Jacarezinho, Rocinha e comunidades do Complexo do Alemão lideram pedidos de crédito / Soraya Batista e Rogério Santana
Soraya Batista
A Agência Estadual de Fomento do Rio (Age-Rio) concedeu 204 empréstimos para empreendedores de comunidades no mês de julho, num valor total de R$ 1.271.210 em liberações. O número é recorde desde a criação da linha de crédito, em outubro de 2012, e mostra um significativo aumento de empreendimentos em áreas com UPPs. Os valores liberados pela agência variam entre R$ 300 e R$ 15 mil. Os empréstimos são realizados por meio do Fundo UPP Empreendedor.
Levantamento da AgeRio indica alta nos créditos de 74 % em relação ao mês anterior, quando foram concedidos 117 financiamentos (R$ 734.610 em liberações). Para se ter uma noção do aumento, no primeiro mês do programa (outubro de 2012), apenas 80 empréstimos foram concedidos, ou seja, de lá para cá, houve um aumento de 155%. Desde a criação do Programa de Microcrédito já foram concedidos 816 financiamentos (R$ 4.365.902,50, em liberações).
O programa oferece um limite de financiamento de R$ 300 a R$ 15 mil, com juros de 0.25% ao mês e prazo de até 24 meses para pagar. De acordo com a AgeRio o programa é pioneiro, já que é o único a oferecer crédito para empreendedores de comunidades.
O presidente da AgeRio, Domingos Vargas, disse que o trabalho da agência contribui para o bom resultado da política de pacificação, porque valoriza os empreendimentos das comunidades beneficiadas pelo programa.
“Identificamos os clientes potenciais dentro das próprias comunidades, por meio de analistas de crédito que vão ao encontro do empreendedor, identificam o que ele faz, o potencial de crescimento e oferecem um valor de financiamento compatível com o que ele tem de produção", explicou Domingos Vargas.
Negócios
A marceneira Esther Marques dos Santos, 21 anos, é uma das beneficiadas pelo Fundo UPP Empreendedor. Ela conta que pediu o empréstimo junto com uma amiga, com quem divide uma casa, e com esse dinheiro conseguiu comprar uma parte do maquinário. De posse das novas ferramentas, Esther pode começar a trabalhar em casa.
Esther conseguiu o primeiro empréstimo no valor de R$ 2 mil. Com esse dinheiro, comprou o maquinário necessário para o serviço, que segundo ela “melhorou completamente”. Como ainda faltava muita coisa, ela solicitou um segundo empréstimo de R$ 11 mil.
“O pessoal da AgeRio veio aqui tirou fotos do meu material, depois aprovaram o meu crédito. Com a pacificação, os pedidos de empréstimos em comunidades aumentaram”, conta Esther que pretende em breve alugar um espaço para expandir seus negócios.
Para o designer Antonio Evaldo Farias Andrade, o empréstimo de R$ 5 mil concedido pela AgeRio serviu para expandir seus negócios. Ele já trabalhava fazendo adesivos, sinalizadores para lojas e estampas há alguns anos. Mas com o aumento da competitividade, ocorrida após a pacificação, foi necessário que seu negócio se tornasse mais sofisticado.
“Com o empréstimo de R$ 5 mil, comprei uma máquina para recorte e isso me ajudou muito no meu negócio. Antes eu terceirizava alguns serviços, hoje eu posso fazer tudo aqui em casa mesmo. A minha intenção é aumentar as vendas do meu negócio, para quem sabe no futuro voltar para a minha terra natal, o Ceará.”
Formalização
O professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Plá, explica que o aquecimento no pedido de empréstimos por parte de pequenos empreendedores em comunidades tem como causa a necessidade de formalização do trabalho.
Segundo ele, a população de comunidades pacificadas tem potencial de compra. Mas como nesses locais 90% dos negócios são informais, o consumidor acaba comprando produtos em outros lugares.
“O governo tem se esforçado em formalizar alguns desses empreendedores. Muitos desses novos empresários pegam esses empréstimos, mas não necessariamente investem em um novo empreendimento. Na maioria das vezes, o crédito dá um fôlego adicional, para aumentar a competitividade do negócio, que tem crescido a cada dia”, explica o professor.
No primeiro lugar do ranking de pedidos feitos à AgeRio está o setor vestuário seguido por comércio de alimentos, beleza e estética, bar e lanchonete e prestadores de serviço. A comunidade que mais pede empréstimos é Jacarezinho, seguida por Rocinha, Pedra do Sapo e Fazendinha (Complexo do Alemão), Coroa/Fallet/Fogueteiro e as que estão localizadas no Complexo da Maré.
Para obter crédito o empreendedor pleiteante deve ter um fiador, com comprovante de renda e sem restrições de crédito. Caso não tenha, é possível formar um grupo de no mínimo três e no máximo dez interessados em tomar crédito, e cada um será o fiador do outro, recurso chamado de aval solidário. A AgeRio possui postos avançados nas próprias comunidades, onde capacitadores de negócios estão aptos a atender os empreendedores locais.
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