feira são "muito piores que a pior noite que tivemos em agosto". Mais de 150 disparos de armas de fogo teriam sido registrados.
Decisão
Enquanto o júri se reunía na cidade de Clayton, uma multidão se agrupava em frente à sede da polícia em Ferguson, um subúrbio de St. Louis, acompanhando as notícias através de rádio e telefones celulares.
O promotor do condado de St Louis, Bob McCulloch,
anunciou a decisão por volta das 20h15 locais (0h15 de Brasília).
"Darren Wilson não será acusado em conexão com a morte de Michael Brown
ocorrida em 9 de agosto em Ferguson", afirmou McCulloch.
Segundo
ele, o júri trabalhou "intensamente" durante os últimos meses e
encontrou inconsistências no depoimento das testemunhas que incriminavam
Wilson."Não há dúvida de que Darren Wilson matou Michael Brown. Darren Wilson foi o agressor inicial. Mas foi autorizado a usar força letal em autodefesa", afirmou McCulloch.
Na segunda-feira, a Justiça americana tornou público o processo de mais de mil páginas que trata do caso. Em depoimento, Wilson afirmou que Brown o empurrou para dentro do carro da polícia, golpeou seu rosto e tentou apanhar a arma do policial.
O júri era responsável por decidir se Wilson deveria ser acusado de quatro possíveis crimes: assassinato em primeiro grau, assassinato em segundo grau, homicídio doloso ou homicídio culposo.
Pelo menos nove dos 12 membros do júri deveriam ter votado 'sim' para que o policial fosse acusado. O grupo era formado por 12 cidadãos escolhidos aleatoriamente – seis homens brancos, três mulheres brancas, um homem negro e duas mulheres negras.
Tensão racial
O caso trouxe à tona a tensão racial nos Estados Unidos, com ativistas afrodescendentes exigindo a condenação de Wilson por assassinato.
A polícia afirmou que Brown lutou com o policial e o agrediu (a foto de um hematoma no rosto do policial chegou a ser divulgada) antes de a vítima ser baleada.
Do lado de fora da delegacia, a mãe de Brown chorou após o anúncio da decisão. A família depois divulgou uma nota afirmando que ficou "profundamente desapontada que o assassino de seu filho não vá enfrentar a consequência de suas ações".
A confusão começou logo depois do anúncio da
decisão. Tiros foram disparados e a multidão começou a vandalizar carros
de polícia. Ao menos um veículo foi depredado e incendiado.
A
onda de protestos se espalhou por outros Estados americanos.
Manifestantes saíram às ruas em Los Angeles, Filadélfia e Nova York. Na
Califórnia, grupos de ativistas bloquearam ruas e estradas.Os manifestantes gritavam: "mãos ao alto, não atire", em alusão às declarações de algumas testemunhas que disseram que Brown estava rendido e com as mãos para o alto quando foi baleado pelo policial.
Em seu pronunciamento, Obama afirmou que há uma "grande desconfiança" entre as forças de segurança e as comunidades de negros nos Estados Unidos. Mas ressaltou que sua opinião não altera a decisão judicial. O presidente pediu aos americanos que aceitem a decisão do júri. Obama e a família de Brown também pediram calma aos manifestantes.
"Juntem-se a nós em nossa campanha para que todo policial nas ruas desse país use uma câmera acoplada a seu corpo. Nós respeitosamente pedimos que vocês, por favor, protestem pacificamente. Responder à violência com violência não é a reação mais apropriada", afirmou a família do jovem em nota.
"Junto com os pais de Michael, peço que quem queira protestar que proteste pacificamente. Faço um apelo às forças de segurança de Ferguson por cuidado e moderação ao agir contra protestos pacíficos", afirmou Obama.
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