José Aguinelo teria nascido em 1888 no Ceará, segundo os documentos pessoais. Ele viveu por 44 anos na Vila Vicentina, em Bauru, onde morreu no dia 20 de dezembro, supostamente como o homem mais velho do mundo.
Por Mariana Bonora, G1 Bauru e Marília
Durante 17 anos, o enfermeiro Leandro Perry conviveu na Vila Vicentina, asilo na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, com o homem que poderia ter sido considerado o mais velho do mundo. Os documentos de José Aguinelo apontam que ele nasceu em 1888, no Ceará e, pelos registros, teria 129 anos.
Zé Aguinelo, como era conhecido, morreu no último dia 20 de dezembro, sem nunca ter feito o exame que comprovaria a sua idade e o título de homem mais velho do mundo.
“Ele era fora de sua época mesmo, por isso era bem recluso, na dele, não aceitava muito bem as manias das pessoas. Gostava de ficar mais no canto dele, contemplando a natureza. Mas sabia o nome de todo mundo e tinha o jeito de mostrar quando gostava das pessoas, sentava para conversar”, lembra o enfermeiro.
Leandro conta também que, ao mesmo tempo em que eles tinham certeza que Aguinelo tinha a idade que aparece nos documentos, às vezes era difícil acreditar que ele era tão velho.
“Ele sempre foi muito lúcido, conversava, andava normalmente e até 2015 ainda subia em árvores do asilo. Ele gostava de olhar para o lado de fora do muro e quando aumentaram o muro, ele subia nas árvores para continuar olhando.”
A idade de Zé Aguinelo foi estabelecida por um juiz da Comarca de Bauru, após uma detalhada entrevista. A cidade natal do idoso na certidão é Pedra Branca, no Ceará. Ele chegou ao asilo em 1973, depois de trabalhar em fazendas da região, a última delas em Iacanga.
De acordo com enfermeiro, o idoso contava muitas histórias da época em que viveu em quilombos e citava os irmãos. Mas, era no costume de cantar, em forma de embolada, que Zé Aguinelo dividia mais suas vivências com os funcionários e moradores do asilo.
“A gente até pesquisou sobre isso, era um costume deles nos quilombos, cantar as atividades do dia a dia por meio das rimas, as emboladas, e ele fazia isso aqui, era a forma de dividir o que ele tinha vivido. Ele também falava algumas histórias dos irmãos, falava mais de três deles, dois homens e uma mulher”, destaca Leandro.
'Não conhecia depressão'
O enfermeiro conta ainda que Zé Aguinelo nunca ficava triste, não deixou se abalar nem quando quebrou o fêmur e teve a mobilidade reduzida ou quando o colega de quarto, de quem gostava bastante, ficou doente.
“Eu costumo falar que depressão num era da época dele, então ele não conhecia esse sentimento, não experimentou. Nem no último ano, que foi mais difícil para ele, depois que ele quebrou o fêmur. Era uma pessoa muito independente e que tinha visão que dependia só de si e buscava nele mesmo a força para viver.”
Zé Aguinelo não chegou a ficar internado, saía apenas para algumas consultas médicas. Ele morreu dentro do asilo onde viveu os últimos 44 anos de vida, de causas naturais por conta da idade.
“Ele ficava nos cuidados paliativos, como chamamos. Nós procuramos dar conforto para ele nos últimos dias de vida, não tomava nenhum medicamento e só três dias antes da morte teve a necessidade de colocar oxigênio. Ficamos muito próximos e eu conversava com ele, sempre dizia que ele não precisava ter medo, que nós estávamos aqui cuidando dele. Não tínhamos muito mais o que fazer, a não ser tratar com naturalidade essa despedida.”
Homem mais velho do mundo?
A condição de homem mais velho do mundo não é admitida de forma oficial, pois, para ter seu nome inscrito no Guinness Book, o Livro dos Recordes, seria necessário que Zé Aguinelo se submetesse a um teste de carbono 14 para determinar com exatidão sua idade. O exame, de alto custo, nunca foi feito.
De forma “oficial”, o homem mais velho do mundo teria morrido no último dia 11 de agosto, com 113 anos. Yisrael Kristal, um sobrevivente do Holocausto que vivia em Israel, era apontado pelo Livro dos Recordes, como o homem mais velho do mundo.
Dias depois, um brasileiro com 133 anos, idade também não reconhecida oficialmente, morreu no Acre. O ex-seringueiro José Coelho de Souza tinha documentos que apontavam seu nascimento em 10 de março de 1884 – quatro anos antes da Abolição da Escravatura no Brasil.
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