Durante toda a carreira, Maria Bethânia participou de projetos inspiradores
Emoção é uma palavra sempre associada a Maria Bethânia. Movida pelo sentimento, a cantora tem oferecido vários projetos inspiradores nestes 50 anos de carreira. Por isso, quando pensaram numa exposição para celebrar a trajetória da artista, sua produtora executiva, Ana Basbaum, e a diretora teatral Bia Lessa foram em busca de obras inspiradas no universo de Bethânia.
Exposição "Maria de Todos Nós" comemora os 50 anos de carreira de Bethânia.
(Foto: Divulgação/Fernando Cavalcanti) |
Ou melhor, de trabalhos feitos a partir das fortes emoções que ela causa por onde passa. O resultado é a mostra Maria de Todos Nós, aberta ontem no Paço Imperial, na Praça XV, bem no burburinho do centro carioca. É programa imperdível e gratuito para quem gosta da cantora baiana e for ao Rio de Janeiro até 13 de setembro.
Na abertura, ontem, para convidados, Bethânia se emocionou com o que viu. No total, trabalhos de 160 artistas plásticos, fotógrafos, poetas e músicos, além de itens de acervo da família Teles Velloso. Só fotos são quase mil.
Bethânia não fez discurso nem cantou, mas conferiu detalhadamente as 12 salas. “Bethânia demonstrou um carinho muito grande pela exposição e ficou até fechar”, conta Bia Lessa, que assina direção geral e expografia.
Bia Lessa explica que não há propriamente uma curadoria. “A ideia não era ‘selecionar’, era juntar aos poucos mesmo o acervo, à medida que os artistas fossem produzindo. Quase 90% do acervo foi feito para a exposição”, afirma. O projeto nasceu há mais ou menos dois anos, mas Bethânia só tomou conhecimento há um mês. “A ideia era fazer algo para ela, como um presente”, diz.
Instalação com 50 casinhas em madeira e 22 mil sacos com água recriam Santo Amaro.
(Foto: Divulgação/Fernando Cavalcanti) |
Convite Sendo assim, foram convocados amigos e fãs - famosos e anônimos - para a força-tarefa. Entre os artistas estão Gringo Cardia, Hélio Eichbauer, Irmãos Campana, Luiz Stein, Maria Bonomi, Maurício de Sousa, Nair de Carvalho, Ziraldo, Suzana Queiroga, a própria Bethânia e alguns familiares como o sobrinho Moreno e o irmão Rodrigo.
A exposição começa na área externa do Paço Imperial, fazendo um convite aos passantes. Nas sacadas e ao redor do prédio foram instalados tecidos com frases de poetas importantes na formação de Bethânia. Fragmentos de Fernando Pessoa (1888-1935), Clarisse Lispector (1920-1977) e Patativa do Assaré (1909- 2002), entre outros.
Logo na entrada do espaço foi montada uma reprodução do camarim da cantora. Estão lá a estrutura portátil de ferro e cortinas que ela carrega em todos os shows, e que jamais foi vista pelo público. “Reproduzimos o interior de maneira exatamente igual: o espelho no mesmo lugar, o frasco de Rinosoro na mesinha, as flores, o banquinho onde a irmã Nicinha (que morreu em 2011) sempre ficava sentada. Ao lado, um vídeo com imagens de Bethânia rezando dentro do camarim”, detalha Bia Lessa.
A mostra é dividida em temas como religiosidade, os elementos da natureza, poesia, arte popular e Santo Amaro. Os elementos da natureza, por exemplo, que são recorrentes na obra de Bethânia, predominam em todos os espaços. A cenografia utiliza 1,1 mil fardos de feno, 500 sacos de terra, 636 paralelepípedos e cerca de 100 sacos de serragem. Não por acaso, a obra síntese, assinada pela paulista Elisa Bracher, é um enorme barco com duas toneladas.
Objetos recriam o universo de Maria Bethânia, que completou 50 anos de carreira.
(Foto: Divulgação/Fernando Cavalcanti) |
Intimidades
Da própria Bethânia, o público conhecerá entalhes em madeiras, alguns cadernos de trabalho - onde estão anotações sobre shows e discos -, imagens enviadas por fotógrafos, fãs e registros pessoais. As imagens foram impressas em tecido e expostas num corredor inspirado na casa de Dona Canô e Seu Zezinho em Santo Amaro da Purificação.
Da própria Bethânia, o público conhecerá entalhes em madeiras, alguns cadernos de trabalho - onde estão anotações sobre shows e discos -, imagens enviadas por fotógrafos, fãs e registros pessoais. As imagens foram impressas em tecido e expostas num corredor inspirado na casa de Dona Canô e Seu Zezinho em Santo Amaro da Purificação.
O público também poderá ouvir, em fones de ouvido, canções criadas para a intérprete por jovens compositores como Pedro Sá, Moreno Veloso, Leo Tomassini, Rubinho Jacobina, grupo Tira Poeira e Ivor Lancellotti, além de uma preciosidade em áudio: uma entrevista inédita do diretor teatral Fauzi Arap (1938- 2013), que dirigiu o primeiro show solo de Bethânia, Rosa dos Ventos, em 1971, e ajudou a projetá-la.
O final do percurso da mostra - que é circular - guarda uma surpresa, que deve emocionar em cheio, sobretudo os baianos. Bia Lessa idealizou uma sala com o teto coberto por 22 mil saquinhos d’água, elemento marcante na obra de Bethânia. Para enchê-los, a produção convocou fã-clubes da artista para ajudar.
A instalação, que evoca o mar, está colocada sobre 100 casinhas de madeira, de 40 cm x 40 cm, do artista popular carioca Getúlio, que recriam Santo Amaro da Purificação.
A mostra Maria de Todos Nós tem patrocínio da Natura, sem uso de lei de incentivos fiscais. A iniciativa abre a programação em comemoração aos dez anos do Programa Natura Musical.
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