No mundo todo, os números do site chegam a mais de 39 milhões de usuários que procuram casos extraconjugais
Cerca de 70 mil baianos já nem tão anônimos assim estão com medo de ver sua vida paralela na internet em risco depois do vazamento de informações de um dos maiores sites devotados à infidelidade do planeta, o AshleyMadison. A fragilidade do sistema de segurança do site, invadida por hackers, mostra como são sensíveis as promessas de sigilo pelas redes sociais da internet.
No mundo todo, os números do site chegam a mais de 39 milhões de usuários que procuram casos extraconjugais. No último mês, o escândalo causado pela revelação de 32 milhões de endereços de e-mail e dados pessoais dos inscritos já provocou dois supostos suicídios no Canadá e a demissão do presidente do site, Noel Biderman.
Vulnerabilidade no sigilo, que não está nem um pouco distante daquela curtida no Facebook, de uma conversa mais secreta via WhatsApp ou de uma foto comprometedora publicada no Instagram ou pelo Snapchat.
O estudante Robert Santos, 21 anos, viveu na pele esta tensão, quando achou que não seria nada demais manter um relacionamento duplo, já que a namorada morava em Salvador e a ficante em Serrinha. “No Face a gente era aquele casal bonito, tudo certinho, que todo mundo achava que era de verdade. Só que nem tudo que está lá é o que realmente vale”, analisa.
Depois de terminar com a ficante de Serrinha, Robert e o seu “plano B”, por uma arte do destino, acabaram se reencontrando na mesma festa. O estudante, inclusive, não perdeu tempo em ficar com outra menina. A ficante “justiceira” não deixou barato. Fotografou a pulada de cerca e publicou um direct para a namorada oficial no Instagram.
“Quando olhei o direct tomei aquele baque. E além de publicar a foto ela ainda contou a história toda da gente”, lembra o estudante, que jura que tomou juízo depois de toda a confusão. “Tomei jeito e hoje tenho um namoro sério há seis meses. Estou fiel mesmo”.
Segundo a médica psiquiatra e psicoterapeuta especialista em relacionamentos, Elizabeth Zamerul Ally, as redes sociais ampliam muito as probabilidades de início de novas relações, assim como também facilitam as trocas de amigos, casos e namorados. “A ‘oferta’ de pessoas ávidas por se relacionarem é enorme. As redes criam a ilusão de que relacionamentos são fáceis”.
A estudante de publicidade Catherine Avilês, 24, assume que é “viciada” em redes sociais, onde chega a fazer até 10 postagens por dia. “Lá está tudo lindo para todo mundo ver. Você expõe sua vida - que pode ou não pode ser, a representação do que você posta”.
Para ela, as redes só se tornam um grande problema quando o assunto é... perfil do namorado. “Sou muito ciumenta. O Facebook é a semente da discórdia. Foram tantos barracos que meu namorado até desinstalou o WhatsApp e me deu a senha do Face dele. Aquilo ali é do mal”.
Até mesmo conversa inbox de dois anos atrás já foi motivo de discussão. Primeiro ela brigou e depois olhou a data. No entanto, Catherine diz que está se recuperando. “Nós conversamos muito até eu entender que nem tudo precisa ser exposto. A gente fica um pouco psicótico com as redes sociais”. Ela só não deixa de questionar qualquer movimento diferente que aparece no perfil dele e comemora o fato dele, raramente acessar as redes sociais. “Eu não vou mentir que estou adorando ele não ter mais WhatsApp. Quase a gente não briga mais”.
Conexões
Para a educadora sexual e pesquisadora do Núcleo de Sexualidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp - Nusex), Aline Castelo Branco, assim como o mundo, as relações também evoluíram. “Invisíveis, as pessoas se permitem conversar, seduzir, trocar experiências em áreas antes proibidas e sem culpa”.
Aquele ‘like’ pode também ser a tecla start para um flerte, como aconteceu com o estudante Vinícius Almeida, de 20 anos. De passagem marcada para Portugal, tudo começou em um aplicativo chamado Flying. “Ele recebeu na Espanha uma foto que postei e comentou algo comigo e começamos a conversar. Depois partimos para o Skype e daí estava claro o interesse”.
A sexóloga Karla Kalil acrescenta que redes sociais são, acima de tudo, sedutoras. “Conquistar sempre esteve entre os objetivos do ser. Seja a conquista de um novo emprego, de um amor, de uma amizade. É isso que nós alimenta. No campo virtual funciona da mesma maneira”, considera a especialista.
Riscos
Uma amizade de infância ficou balançada depois que uma designer de interiores postou uma foto com seu amigo no Instagram, que despertou a ira da namorada que ele tinha. “Ele não gostou e quebrou o cacete e terminou a amizade por causa de uma foto”.
Ele havia pedido que ela não postasse a imagem, já que a amiga e a namorada não se davam muito bem. “Disse a ele que se continuasse com esta historinha iria publicar uma foto nossa. Na verdade foi uma brincadeira que acabou destruindo uma amizade de mais de vinte anos”.
Para evitar confusão, é preciso saber usar as redes sociais, independente do nível de relacionamento, como recomenda a sexóloga. “A gente precisa aprender a não invadir o espaço do outro, mesmo na rede social, por mais que os relacionamentos virtuais permitam uma maior liberdade entre as pessoas”, aconselha.
Quem determina a privacidade na rede é o usuário, diz especialista
Sócio da COM Inteligência Digital e da PaperCliQ e mestrando em Cibercultura na Faculdade de Comunicação da Ufba, Marcel Ayres avalia que a privacidade nas mídias sociais depende muito de como o usuário se expõe. “Em geral, estes meios fornecem recursos de envio de mensagens privadas ou direcionadas, evitando superexposição do usuário, mas ele deve ter o discernimento de avaliar o conteúdo que está postando”, afirma.
Falta, de acordo com ele, mais reflexão sobre como o usuário que ser visto na rede. “A maior dica é ter bom senso, avaliar bem o que está publicando, para quem está publicando e onde”, acrescenta.
Uma designer que preferiu não se identificar conta que passou aperto quando saiu com um novo “ficante” e foi marcada por uma amiga em uma foto com ele. O ex-ficante ficou chateado, o que gerou saia justa. Depois do incidente, ela reconfigurou a privacidade de sua página, impedindo marcações sem autorização prévia. “Maldito Facebook que me entregou. Não permito mais marcação depois disso", garante ela.
Quem irá construir estes limites será o próprio usuário, reforça Ayres: “Uma vez que o usuário publica em um espaço no qual outros possuem acesso àquela informação, o gerenciamento de sua imagem deve ser redobrado, evitando qualquer crise ou problema, seja profissional, amoroso, ou de qualquer outro tipo”.
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