Pesquisadoras brasileiras desativaram in vitro células que provocam fibrose no fígado e leva à cirrose; compostos do cacau e da pimenta protegem o órgão dessas células.
Uma pesquisa brasileira, publicada no periódico canadense Cell Biochemistry and Biophysics, mostrou que a pimenta e o cacau podem proteger o fígado e retardar o surgimento da fibrose hepática, doença que evolui para a cirrose, condição em que é necessário que haja um transplante de fígado. O estudo foi feito no Laboratório de Biofísica Celular e Inflamação, dentro da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
As duas alunas de doutorado e autoras do estudo, Shanna Bittencourt e Cristina Bragança, foram orientadas pelo professor e farmacêutico bioquímico e Jarbas Rodrigues de Oliveira. A pimenta usada no estudo foi a brasileiríssima dedo-de-moça, que, assim como todas as outras pimentas, contém capsaicina, a substância que confere o ardor característico desse tempero. Já o composto isolado docacau é a catequina, uma molécula presente no fruto. E o resultado foi animador: em teoria, comer pimenta e chocolate protege o fígado das inflamações provocadas pelo excesso de bebida ou pelo vírus da hepatite C.
Oliveira explica que, quando uma pessoa bebe demais, os hepatócitos, que são células importantes do fígado, se lesionam, provocando uma inflamação. Essa inflamação ativa as chamadas células estreladas – que são células do bem quando estão 'dormindo' – mas que, quando ativadas, começam a fabricar fibras que levam à fibrose e, num estágio mais avançado, cirrose.
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“Uma das coisas que se busca em um tratamento, antes que se chegue ao transplante, é tentar desativar as células estreladas. E nós conseguimos fazer isso in vitro, com a pimenta e o cacau”, comemora Oliveira.
O estudo mostrou cientificamente os mecanismos que desativam as células estreladas que provocam a fibrose. “O próximo passo do estudo é fazer isso em animais. Vamos ter que provocar uma cirrose em animais e avaliar”, explica.
Em teoria, portanto, quem come bastante pimenta e chocolate está protegendo o fígado, segundo Oliveira. “Quanto mais catequina tiver no chocolate, melhor é”, explica. "Estamos entusiasmados. Ao menos podemos dizer que contribuimos um pouquinho para a ciência".
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Os recursos necessários para o primeiro estudo foram financiados pelo governo brasileiro. A segunda fase da pesquisa depende de próximos alunos de doutorado que tenham interesse em pesquisar o tema.
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