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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Médicos e pais comemoram autorização do CFM para prescrição de canabidiol

  • Katiele Fischer com a filha Anny Fischer, que tem a síndrome CDKL5, e conseguiu na justiça o direito de importar o canabidiol
    Katiele Fischer com a filha Anny Fischer, que tem a síndrome CDKL5, e conseguiu na justiça o direito de importar o canabidiol
O CFM (Conselho Federal de Medicina) autorizou os médicos brasileiros a prescreverem o canabidiol (CBD), uma das substâncias presentes na maconha, para crianças e adolescentes com casos graves de epilepsia. Apesar da resolução ainda ser muito restritiva -- já que não permite que pacientes adultos ou com outras doenças possam usar a substância --, médicos e pais ouvidos pelo UOL acreditam que a resolução é um bom motivo para se comemorar.
"É algo para comemorar, pois vai ser benéfico para muitas crianças que necessitam do canabidiol. Os médicos poderão prescrever o canabidiol sem medo! São pequenos passos que devem ser dados até que a liberação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aconteça [para outros casos]", acredita Patricia Guisso, 38, mãe de Giovanna de Souza Guisso, 12, portadora da síndrome de Dravet -- tipo raro de epilepsia de difícil controle --, que atualmente faz uso de um medicamento à base de CBD.
De acordo com a resolução, médicos de todo o país poderão autorizar crianças e adolescentes a fazer uso da substância em casos de epilepsias refratárias, ou seja, quando a doença não responde a pelo menos dois medicamentos tradicionais. "Todo paciente testa muito mais de dois remédios, pois leva um tempo para que o médico possa verificar se ele respondeu ou não ao tratamento. A vantagem é que agora poderemos prescrever essa substância para pacientes que já testaram mais de 10 drogas, usaram estimuladores e até foram submetidos a cirurgias, mas ainda assim continuam tendo crises de epilepsia", afirma Adélia Henriques Souza, neurologista e presidente da LBE (Liga Brasileira de Epilepsia).
O conselho, no entanto, não permitiu o uso do canabidiol para casos de esquizofrenia e mal de Parkinson. "Os pacientes com essas condições -- que são semelhantes às da esquizofrenia -- também iriam se beneficiar muito se pudessem usar o CDB e há evidências suficientes para que eles possam utilizar esse medicamento. De qualquer forma, a decisão do CFM foi um avanço muito grande, que vai beneficiar muita gente", afirma Antônio Waldo Zuardi, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão da USP (Universidade de São Paulo).
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A garota Anny Fischer tem uma doença rara e usa Canabidiol em seu tratamento8 fotos

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Katiele Fischer com a filha Anny Fischer, que tem a síndrome CDKL5, problema genético raro que causa epilepsia grave. Anny que chegou a ter mais de 50 convulsões em uma semana, melhorou após usar o Canabidiol (CBD) remédio que possui substância derivada da maconha. Katiele luta na justiça para poder importar o medicamento que é proibido no país Sergio Lima/Folhapress
Para Zuardi, a decisão do CFM se baseou no fato de que os casos mais graves de epilepsia acontecem em crianças. "Tem adultos que também usam a medicação, no entanto, é entre as crianças e adolescentes que estão os casos mais graves da doença", diz.
A decisão regulamenta ainda a dose que poderá ser prescrita pelo médico. O CFM estipulou de 2,5 mg/kg até 25 mg/kg (dosagem máxima) em duas vezes ao dia. De acordo com os médicos ouvidos pelo UOL, a indicação de dosagem é a mesma adotada em evidências de vários estudos.
As regulamentações em excesso incomodaram Norberto Fischer, que precisou entrar na Justiça para conseguir importar o canabidiol para a filha Anne Fischer, e considera que a decisão avançou menos do que deveria. "A resolução tem muitas restrições, como a quantidade de doses diária, por exemplo, que poderá afetar a Annie, pois ela usa a substância três vezes ao dia. Ainda que tudo isso seja um avanço, fiquei decepcionado, pois achei que o CFM seria mais corajoso", lamenta Fischer.
Para prescrever o uso do derivado da maconha, o médico deverá ser da especialidade de neurologia (que abrange psiquiatras e neurologistas) e precisará efetuar um cadastro em uma plataforma online do conselho. "Essa delimitação é positiva, pois agora os médicos que acompanham o caso poderão prescrever canabidiol. Já teve casos de pacientes terem de comprar a receita com médicos de outras especialidades, pois o neurologista não poderia fazer a prescrição", afirma a presidente da Liga Brasileira de Epilepsia.
Além disso, o paciente que utilizar o canabidiol deverá assinar um termo de consentimento livre em que reconhece que foi informado sobre as possíveis opções de tratamento, mas que optou pelo derivado da maconha.
Esse sistema é a maneira que o CFM terá para monitorar o uso e conseguir a avaliar a segurança e os efeitos colaterais da medicação. Segundo a resolução, os médicos deverão enviar um relatório com periodicidade de até seis semanas para o conselho.
Agora, a dificuldade, na opinião da presidente da LBE, será com relação à dosagem prevista na resolução. "O canabidiol é um composto e sua composição muda de acordo com o local em que ele é vendido. Não existe um composto uniforme com a mesma concentração, como ocorre com um medicamento, portanto vai ser um desafio fazer esse manuseio", diz Adélia Henriques Souza.

