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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Fachada da Kiss não está mais coberta por tapumes

Imóvel continua sob a tutela do Estado até final do processo.

Fachada da Kiss não está mais coberta por tapumes Gabriel Haesbaert/Especial
Foto: Gabriel Haesbaert / Especial
Quem passou pela Rua dos Andradas, em frente ao prédio da boate Kiss, viu uma fachada dividida entre o passado e o presente. Foram quase 23 meses de convivência com tapumes forrados de cartazes e banners com fotografias e frases. Nesta terça-feira, ao final da limpeza do prédio, a uma altura de 1m50cm, o branco dominava. Mas, bastava erguer o olhar, para deparar com as quatro letras e o layout de madeira, imagens do cenário da maior tragédia gaúcha que jamais será esquecida.
Depois de sete dias de um trabalho intenso de limpeza e descontaminação, o entra e sai de pessoas parou, o barulho das máquinas e equipamentos cessou e o silêncio voltou a tomar o prédio onde a Kiss funcionou por cerca de quatro anos no centro de Santa Maria.

::Frases de protesto são pintadas no último dia de limpeza da boate
:: Como Santa Maria está reagindo à limpeza da Kiss
Incansável, um pequeno grupo de familiares acompanhou cada movimento em uma espécie de acampamento improvisado na entrada do estacionamento de um supermercado em frente ao prédio. Durante a semana, na roda de conversas, alguns dos pais comentavam que, no que dependesse deles, "a pintura branca da fachada não vai contribuir para que a tragédia seja esquecida". Pouco depois, os contêineres nem haviam sido retirados, e um familiar já recolocava os cartazes na boate.
Imóvel foi lacrado após a limpeza
O serviço de limpeza dentro do prédio foi concluído por volta das 11h desta terça-feira. Os objetos das vítimas encontrados dentro do prédio foram recontados duas vezes, classificados, embalados e guardados em uma peça, onde, provavelmente, funcionava a cozinha da Kiss. Duas mostras de solo - uma em uma parte que estava deteriorada na calçada e outra de baixo do piso de cerâmica perto do palco - foram recolhidas e serão enviadas para análise.
O lugar passou por uma última vistoria e levantamento fotográfico e, às 11h23min, a porta foi cadeada, lacrada em dois lugares e a chave foi entregue à Justiça. Minutos antes das 16h, um pré-relatório foi entregue pela Fepam a um oficial de Justiça no local. Nas quatro folhas do documento, um resumo do encerramento das atividades, o número preciso e a descrição dos objetos encontrados, que não foram divulgados. O papel também foi encaminhado à sede da Fepam em Porto Alegre. Um relatório minucioso deve ser entregue pela Geo Ambiental, empresa que coordenou a limpeza, à Fepam em 45 dias.
No final da tarde, o caminhão bitrem levou os últimos dois contêineres com material retirado de dentro da boate até o aterro para resíduos perigosos em Capela de Santana. Pouco antes, a estrutura montada para isolar o prédio começou a ser desmanchada, deixando à mostra a nova fachada. As paredes foram cobertas por várias camadas de cal, a calçada, reconstruída, o meio-fio, pintado e todas as aberturas foram cobertas por madeira.
Quando o caminhão removeu os contêineres, o passeio público foi liberado aos pedestres que, em pequeno número, transitaram pela rua nessa última semana. As fitas e cones de isolamento foram retirados, e o trânsito foi desbloqueado. Mas, no asfalto, por alguns dias, ainda ficarão três frases de protesto e pedido por justiça pintadas por um familiar na madrugada de ontem.
Pedido de desapropriação do prédio
Durante a sessão plenária da Câmara de Vereadores da tarde desta terça-feira, os parlamentares aprovaram por unanimidade a moção de apelo ao prefeito Cezar Schirmer (PMDB), que solicita a desapropriação do prédio da boate Kiss. A moção é de autoria dos vereadores Jorge Trindade e Luciano Guerra, ambos do PT. Além da moção, o legislativo deve protocolar, na sessão de amanhã, outro projeto que sugere a desapropriação do prédio. 
- Como não podemos criar uma lei que gere custos para o municípios, vamos sugerir para que a iniciativa parta do Executivo - explicou Luciano Guerra.
Um grupo de pais acompanhou a votação da moção. Após a aprovação, Flavio José da Silva, do Movimento Santa Maria do Luto à Luta, comentou o ato.
- A nossa preocupação é em relação ao tempo que está se levando para fazer isso (desapropriar o prédio). Agora, com essa sugestão, vai depender só dele - disse Flávio, referindo-se ao prefeito Schirmer.
A posição da prefeitura é de que a decisão sé será tomada após a liberação do prédio pela Justiça. O imóvel permanece sob a tutela do Estado até o final do principal processo, o criminal por homicídio. Ainda não há, também, uma definição do que será feito com o local. Segundo a Econn Empreendimentos de Turismo e Hotelaria, empresa dona do prédio, se não houver uma desapropriação por parte da prefeitura ou se ninguém comprar o imóvel, a decisão caberá à proprietária.
Também não está definido se os fatos ocorridos quando a casa noturna se incendiou, resultando na morte de 242 pessoas, serão reconstituídos.
*Colaboraram Gabriela Perufo e Leandro Belles

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