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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Polícia quer saber se atropelado já estava morto quando 2º trem passou

Investigadores dizem que responsáveis podem responder por homicídio.
Se vítima já estava morta também cabe punição pelo crime de vilipêndio.

Do G1 Rio
A polícia ainda aguarda o laudo de necropsia para saber se Adílio Cabral dos Santos já estava morto quando um trem da Supervia passou sobre o seu corpo sob autorização da própria concessionária. Os investigadores dizem que caberia a pena de homicídio culposo, que é quando não há a intenção de matar, aos responsáveis pelo atropelamento. Mas também cabe punição por ter passado por cima de um cadáver, já que seria um crime de vilipêndio.
O caso ocorreu na terça-feira (28). O corpo de Adílio estava sobre os trilhos, próximo à estação deMadureira. Imagens de vídeos mostram quando um outro trem se aproxima do corpo. Um homem de roupa laranja, que seria funcionário da Supervia, acena para o maquinista, que avança lentamente.
A Supervia disse que autorizou, em caráter excepcional, a passagem do trem, para evitar transtornos naquele horário.
Os investigadores acham que é preciso ouvir o maquinista e funcionários da supervia para descobrir se adílio já estava morto quando o trem passou por ele. A Comissão de Direitos Humanos da OAB classificou o caso como uma barbaridade, ao naturalizar a morte, dando a noção de que o corpo humano é algo descartável. O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que cobrará punição severa à concessionária.
“O estado entende que com relação ao incidente de Madureira, o posicionamento da concessionária é injustificável. Nós entendemos que não é razoável, é desumano, você autorizar um trem a passar em cima de um corpo de uma pessoa morta que está na via. Nós entendemos que a agência reguladora deva apurar com rigor o caso e aplicar as sanções cabíveis nessas circunstâncias. Nós achamos injustificável o procedimento tomado”, afirmou Osório.
Adílio era morador do Morro da Serrinha, em Madureira. Parentes contam que ele tentava refazer a vida vendendo doces nas ruas. Havia nove meses que ele tinha saído da cadeia, onde cumpriu pena por furto.
O irmão de Adílio, Élcio Feliciano Júnior, disse que os ambulantes costumam passar pelos trilhos para driblar a fiscalização. “Eu sei que ele não pode passar por cima da passarela para atravessar, aí eles passam, eles pulam a linha do trem e passam ali por baixo, se eles passassem por cima, acho que os doces deles são apreendidos, coisa assim, eles sempre pulam a linha pra ir de uma plataforma para a outra”, disse.
“É uma atrocidade, é uma coisa terrível, desumanidade. A gente não tava sabendo e já tava horrorizada com a situação. Aí depois anuncia que é o meu filho... tem como? tem como?”, disse a mãe de Adílio, Eunice de Souza Feliciano, de 61 anos, em meio ao choro.
O enterro de Adílio foi na tarde desta sexta-feira (31). A família precisou vender uma pulseira para pagar a cerimônia. Ele foi enterrado em uma cova rasa, e não teve velório. “Cada um de nós devemos estar prontos para esse momento, porque não sabemos quando. Mas num piscar de olhos a gente não sabe se ali. Eu só não imaginava ser dessa maneira”, desabafou a mãe de Adílio.
A Supervia deu R$ 2 mil à família para o enterro, só que a despesa total foi de R$ 2,7 mil. A Supervia informou que faria contato com os parentes para pagar a diferença.
A polícia vai ouvir o responsável da supervia por aquela linha na segunda-feira. Os supervisores da concessionária, que ficam no centro de controle, também podem ser responsabilizados.
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