Local vai ser demolido pela prefeitura nos próximos dias
No lugar do vai e vem habitual de garçons servindo clientes, o movimento do Mercado do Peixe, no Rio Vermelho, na manhã dessa segunda, era de pessoas carregando mesas e cadeiras, desmontando letreiros e esvaziando os boxes.
Ao invés de animação, o clima no local era de despedida. Hoje foi o último dia para funcionários e permissionários do mercado esvaziarem os boxes do local, que, segundo a Secretaria Municipal de Manutenção, será demolido nos próximos dias. A demolição faz parte do projeto de reforma da orla do Rio Vermelho, promovida pela prefeitura.
Mercado do Peixe será demolido nos próximos dias
(Foto: Arquivo CORREIO) |
Em meio à movimentação, as cozinheiras Eleni Santana, 38, e Claudicélia Oliveira, 47, bebiam a última cerveja no espaço onde se conheceram e que foi palco de muitas histórias vividas pelas duas. “Final de semana eu nem parava para sentar. Era muito trabalho, foi um tempo difícil, mas tirei meu sustento desse mercado e fiz bons amigos aqui, como ela”, contou Eleni, que trabalhou por 7 anos no lugar. “Quando cheguei aqui, meu filho tinha 15 dias de vida e eu trazia ele no carrinho para poder trabalhar. Agora, ele passa por aqui e fala ‘mamãe o mercado vai cair’. O pior é que vai cair mesmo”, contou Claudicélia, que trabalhou por 13 anos em vários boxes dali.
Mesmo com a demolição, ela não pretende abandonar o lugar. “Amanhã de manhã cedo vou estar aqui vendendo café e lanche para os funcionários da obra. Minha ligação com isso aqui não vai acabar, vou continuar ligada em tudo desse mercado”, contou ela.
Se despedir do lugar onde passou 24 dos seus 32 anos, também não foi uma tarefa fácil para a permissionária Taiana Ferreira, proprietária do Box São Jorge. “Ainda não caiu minha ficha. Dói demais catar cada coisinha que coloquei aqui e saber que não vou voltar mais”, falou Taiana, que não conseguiu conter as lágrimas ao lembrar de sua relação com o mercado.
“Eu cheguei aqui uma moleca, agora estou saindo uma mulher. Aqui a gente vivia de tudo. Brigava por causa de mesa, de cadeira, de garfo, brigava com funcionário, com cliente mas também se divertia. Bebia, dançava, fazia amigos verdadeiros”, contou ela, que assumiu o box aos 20 anos, quando os pais, Zelita e Erculano, ficaram doentes. “Larguei a faculdade de contabilidade e vim pra cá. Fui gostando, gostando, gostando e hoje não sei fazer outra coisa”. Perguntada sobre o que vai fazer para ganhar a vida, Taiana disse ainda não saber. “Vai aparecer”, disse ela, bebendo uma última cerveja.
Novo projeto deve ficar pronto em oito meses
(Foto: Divulgação) |
No mercado há 19 anos, quatorze deles como guardador de carros, ocupação que assumiu após abandonar o ofício de garçom, Uilton Ferreira, o “Ito”, de 36 anos, desmontava, nessa manhã, os letreiros dos boxes. O alumínio usado para antes estampar o nome dos estabelecimentos comerciais vai ser vendido pelo guardador para arrecadar algum trocado. “Dá tristeza ver isso aqui se acabar mas agora é pensar pra frente, não ficar chorando pelo que já foi”, contou ele, que agora pretende vender óculos de sol pelas praias da cidade.
Bem perto de Ito, três membros da mesma família estavam sentados em frente ao boxe onde trabalharam nos últimos 24 anos. Sentado ao lado da mãe, Djanira, 51, e da tia, Alenira, 55, o permissionário Glauber de Jesus, 35, relembrava a importância do mercado para a família, que geriu o boxe “Boteco Salvador – Nega e Riso”.
“Reveillon, Carnaval, Natal nosso era tudo aqui. A gente passava mais tempo nesse mercado do que em casa, fortalecemos nossa família aqui”, contou ele. Para Alenira, responsável pela cozinha do boteco, o que vai restar do mercado são saudades. “Os clientes iam na cozinha elogiar minha comida, a gente fez amigos nesse lugar. Vou sentir muita falta”, disse ela.
Reforma custará R$ 3,2 milhõesO Mercado do Peixe vai estar de cara nova a partir do Verão de 2016. “Queremos estimular que se ocupe o espaço, não só por quem vai beber, mas por famílias”, diz. Os R$ 3,2 milhões investidos serão de recursos próprios do município. O valor será destinado à nova pavimentação, iluminação, paisagismo, além de 140 vagas de estacionamento.
O espaço disponível ao público será cerca de duas vezes maior do que o que existe agora, com 11.300 m² de área construída. Na nova área que será aproveitada (no fundo), haverá uma praça. “É uma área para contemplação, para famílias passearem, pessoas caminharem, desfrutarem da vista”, exemplifica Bastos. Ao lado dessa área, terá um heliponto, que servirá tanto para situações de resgate quanto para turismo. Só ficam de fora desse orçamento os quiosques que substituirão os boxes - uma parceria público-privada é estudada.
Os 16 permissionários dos antigos boxes do Mercado do Peixe deixaram o local na manhã desta segunda-feira (3). A área onde os boxes ficam agora será o novo estacionamento. As vagas de hoje, por sua vez, vão trocar de lugar e abrigar os quiosques.
Serão pelo menos 10 – quatro de 100 m² e seis de 50 m², além de um quiosque de apoio à colônia dos pescadores, também com 100 m². “Eles não serão agrupados, como os que existem hoje. Serão distribuídos em toda a nova praça. Também serão mais leves e modernos”, adianta o arquiteto Sidney Quintela, responsável pelo projeto arquitetônico.
Ainda segundo Quintela, o novo mercado será integrado à reforma da orla do bairro. “Embora sejam obras independentes, ambas se completam. Após a conclusão, farão parte de um único conjunto urbanístico e arquitetônico”. Com investimentos de R$ 70 milhões, com recursos da prefeitura, as intervenções devem durar 28 meses.
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