- Arquivo pessoalEm foto pessoal, Antônio Gleiber Cassiano Júnior é encaminhado para a sala cirúrgica no Jackson Memorial Hospital, em Miami
O adolescente Antônio Gleiber Cassiano Júnior, 16, que precisava de um transplante de intestino para sobreviver e recorreu à Justiça para que a União custeasse o procedimento nos Estados Unidos, passou pelo procedimento médico na tarde deste domingo (12), no Jackson Memorial Hospital, em Miami. O procedimento, pago pelo governo brasileiro, foi bem sucedido. Ele deixou a sala de cirurgia direto para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), ainda sem previsão de alta.
O jovem sofre de uma condição chamada síndrome do intestino ultracurto, que fez com que ele perdesse 95% do intestino delgado, o que o impedia de ingerir alimentos. Para sobreviver, Júnior, também chamado como Juninho, recebia alimentação parenteral, diretamente na veia.
A família foi informada de que havia um doador na madrugada de domingo. Após a preparação do paciente, a operação começou por volta das 19h30 e terminou às 23h. O custo total do procedimento é estimado em R$ 3,5 milhões. O pagamento foi feito pela União depois de uma batalha judicial que começou em novembro.
A cirurgia foi realizada pelo médico brasileiro Rodrigo Vianna, que é também diretor de transplantes do Jackson Memorial. Segundo ele, ainda é cedo para estimar quando Júnior receberá alta. "O quadro é promissor. Vamos torcer para não haver complicações da cirurgia e para que não exista rejeição. Por fim, vamos retirar a alimentação parenteral, mas a parte mais difícil já foi feita", disse.
A família comemorou o transplante como uma vitória. "Foi uma angústia muito grande, uma espera longa, mas agora esperamos que nosso filho volte a ter uma vida normal", disse Alessandra Marques Ribeiro, mãe do adolescente.
Mais brasileiros
Juninho não foi o primeiro brasileiro operado por Rodrigo Vianna no Jackson Memorial. Em abril, a bebê Sofia Gonçalves passou por um transplante multivisceral de cinco órgãos, em operação também paga pelo SUS (Sistema Único de Saúde). No ano passado, ele também operou o bebê Pedro Da Lavra, de pouco mais de um ano. Nesse caso, o custo do procedimento, de R$ 4 milhões, foi pago pela família, que realizou uma campanha para arrecadar o valor. O bebê sofria do mesmo problema de Juninho.
Nas próximas semanas, deverá ser a vez do menino Davi Miguel Gama, que completou recentemente um ano de idade. Ele nasceu com uma doença nas microvilosidades intestinais chamada diarreia intratável e também irá realizar um transplante nos Estados Unidos. Já houve decisão judicial favorável à família para que o SUS assuma o custo do procedimento, que é de R$ 4 milhões.
O caso Juninho
Em 23 de agosto de 2014, Antônio Gleiber Cassiano Júnior sentiu dor intensa na região da barriga, mas foi tratado com analgésicos e liberado. A dor se intensificou e, no mesmo dia, ele voltou a receber atendimento em Campos Gerais (MG), cidade onde mora com a família. Ele foi transferido em 24 de agosto para o Hospital Universitário Alzira Velano, em Alfenas (MG), onde, no dia seguinte, foi diagnosticado e operado, sendo que 95% do intestino foi retirado.
Em setembro, Júnior foi enviado ao Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, para se submeter a uma cirurgia de alongamento do intestino. O procedimento chegou a ser feito, mas os médicos perceberam que havia restado apenas 10 centímetros de intestino, sendo que o mínimo necessário seria 40 centímetros. Desde então, Júnior e a mãe vivem em Curitiba.
"Decidimos não realizar o tratamento e manter o paciente internado, recebendo alimentação na veia e esperando pela indicação do local onde o transplante será realizado", disse à época Julio Cesar Wiederkehr , especialista em cirurgia pediátrica e responsável pelo acompanhamento de Júnior em Curitiba.
Em novembro, a família entrou com uma ação pedindo que a União bancasse o transplante no Jackson Memorial Hospital, em Miami, nos Estados Unidos, alegando que o procedimento não é realizado com sucesso no Brasil. Já a União sustentava que o procedimento poderia ser feito no Albert Einstein e no Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo, por um valor muito inferior ao cobrado nos EUA -- R$ 51 mil contra aproximadamente R$ 3,5 milhões.
O governo chegou ainda a considerar possibilidade de mandar Juninho para a Argentina, que tem um programa de transplantes bem sucedido, mas a Justiça optou pelos Estados Unidos, onde os índices de sucesso são maiores. No Brasil, foram seis procedimentos realizados desde 2010, sendo que resultaram na morte dos seis pacientes em um prazo de até seis meses após a realização dos transplantes.
Em dezembro, houve uma decisão favorável, em primeira instância, mas o Ministério da Saúde conseguiu impedir que o procedimento fosse realizado antes do julgamento em segunda instância, o que ocorreu em 10 de abril. Após a confirmação da decisão, a família teve que esperar até 23 de maio, quando uma liminar obrigou a União a transferir o garoto para os EUA em até 15 dias. O embarque, entretanto, só ocorreu em 14 de junho por conta de problemas burocráticos.
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