Retrospectiva 2014 – As melhores atuações masculinas do ano
Jonah Hill (“O lobo de Wall Street”)
Os olhos esbugalhados, a ansiedade extrapolada como quem está à beira de um infarto e o humor perverso de Donnie Azoff, o braço direito do lobo de Wall Street, são alguns dos cacoetes geniais bancados por Jonah Hill, ator que quando quer mata a cobra e mostra o pau (literalmente, no caso aqui). Hill recebeu sua segunda indicação ao Oscar em três anos pelo papel. Coisa que muito ator mais valorizado não tem para botar no currículo. Não é pouca coisa.
Michael Fassbender (“12 anos de escravidão”)
Esse alemão de ascendência irlandesa é um ponto fora da curva. Astro tardio, combina carisma e talento em escalas sempre surpreendentes. Como a encarnação do mal no filme de Steve McQueen, ele tergiversa a humanidade do senhor de escravos que interpreta ao sublinhar o desespero de um homem apaixonado por sua escrava e sem saber o que fazer com o sentimento que nutre por um “objeto”.
Leonardo DiCaprio (“O lobo de Wall Sreet”)
Voraz, dínamo sexual, zombeteiro, esperto, chocante e, acima de tudo isso, nauseante. Este éLeonardo Dicaprio, à imagem e semelhança do biografado nesta obra-prima moderna de Martin Scorsese que é “O lobo de Wall Street” (alguma dúvida de que o filme figurará na lista de melhores do ano da coluna?). DiCaprio atinge as notas mais altas de uma carreira cheia de grandes arranjos ao compor um homem alucinado e banhado na cobiça exacerbada de um conceito de vida que tem seus ciclos. E ele quer estar no topo de todos eles.
Joaquin Phoenix (“Ela”/ “Era uma vez em Nova York”)
Phoenix é daqueles atores que nos faz levantar os braços para os céus e agradecer a Deus, orixás ou qualquer energia e presença que deva ser agradecida por tamanho talento. Praticamente todo filme que estrela entra na lista de melhores do ano e suas atuações, bem, suas atuações são sempre revigoradas, cheias de vida, detalhes e profundamente conectadas com a verdade buscada pelo roteiro. É assim em “Ela”, misto de romance e ficção científica imaginado por Spike Jonze, e em “Era uma vez em Nova York”, saga desromantizada do sonho americano alçada por James Gray – com quem Phoenix habitualmente colabora. Trabalhos em diferentes tons e compassos, mas dotados da mesma obstinação e fervura.
Jake Gyllenhaal (“O abutre”/”O homem duplicado”)
Jake Gyllenhaal rejeitou a alcunha de astro para viver o cinema. Essa experiência tem sido recompensadora para ele e para o público. Em 2014, o ator estrelou dois dos filmes mais instigantes, desafiadores e reflexivos da temporada. Gyllenhaal vai se revelando ator de muitos recursos e gana. Se perdeu peso e mergulhou na sociopatia de seu personagem em “O abutre”, em “O homem duplicado” foi fundo no jogo de espelhos proposto pela obra de Saramago. Um ator sem medo de tatear o desconhecido.
Jesuíta Barbosa (“Praia do futuro”)
Jesuíta Barbosa é um poço de talento e um ímã tão poderoso que o gigante Wagner Moura parece um acessório de cena em “Praia do futuro”. Esse dom natural é temperado com uma expressividade corporal e sentimental que poucos atores, brasileiros ou estrangeiros, dispõem. Barbosa tem pouco tempo em cena no filme, mas a lembrança de sua passagem é das mais perenes.
Matthew McConaughey (“Clube de Compras Dallas”/ “O lobo de Wall Street”)
É até chato falar da reinvenção de Mathhew McConaughey e blá, blá, blá. Mas o signo deMcConaughey paira sobre 2014. Na TV, o assombro que foi sua participação em “True Detective”. O Oscar, justíssimo, por “Clube de Compras Dallas” dispensa defesas sobre sua figuração nesta lista. Mas se você quer medir um grande ator o desafie a superar a participação de cinco minutos deMatthew McConaughey em “O lobo de Wall Street”. É de dar desarranjo em muito ator discípulo do método de Lee Strasberg.
DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 2014Curiosidades, Listas | 06:08
Autor: Reinaldo GliocheTags: Angelina Jolie, George Clooney, Lars Von Trier, Michael Keaton, Retrospectiva 2014, Scarlett Johansson,Shailene Woodley
Retrospectiva 2014 – As dez personalidades do ano no mundo do cinema
O ano de 2014 foi movimentado para muitos astros, estrelas e personalidades do cinema. Prêmios, casamentos, escândalos e filmes. Teve de tudo em 2014! O Cineclube passou o pente fino e apresenta as dez personalidades que mais se destacaram no ano que se despede.
10 – Amy Pascal
Não é todo dia que uma chefe de estúdio, no caso a única mulher a presidir um estúdio de cinema, figura em uma lista como essa. Mas Amy Pascal, conhecida por ser uma prospectora de talentos tão sagaz quanto executiva impiedosa, se viu no epicentro do escândalo já chamado de sonygate. Nos documentos e e-mails vazados por hackers norte-coreanos como retaliação à Sony por produzir o filme “A entrevista”, Pascal fala mal de Leonardo DiCaprio, Denzel Washington, Angelina Jolie, entre outros. Além de fazer piadas de teor racista envolvendo o presidente Obama.
9 – George Clooney
Ele não estrelou nenhum filme em 2014. Mas o casamento de George Clooney, até então incensado como o solteiro mais cobiçado do planeta, foi um evento ímpar. O cerimonial durou cinco dias, contou com a presença de diversas personalidades e mobilizou a imprensa mundial. Um novo comercial do Nespresso e intervenções frequentes pela paz no Sudão do Sul também estiveram entre os destaques de Clooney que encerrou as gravações de “Tomorroland” este ano e anunciou que fará um filme sobre o escândalo das escutas bancadas pelo finado tabloide News of the World. Mas quem se importa? Afinal de contas, 2014 marcou o fim da solteirice de seu maior ícone.
8 – Christopher Nolan
Ele talvez seja o diretor que mais provoca polarização e no ano em que lançou um de seus mais ambiciosos projetos, a ficção científica “Interestelar”, essa divisão ficou bem clara. Nolan não repetiu o sucesso de crítica ou mesmo a bilheteria que se habituou a produzir, mas continuou sendo um dos mais significativos ases do mundo do entretenimento, como bem definiu a revista Time em reportagem de capa que fez com o cineasta britânico.
7 – Matthew McConaughey
Ele ganhou o Oscar e todos os outros prêmios possíveis e imagináveis por sua atuação em “Clube de compras Dallas”. Bastaria para McConaughey se credenciar a esta lista, mas o ator ainda esteve em outros dois filmes muito comentados no ano. “O lobo de Wall Street” e “Interestelar”. Não era possível ignorar.
6 – Scarlett Johansson
Nenhuma atriz foi tão onipresente em 2014 como Scarlett Johansson. Depois de ser ver envolvida em uma inusitada intriga envolvendo Israel e uma marca de refrigerantes, a atriz apareceu em um blockbuster hollywoodiano (“Capitão América – o soldado invernal”), em uma ficção científica casca grossa (“Sob a pele”) e assumiu sua vocação de heroína em “Lucy”, o filme totalmente original mais rentável de 2014. Virou mamãe também. E se casou. Ufa! Ah, e pela primeira vez na carreira, Scarlett Johansson fez um nu frontal no cinema. Mas não foi por isso que ela entrou na lista, ok?
5- Richard Linklater
Vanguardista por vocação, o cineasta foi além do que os entusiastas de seu cinema criam possível em 2014. Bem, na verdade, em 2014 ele apenas lançou um dos projetos mais ambiciosos da história do cinema. “Boyhood – da infância à juventude” não é apenas um dos filmes mais belos e significativos do ano, é um novo paradigma cinematográfico.
4- Angelina Jolie
Angelina Jolie recebeu quase U$ 30 milhões para estrelar “Malévola”. Mas seu carisma incomparável garantiu à produção da Disney uma bilheteria de mais de U$ 800 milhões internacionalmente. Mais do que qualquer super-herói arrecadou no ano. Não obstante, Angelinaainda lança seu segundo filme como diretora no apagar das luzes de 2014. O nome do filme? “Invencível”. Mas sem trocadilhos espertos, por favor!
3 – Shailene Woodley
No futuro, talvez, 2014 seja lembrado como o ano em que Shailene Woodley se apoderou da cultura pop. A atriz esteve à frente do elenco de dois hits do ano. As adaptações de best-sellers infanto-juvenis “A culpa é das estrelas” e “Divergente”. Não obstante, ainda estrelou a produção independente “Pássaro branco na nevasca” e tem gente que já fala em indicação ao Oscar. Te cuida J. Law!
2 – Michael Keaton
Esse certamente estará no Oscar de 2015. Se marcará presença na nossa lista do ano que vem, porém, é uma incógnita. Mas se julgarmos pelo 2014 de Keaton, as chances estão em seu favor. O ator retirou-se do ostracismo e colhe elogios pelo filme “Birdman”, mas já sinalizava essa ressureição com a sátira de Steve Jobs que tirou da cartola no “Robocop” assinado por José Padilha. Em “Need for Speed – o filme” salvou a fita do marasmo e mostrou que ainda tem muita lenha para queimar em Hollywood.
1 – Lars Von Trier
Não se falava em outra coisa no início do ano que não a bendita ninfomaníaca de Lars Von Trier. Dividido em dois tomos, o corte do diretor foi exibido no Brasil em outubro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Ninfomaníaca” é tudo o que se pode esperar de Von Trier. Provocador, contraditório, hermético e anticlimático. O dinamarquês, que havia prometido jamais conceder outra entrevista após o fatídico episódio envolvendo Hitler em Cannes, disse a uma jornal dinamarquês que receia não mais fazer filmes no futuro. Von Trier está preocupado com o impacto que a sobriedade pode ter sobre sua verve criativa. O cineasta que revelou ser viciado em drogas lícitas e ilícitas filosofou: “Nenhuma expressão criativa com valor artístico foi criada por ex-adictos”. O paradoxo de Von Trier o eleva ao primeiro posto desta lista.
SÁBADO, 20 DE DEZEMBRO DE 2014Análises, Bastidores, Curiosidades | 05:27
Autor:
Reinaldo GliocheTags: análise, análises, bastidores, Coreia do Norte, Hollywood
Coreia do Norte e Hollywood: um caso de desamor
Reza a lenda que King Jong-Un, o líder supremo e excêntrico da Coreia do Norte tão em voga atualmente, herdou de seu pai, King Jong-il, o gosto pelo cinema. Além da amizade com o ex-astro do basquete Dennis Rodman, ele seria fã de Keanu Reeves e um tremendo Bondmaníaco. Seu pai ainda ocupava o poder quando o 007 de Pierce Brosnan enfrentou um lunático norte-coreano que desejava dominar o mundo em “007 – Um novo dia para morrer” (2002), aquele em que Madonnacanta a música tema e dá aulas de esgrima.
O filho pode não ter o senso de humor do pai ou mesmo a tolerância à sátira, mas já era o supremo mandatário do País quando Hollywood acertou outro petardo contra o status quo norte-coreano. O diretor Antoine Fuqua (“Dia de treinamento” e “O protetor”) lançou em abril de 2013, em plena tensão na península coreana que movimentou a geopolítica da região e pôs o mundo em alerta com as ameaças de King Jong-Un em lançar mísseis contra Japão, Coreia do Sul e EUA, o filme “Invasão a Casa Branca”, que ficou inexplicavelmente sem a crase. Na trama, Gerard Butler faz um agente do serviço secreto que move mundos e fundos para resgatar o presidente dos EUA (Aaron Eckhart) feito refém de terroristas norte-coreanos que invadiram em questão de minutos, de maneira cinematográfica, o maior símbolo do poder ocidental.
Como curiosidade, um dos terroristas do filme é vivido pelo mesmo Rick Yune que faz um dos vilões de “Um novo dia para morrer”. Talvez King Jong-Um não tenha se incomodado tanto com “Invasão a Casa Branca”, porque embora os coreanos sejam derrotados, em nenhum outro filme hollywoodiano terroristas tinham ido tão longe na destruição do símbolo máximo do poder ianque. “Independence Day” (1996), por razões óbvias, não conta.
Especulações à parte, a Coreia do Norte vinha superando a Rússia – desde a eclosão da Guerra Fria a tradicional nação vilã nos filmes hollywoodianos – no antagonismo geopolítico do cinemão.
O primeiro indício dessa tendência estava em “Salt”, (2010), fita de ação estrelada por Angelina Jolie, em que ela faz uma agente da CIA acusada de ser uma espiã russa. O detalhe? O filme começa com Jolie sendo torturada em uma prisão norte-coreana.
A mira na Coreia à espera da recíproca
Um filme obscuro de 1984 com Charlie Sheen e Patrick Swayze sobre um grupo de estudantes que é a última resistência à invasão soviética em solo americano ganhou uma refilmagem em 2011. A ideia era trocar os russos pelos chineses. Com o filme pronto, o estúdio MGM percebeu que a Coreia do Norte, pelo exotismo e pelo mistério, daria um antagonista melhor e deu mais U$ 1 milhão para o diretor Dan Bradley redublar os vilões, mudar uns símbolos aqui e ali e fazer com que chineses virassem norte-coreanos. O filme estreou em 2013, um ano após “Os vingadores” e se beneficiou deChris Hemsworth, que quando rodou o filme era um ilustre desconhecido, ser um astro famoso por viver o herói Thor.
Outro blockbuster hollywoodiano elegeu a Coreia do Norte como alvo. Em “G.I Joe: Retaliação”, um farsante que se passa pelo presidente dos EUA diz que bombardeará a Coreia do Norte “15 vezes seguidas só para ter certeza”. Trata-se de uma piada, de gosto duvidoso, mas uma piada. Piada esta que o filme “A entrevista” eleva à décima potência. O filme, cujo roteiro foi escrito a partir de uma ideia de Seth Rogen e Evan Goldberg (eles escreveram perolas da cultura pop como “Superbad – é hoje” e “Segurando as pontas”), mostra dois jornalistas despirocados que recebem da CIA a missão de assassinar King Jong-Un.
A Coreia do Norte já havia condenado o filme, mas negado com veemência qualquer participação nos cyber ataques contra o estúdio Sony. O FBI confirmou nesta sexta-feira (19) que o governo da Coreia do Norte teve papel central nas ofensivas contra a Sony.
Ainda é incerto o desfecho deste imbróglio que rapidamente se transformou em um vexatório episódio de cerceamento à liberdade de expressão e caminha para se assumir como o incidente diplomático que desde os primeiros ataques hackers estava destinado a ser. A Sony, naturalmente, estuda estratégias de capitalizar com toda a repercussão que “A entrevista” vem recebendo. O lançamento em plataforma digital, como foi aventado aqui neste Cineclube minutos depois da confirmação de que “A entrevista” não seria lançado nos cinemas americanos, ganha força como alternativa para o estúdio e para a restituição de algumas bases da liberdade de expressão. Após a fala de Obama, do posicionamento do FBI e de toda a agitação diplomática que deve se suceder, mesmo um lançamento em cinema não pode ser descartado.
A reação de Hollywood como um todo tem sido de espanto, incredulidade e receio pelo que a decisão da Sony pode representar nas esferas artística, comercial e democrática. O Sonygate, como já vem sendo carinhosamente chamado todo esse imbróglio, certamente já é mais interessante do que qualquer filme hollywoodiano da temporada.
De qualquer forma, vale o registro de que em 2004 os criadores de “South Park”, Trey Parker e Matt Stone, lançaram “Team America: detonando o mundo”, filme em que uma equipe tática formada por policiais americanos tenta salvar o mundo de uma violenta conspiração terrorista liderada por King Jong-il. George Clooney, Matt Damon e Ethan Hawke foram algumas das estrelas entre o time de dubladores das marionetes.
Eram outros tempos. Talvez King Jong-Un seja mais ambicioso que seu pai. Rejeitou qualquer traço de humor, superou os russos do lado de cá das telas e resolveu medir forças de verdade com Hollywood. Por enquanto, para infortúnio de quem se atém a valores democráticos e gosta de cinema, ele está ganhando.
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