QUANTOS E QUANTOS ALUNOS(AS) SÃO BALEADOS(AS) E MORTOS(AS) NA ESCOLA, OU A CAMINHO DELA?





Por Flavio Moura
No início deste ano, a Companhia das Letras tentou convidar Malala para vir ao Brasil. A resposta veio polida, mas enfática: ela não tinha tempo, precisava estudar para o vestibular.
Dá pra imaginar quantas vezes ela terá de dizer o mesmo agora que se tornou a mais jovem da história a vencer o Prêmio Nobel da Paz.
Sua autobiografia, Eu sou Malala, saiu no ano passado. Fez um sucesso estrondoso — mais de cem mil exemplares no Brasil. No mundo todo, já está perto da casa dos dois milhões.
Não é pra menos. A história que ela conta ali foge a qualquer padrão. Há exatos dois anos — em 9 de outubro de 2012 — ela foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa. Estava dentro do ônibus, voltando da escola onde estudava.
Pouco tempo antes, em 2006, milícias extremistas do Talibã assumiram o controle do Vale do Swat, região do Paquistão onde ela morava. Entre as primeiras providências que tomaram estava a destruição de escolas que admitiam mulheres.
O pai de Malala era dono de uma dessas escolas. Criada desde pequena em meio a livros, a menina lançou um blog em que defendia seu direito à educação. Ficou marcada — e o tiro que recebeu veio por causa disso.
Às pressas, foi levada à Inglaterra para se tratar. Contra todos os prognósticos, ela se recuperou. Não pode mais voltar a seu país, onde está jurada de morte, mas seu exemplo repercutiu pelo mundo. O prêmio Nobel é o exemplo maior disso.
Com apenas dezesseis anos, ela se tornou símbolo de muita coisa: da opressão sobre as mulheres em regimes obscurantistas; da luta pela educação em países carentes; da capacidade transformadora de uma experiência singular.
Enquanto o Estado Islâmico põe em curso um projeto expansionista assustador a partir da Síria, decapitando civis ocidentais e escravizando mulheres não muçulmanas, o prêmio a Malala é um sinal poderoso que o mundo democrático envia às facções obscurantistas de Alá.
Mas convém não jogar tanto peso nas costas da menina. Afinal de contas, ela precisa estudar.
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A Editora Seguinte lançará a versão juvenil de Eu sou Malala em fevereiro de 2015, e a Companhia das Letrinhas publicará Malala, a menina que queria ir para a escola, escrito pela jornalista Adriana Carranca.
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Flavio Moura é editor da Companhia das Letras.
acredito que o texto tende a colocar a Malala como um exemplo do mundo ocidental contra o mundo islâmico. Na verdade, cita apenas os casos de agressão contra os ocidentais, quando sabemos que os ataques se dirigem também e principalmente às minorias locais. Ao mesmo tempo, reconhecendo o interesses ocidentais seculares na região, fica a pergunta: Será que se um estudante palestino publicasse uma bibliografia sobre sua agruras para ir até a escola na Faixa de Gaza seria publicado e quiçá agraciado com um Nobel ?
O Grande Jogo continua…
Enquanto isso, a nossa representante atual, com direito a voz e poder de decisão, opta por omitir-se e hipocritamente sugerir o diálogo como quem sugere homeopatia para tratar metástase.