A doença atinge cerca de 30 mil brasileiros e é mais comum entre as mulheres
O diagnóstico chegou depois que ele foi levado às pressas ao hospital. Havia estado com uma garota de programa e, na parte mais quente do encontro, sentiu que a visão estava turva. Desmaiou e não era a primeira vez. Os surtos iam e vinham... estavam mais frequentes. O quadro de saúde é a ficção vivida por Romero Rômulo, personagem do ator Alexandre Nero, na próxima novela das 21 h, A Regra do Jogo, que vai ao ar amanhã, mas a doença é bem real e atinge cerca de 30 mil brasileiros que sofrem com a Esclerose Múltipla (EM).
O total de pessoas que manifestam a doença equivale a 18 casos por 100 mil habitantes e, neste domingo, pacientes, familiares e profissionais de saúde chamam atenção para o Dia Nacional da Esclerose Múltipla.
Personagem de Alexandre Nero sofrerá com os sintomas da EM
(Foto: Cauá Franco/Globo) |
De acordo com a neurologista Soniza Vieira Leon, a EM é uma doença neurológica, crônica e autoimune, onde as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e na medula espinhal.
“A esclerose apresenta duas fases muito complicadas: a atividade inflamatória e a degenerativa. A doença, geralmente, acomete jovens entre 20 e 30 anos, mulheres e é mais prevalente na população caucasiana. No entanto, no Brasil, a miscigenação quebra essa regra”, explica Soniza Leon.
Sinais
“Acredita-se que os caucasianos estariam mais vulneráveis ao problema, uma vez que em países como a Alemanha, por exemplo, existam 200 portadores da doença para cada 100 mil habitantes quando, na Bahia, a proporção é de cinco casos para cada 100 mil habitantes”, explica o professor de Neurologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ailton Melo, lembrando que o sol funcionaria como uma proteção aos portadores.
“Acredita-se que os caucasianos estariam mais vulneráveis ao problema, uma vez que em países como a Alemanha, por exemplo, existam 200 portadores da doença para cada 100 mil habitantes quando, na Bahia, a proporção é de cinco casos para cada 100 mil habitantes”, explica o professor de Neurologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ailton Melo, lembrando que o sol funcionaria como uma proteção aos portadores.
A médica salienta que a causa da doença ainda é desconhecida, mas já se sabe que há um componente hereditário e uma predisposição genética que, aliados a fatores ambientais podem exacerbar o aparecimento da esclerose.
Embora os sintomas possam variar de pessoa para pessoa, os sinais mais comuns são o comprometimento visual, fadiga, formigamento, perda de força, falta de equilíbrio, espasmos musculares, dores crônicas, depressão, incontinência urinária e problemas sexuais.
Soniza destaca ainda que o diagnóstico da EM é bastante complexo e, geralmente, ocorre depois da exclusão de algumas doenças que possuem sintomas parecidos. “O diagnóstico é clínico e deve ser complementado por ressonância magnética”, completa a especialista.
O médico Ailton Melo pontua que, na fase inicial, a doença pode ser muito sutil. “Já tive pacientes que foram diagnosticados inicialmente com problemas odontológicos ou até mesmo com sinusites em virtude das sensações de formigamento que sentiam no rosto”, exemplifica.
O urologista José Carlos Truzzi destaca ainda que, devido ao comprometimento da medula espinhal decorrente da esclerose múltipla, é muito comum os portadores apresentarem dificuldades para controlar a bexiga.
“Em 90% dos casos, os pacientes com EM relatam a bexiga hiperativa, uma disfunção que gera necessidade urgente de ir ao banheiro e a sensação de não conseguir segurar por muito tempo, muitas vezes com incontinência urinária”, diz, ressaltando que esse sintoma pode ser um indicativo importante.
Tratamentos Para Soniza Leon, hoje existe uma gama de tratamentos eficazes que garantem que o paciente com EM tenha uma vida muito próxima da normalidade. No entanto, ela destaca que, uma vez iniciado, ele precisa ser monitorado para que o paciente tenha o quadro controlado sem a perspectiva de lesões cerebrais.
“A doença é considerada estacionada quando não há pioras clínicas, com pouca ou nenhuma incapacidade registrada e quando os exames de ressonância magnética não apontam novas lesões cerebrais”, explica a neurologista.
De acordo com o professor Ailton Melo, no Brasil, a medicação é distribuída pelo Sistema Único de Saúde, fato que minimiza o impacto e as sequelas da doença. “A cada surto, o paciente sofre mais danos no sistema nervoso central, com esses danos, há uma chance grande dele ter comprometimentos definitivos como a perda da visão ou até mesmo dos movimentos de pernas e braços”, diz.
Atualmente, a evolução da esclerose múltipla pode ser medida pelo grau de inabilidade física, como na Escala Expandida do Estado de Incapacidade de Kurtzke (EDSS), que se utiliza de oito sistemas funcionais para a classificação: piramidal, cerebelo, tronco-cerebral, sensorial, intestino e bexiga, visão, cérebro e outros. A partir da avaliação desses, os neurologistas determinam uma pontuação que vai de 0 – exame neurológico normal – a 10 – paciente totalmente incapacitado no leito, que não comunica, não come nem deglute, resultando morte por esclerose múltipla.
Além das medicações de última geração e o tratamento multidisciplinar para barrar os avanços da doença, no último ano, o desenvolvimento de alguns aplicativos também estão ajudando ao paciente trabalhar sobretudo com o exercício cerebral.
Entre esses dispositivos está o Cognifit, uma ferramenta usada para minimizar sintomas da esclerose e que pode ser acessada via computador, tablet ou smartphone.
Os pacientes têm à disposição jogos que permitem avaliar o estágio do comprometimento da doença e suas habilidades cognitivas. Além disto, eles podem compartilhar os resultados com o seu médico.
Segundo a enfermeira Fernanda Domingos, que atua com a assistência aos pacientes, tão importante quanto tratar da atividade física é treinar o cérebro para que a esclerose múltipla não traga danos para a parte cognitiva dos portadores.
“Esses aplicativos e quaisquer outros tratamentos auxiliares precisam, no entanto, da indicação médica, pois quando bem aplicados, eles são aliados importantes contra os avanços da EM”, pontua.
Além dos aplicativos, a enfermeira salienta a importância de atividades como a leitura, a realização de palavras cruzadas, os jogos (xadrez, dama, baralho) e tudo que o cérebro possa ter como novidade e exercício, garantindo a qualidade de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário