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sábado, 26 de setembro de 2015

‘Por direito de ser mãe’, mulher lança campanha e ganha apoio na web

Jovem sofre com endometriose, ovário policístico e sinéquia uterina. 
Ela luta para que tratamento seja oferecido pelo Sistema Público de Saúde.

Tácita MunizDo G1 AC
Campanha foi abraçada por vários internautas na página da produtora cultural  (Foto: Reprodução/Facebook)Campanha foi abraçada por vários internautas na página da produtora cultural (Foto: Reprodução/Facebook)
"Toda mulher tem o direito de ser mãe'. Esse é o lema da campanha idealizada pela produtora cultural Kamila Oliveira, de 31 anos, que tenta quebrar tabus e abrir uma discussão política e social sobre tratamento para mulheres que têm dificuldade para engravidar. Casada há 8 anos, a Kamila iniciou um tratamento para engravidar e põe em xeque uma questão que ainda é pouco discutida, segundo ela: o direito que toda mulher tem de engravidar. Além disso, Kamila pede que os tratamentos para possibilitar a gravidez sejam tratados como uma questão de saúde pública.
Diagnosticada com sinéquia uterina [cicatrizes no útero], ovário policístico e endometriose, Kamila iniciou o tratamento há cinco anos, parte dele é feito no Acre e outra parte em Fortaleza, no Ceará. Ao precisar do tratamento, a produtora constatou uma triste realidade: nem planos de saúde e nem o Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem esse amparo às mulheres que necessitam do procedimento.
"Quem faz tratamento para engravidar tem que fazer exames específicos, que são caros, a medicação é cara, a consulta é cara e tem mulheres que só engravidam por meio de fertilização, como é o meu caso, o que também é super caro. Um valor que muitas mulheres não podem pagar. Eu iniciei o tratamento no Acre, fui até todas as possibilidade que existem aqui, mas existem alguns exames que não são feitos aqui, como o mapeamento de endometriose", explica.
Com a iniciativa, Kamila pretende criar uma discussão para que as autoridades reconheçam esse tratamento como um direito de toda mulher que sonha ter filhos. "Se discute muito sobre a questão do aborto, da anticoncepção, mas ninguém fala da concepção. Existem muitas mulheres que têm vergonha, alguns maridos se recusam a fazer o espermograma [exame feito em laboratório que detecta a quantidade, qualidade e morfologia do esperma liberado pelo homem durante a ejaculação]. Tudo isso é uma questão social", pontua.
Produtora luta há cinco anos para que possa engravidar  (Foto: Kamila Oliveira/ Arquivo pessoal)Produtora luta há cinco anos para que possa
engravidar (Foto: Kamila Oliveira/ Arquivo pessoal)
No início de setembro, Kamila postou um desabafo em seu perfil social no Facebook, o que lhe garantiu quase 300 compartilhamentos, além de mensagens de outras mulheres que passavam pela mesma dificuldade, mas que não se sentiam à vontade para falar sobre o assunto.
"A gente sofre preconceito e agressão de várias formas das pessoas. Se eu fosse infértil, talvez fosse mais fácil aceitar, mas não sou estéril. Tenho uma doença que tem tratamento, mas não estou conseguindo obter porque a Saúde não reconhece como doença, isso me deixa triste. É como se você soubesse que está com uma doença que tem cura e não estão te dando a possibilidade de ser curada", lamenta.
E o desabafo chegou a ser compartilhado e apoiado por milhares de mulheres que compraram a causa e se empenharam na campanha. Diariamente, a produtora recebe mensagens de apoio em sua rede social e também fotos com as mulheres apoiando a iniciativa. "Resolvi compartilhar a experiência e por que não fazer a campanha? Porque comecei a observar que muitas mulheres tinham vergonha de dizer que tem problema para engravidar, porque a gente lida diariamente com a ansiedade, vergonha e com a falta de oportunidade", enfatiza.
Nas primeiras semanas da campanha, Kamila já tem conseguido alguns resultados. Além de iniciar a discussão nas redes sociais e chamar a atenção para a questão da mulher, Kamila conseguiu chamar a atenção do Partido Republicano Brasileiro (PRB), que inicia uma palestra nesta quinta-feira (24), no auditório da Biblioteca da Floresta, em Rio Branco, para debater o assunto.
"Assim que comecei a campanha, a deputada Juliana Rodrigues, me procurou e disse que eu poderia contar com ela nas discussões estaduais e também pretendemos levar a discussão para a esfera federal, através de uma deputada do mesmo partido. E então, amanhã [23], inicia a primeira reunião no âmbito político", diz.
Ela também destaca que pretende montar uma ONG para ajudar mulheres que não tem condições de bancar o tratamento para engravidar.
Kamila iniciou campanha para que todas as mulheres tenham direito ao tratamento para engravidar  (Foto: Kamila Oliveira/ Arquivo pessoal )Kamila iniciou campanha para que todas as mulheres tenham direito ao tratamento para engravidar (Foto: Kamila Oliveira/ Arquivo pessoal )
Endometriose
A endometriose é considerada hoje a principal causa de infertilidade, não só entre as mulheres. O endométrio é a mucosa que reveste a camada interna do útero. Na endometriose, essa mucosa se forma em outras partes do corpo.
A doença causa uma alteração hormonal, o que faz com que a mulher ovule menos. As trompas, que ligam o ovário ao útero, tendem a grudar em outros órgãos e ficar estáticas, o que dificulta a chegada dos óvulos. Por fim, mesmo quando o óvulo é fecundado e chega ao útero, ele tem dificuldade para se fixar na parede do útero. A soma desses fatores faz da endometriose um potencial empecilho à fertilidade.
O exame que identifica a doença é chamado de histeroscopia. Ele permite ver dentro do útero e identificar também problemas como o pólipo e o mioma.
Em muitos casos, a endometriose pode ser resolvida por uma cirurgia chamada laparoscopia. Ela também é indicada para quem tem as trompas obstruídas ou aderências intestinais que atrapalhem a fecundação.
Nas mulheres que não têm a doença, em que o endométrio é formado dentro do útero, ele é naturalmente expelido a cada vez que não ocorre a gravidez – isso é a menstruação. Esse processo de eliminação pode ser acompanhado de dor, a famosa cólica.
A cólica deixa de ser normal quando impossibilita a mulher de exercer suas atividades normais do cotidiano ou quando dura mais de três dias. Nesses casos, é melhor procurar um médico, pois ela pode ser o sinal de algum problema – como a própria endometriose.


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