Investigadores dizem que responsáveis podem responder por homicídio.
Se vítima já estava morta também cabe punição pelo crime de vilipêndio.
A polícia ainda aguarda o laudo de necropsia para saber se Adílio Cabral dos Santos já estava morto quando um trem da Supervia passou sobre o seu corpo sob autorização da própria concessionária. Os investigadores dizem que caberia a pena de homicídio culposo, que é quando não há a intenção de matar, aos responsáveis pelo atropelamento. Mas também cabe punição por ter passado por cima de um cadáver, já que seria um crime de vilipêndio.
O caso ocorreu na terça-feira (28). O corpo de Adílio estava sobre os trilhos, próximo à estação deMadureira. Imagens de vídeos mostram quando um outro trem se aproxima do corpo. Um homem de roupa laranja, que seria funcionário da Supervia, acena para o maquinista, que avança lentamente.
A Supervia disse que autorizou, em caráter excepcional, a passagem do trem, para evitar transtornos naquele horário.
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Os investigadores acham que é preciso ouvir o maquinista e funcionários da supervia para descobrir se adílio já estava morto quando o trem passou por ele. A Comissão de Direitos Humanos da OAB classificou o caso como uma barbaridade, ao naturalizar a morte, dando a noção de que o corpo humano é algo descartável. O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que cobrará punição severa à concessionária.
“O estado entende que com relação ao incidente de Madureira, o posicionamento da concessionária é injustificável. Nós entendemos que não é razoável, é desumano, você autorizar um trem a passar em cima de um corpo de uma pessoa morta que está na via. Nós entendemos que a agência reguladora deva apurar com rigor o caso e aplicar as sanções cabíveis nessas circunstâncias. Nós achamos injustificável o procedimento tomado”, afirmou Osório.
Adílio era morador do Morro da Serrinha, em Madureira. Parentes contam que ele tentava refazer a vida vendendo doces nas ruas. Havia nove meses que ele tinha saído da cadeia, onde cumpriu pena por furto.
O irmão de Adílio, Élcio Feliciano Júnior, disse que os ambulantes costumam passar pelos trilhos para driblar a fiscalização. “Eu sei que ele não pode passar por cima da passarela para atravessar, aí eles passam, eles pulam a linha do trem e passam ali por baixo, se eles passassem por cima, acho que os doces deles são apreendidos, coisa assim, eles sempre pulam a linha pra ir de uma plataforma para a outra”, disse.
“É uma atrocidade, é uma coisa terrível, desumanidade. A gente não tava sabendo e já tava horrorizada com a situação. Aí depois anuncia que é o meu filho... tem como? tem como?”, disse a mãe de Adílio, Eunice de Souza Feliciano, de 61 anos, em meio ao choro.
O enterro de Adílio foi na tarde desta sexta-feira (31). A família precisou vender uma pulseira para pagar a cerimônia. Ele foi enterrado em uma cova rasa, e não teve velório. “Cada um de nós devemos estar prontos para esse momento, porque não sabemos quando. Mas num piscar de olhos a gente não sabe se ali. Eu só não imaginava ser dessa maneira”, desabafou a mãe de Adílio.
A Supervia deu R$ 2 mil à família para o enterro, só que a despesa total foi de R$ 2,7 mil. A Supervia informou que faria contato com os parentes para pagar a diferença.
A polícia vai ouvir o responsável da supervia por aquela linha na segunda-feira. Os supervisores da concessionária, que ficam no centro de controle, também podem ser responsabilizados.
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