Teste seus conhecimentos sobre o uso medicinal da maconha

O teste a seguir foi criado com a colaboração do médico psiquiatra Ricardo A. Amaral, professor colaborador do Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e do médico especialista em psicofarmacologia Elisaldo Carlini, criador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Próximo passo
Para facilitar o acesso de toda população ao uso terapêutico do canabidiol, o próximo passo é que a Anvisa mude a classificação da substância. Hoje, ela é considerada uma droga de uso proibido. A expectativa é que o canabidiol entre na categoria de substâncias sujeitas a controle especial. Caso isso aconteça, o canabidiol poderá ser importado e encomendado de qualquer parte do mundo. O comprador, no entanto, ainda precisará da receita médica.
A agência discute a possibilidade de reclassificar a substância. O tema, inclusive, foi discutido em uma reunião da diretoria colegiada, realizada no dia 29 de maio, porém, não houve uma decisão terminativa sobre a questão.
Atualmente, a importação do CBD com fins medicinais recebe autorização após análise de cada caso. Procurada pelo UOL, a Anvisa informou que a decisão do CFM não altera os mecanismos criados pela agência para dar acesso ao medicamento, inclusive porque a prescrição é um dos critérios para a importação excepcional do produto. "A ação do CFM vem ao encontro e endossa o profissional, que assumia a responsabilidade de prescrever a substância proscrita (Canadibiol e/ou THC) sem qualquer respaldo do conselho", afirmou em nota.
A agência também destacou a criação de mecanismos para que as pessoas possam ter acesso a esses medicamentos sem demandas judiciais. Até o momento, a Anvisa recebeu 309 pedidos de importação do canabidiol (CBD), por meio do pedido excepcional de importação para uso pessoal. O prazo médio das liberações é de uma semana.
"Temos que usar todos os medicamentos disponíveis para tratar os pacientes.Estudos recentes feitos por Orrin Devinsky comprovaram que o uso do canabidiol diminuiu em 50% as crises epiléticas de 30% dos pacientes. No mínimo, 10% deles se livraram das crises. Ele obteve autorização do FDA (órgão que regulamenta alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) para realizar um outro estudo maior para verificar os benefícios da substância em quem sofre de epilepsia", afirma Adélia Souza.
De acordo com especialistas, o resultado desses estudos pode contribuir, e muito, para que mais pacientes tenham acesso ao canabidiol, já que para um medicamento seja aprovado na Anvisa é preciso uma série de estudos.
Canabidiol dá barato? Maconha vicia? Tire suas dúvidas
  • O que é o CBD e por que ele se popularizou?
    O canabidiol (CBD) é uma substância extraída da maconha, que é proibida no Brasil. Seu uso para tratar doenças neurológicas graves, especialmente crianças com epilepsia, popularizou-se após o documentário "Weed", da CNN, que mostra como a substância mudou a vida de uma menina. Aqui no Brasil a mãe de Any Fischer, 5, que sofre de problema genético raro, também fez filme sobre o tema.
  • O canabidiol dá "barato"?
    O CBD não dá "barato". Seu único efeito colateral conhecido é causar sono. Estudos comprovam os benefícios dos princípios ativos da maconha, incluindo o delta-9-THC, mas como qualquer droga têm efeitos tóxicos dependendo da forma e quantidade administrada. O consumo irrestrito é preocupante, especialmente em caso de transtorno mental grave (bipolaridade e esquizofrenia)
  • Esse poder da maconha já era conhecido?
    "Até o século 20, a maconha era considerada um excelente medicamento, uma divindade. O médico da rainha Vitória, do Reino Unido, divulgava isso publicamente. Os brasileiros também podiam comprar em farmácias cigarros de maconha importados da França", conta o especialista em psicofarmacologia Elisaldo Carlini. "De medicamento poderoso, se transformou na erva maldita", mas sem base científica, diz
