Em depoimento no Senado, Rostyslav Tronenko afirmou que "ninguém está pedindo ao Brasil para comprar uma briga por causa da Ucrânia, mas não queremos que nosso parceiro estratégico fique em cima do muro"; ele diz que o plebiscito que mostrou a maioria da população da Crimeia a favor da anexação à Rússia é "inconstitucional"
27 DE MARÇO DE 2014 ÀS 13:35
Marcos Magalhães, Agência Senado
O embaixador da Ucrânia, Rostyslav Tronenko, pediu nesta quinta-feira (27) ao governo brasileiro para não ficar "em cima do muro" em relação à invasão da Crimeia, até então parte integrante do território ucraniano, por tropas russas, e sua posterior anexação à Federação Russa. Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), ele recordou que outros países da América Latina – como Argentina, México, Panamá e Costa Rica – já se manifestaram pela integridade territorial da Ucrânia.
- O mundo e o Brasil devem ajudar a Ucrânia a enfrentar essa agressão flagrante. Pedimos que não fiquem em silêncio. A Ucrânia está pronta para dialogar e envolver negociadores internacionais, somos um povo de paz. Mas nunca vamos ceder e comprometer a nossa soberania. Ninguém está pedindo ao Brasil para comprar uma briga por causa da Ucrânia, mas não queremos que nosso parceiro estratégico fique em cima do muro, um país que pretende ocupar um lugar no Conselho de Segurança da ONU – afirmou em português Tronenko, que é casado com uma brasileira.
Ao responder a uma pergunta do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da CRE, sobre a legalidade do plebiscito que mostrou a maioria da população da Crimeia a favor da anexação da península à Federação Russa, o embaixador afirmou que o plebiscito foi "inconstitucional à luz do Direito ucraniano e do Direito Internacional" e foi realizado sem a presença de observadores da Organização das Nações Unidas (ONU).
- Como província da Ucrânia, apenas nosso Parlamento poderia propor o plebiscito. A pergunta deveria ser se querem ou não se tornar independentes da Ucrânia. Caso a resposta fosse positiva, uma vez independente, a Crimeia poderia buscar sua anexação à Rússia em novo plebiscito. Estariam assim cumpridas as formalidades legais – observou Tronenko.
Durante o debate, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questionou se o resultado do plebiscito teria sido diferente se realizado em "condições adequadas". Por sua vez, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse não saber onde o Direito Internacional teria sido ferido, como havia enfatizado o embaixador.
- Se o Direito preza pela soberania territorial, também preza pela autodeterminação dos povos. E a história da Crimeia se entrelaça com a da Rússia – afirmou Vanessa, que relatou ter estado em Moscou no momento da invasão da Crimeia e ter percebido uma "grande unanimidade" na sociedade russa a favor da operação.
Já o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) disse ter sentido a impressão de que a população teria sido coagida no plebiscito na Crimeia. Ele concordou com o embaixador a respeito da necessidade de o Brasil tomar uma posição mais clara a respeito do tema.
- O que mais se tem de respeitar é a soberania. O Brasil precisa sair de cima do muro, sim. Ou é parceiro ou não é. Ficar em cima do muro não contribui com nada – alertou Cyro.
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