  • Onde se usa a maconha medicinal?
    O uso medicinal da maconha já é realidade em diversos países, como Canadá, Holanda, França, Reino Unido e Israel. Nos Estados Unidos, a utilização de medicamentos à base dos princípios ativos da planta também é permitida, mas está restrita a alguns Estados. A pioneira no país é a Califórnia, que desde 1996 aprova o uso para tratar pacientes com Aids, câncer, esclerose múltipla e outros distúrbios.
  • Qual a posição da Anvisa?
    A Anvisa não liberou o CBD por achar que faltam pesquisas sobre ele e uma investigação sobre como é usado no exterior. Isso, porém, dificulta a pesquisa no Brasil e prejudica a importação por pacientes, que dependem de autorização caso a caso, mediante prescrição médica, laudo sobre o paciente e a necessidade da droga e um termo de responsabilidade assinado pelo médico
  • Como usar?
    Não há consenso. Algumas pesquisas mostram que o ideal é fumar um cigarro feita de uma mistura de componentes da maconha, Outras indicam que é mais eficiente pegar cada componente, isolar em laboratório e fazer comprimidos. E há quem defenda colocar no vaporizador para que a fumaça seja inalada, sem fumar.
  • Há outras indicações terapêuticas?
    Estudos mostram que a maconha medicinal pode ser muito importante no tratamento da dor crônica, de espasmos musculares, de esclerose múltipla e de astenia (pacientes sem apetite) causada por HIV e câncer. Também tem efeito direto sobre as células do câncer e efeitos antitumorais.
  • Quais os entraves para a maconha terapêutica?
    Os médicos podem ter dificuldades de prescrever o medicamento já que ainda não há no mercado nenhum feito puramente com canabidiol. Segundo a Anvisa, o Epidiolex (98% de canabidiol modificado) e o Sativex (2% de canabinóides) têm THC na composição e não estariam liberados. Com a decisão do CFM, porém, os médicos não correm risco de perder o registro se receitarem a droga.
  • E a maconha vicia?
    Apesar de ser uma droga com baixa incidência de dependência, ela tem sim potencial para viciar. Estima-se que 10% dos que experimentam acabem se tornando dependentes; o número para quem experimenta heroína chega a 90%. "Em geral, quem começa mais cedo tem mais risco de se tornar dependente e desenvolver quadros psicóticos, de alucinações e delírios", diz o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo
  • Ela pode combater outros vícios?
    Embora existam algumas experiências e até pesquisas científicas apontando nesse sentido, usar a maconha para se livrar de outros vícios é contestável sob o ponto de vista médico, diz o psiquiatra Ivan Mario Braun. "Existem outros tratamentos melhores, mais aceitos. Não faz sentido você passar de uma droga para outra. A verdade é que o consumo de maconha é extremamente prejudicial à saúde"
  • Maconha queima neurônio?
    Estudos comprovam que fumar maconha antes dos 15 anos diminui o QI, mas mostram que, após os 20 anos, a não há problemas cognitivos. "Tem a ver com a maturação do cérebro, porque na adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre os 15 e os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar o impacto. Ainda assim, é uma idade de risco", diz o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo
  • Pode causar câncer, problemas do coração ou infertilidade?
    A maconha possuiu substâncias cancerígenas, assim como o tabaco, muitas em maior concentração, e pode causar danos ao coração, já que acelera os batimentos. A diferença é que as pessoas tendem a fumar muito mais cigarro que maconha. Pesquisas apontam ainda que ela pode diminuir a quantidade de espermatozoides e fazer com que eles se movam mais lentamente, mas não há comprovação de infertilidade

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