Um dos principais jornais do mundo, o New York Times publicou nesta sexta-feira (15) uma matéria que ressaltava a característica “hipócrita” do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Para jornalista, Dilma está sendo julgada por ‘gangue de bandidos’. (WSJ Live)
Segundo a publicação, Dilma é uma “figura política rara” no país. “Ela não é acusada de roubar para enriquecimento próprio”, diz o texto, que lembra que o processo de impedimento é pautado nas chamadas pedaladas fiscais – medida considerada recorrente e usada por cerca de 15 governadores do país; em SP, por exemplo, Geraldo Alckmin (PSDB) é acusado de ter praticado a mesma medida pelo menos 31 vezes.
O NY Times ressalta a opinião do jornalista Mario Sergio Conti, da Folha de S. Paulo e da Globo News. “Dilma pode ter cavado a própria cova ao não entregar o que prometeu, mas está dentro de uma esfera política viciada e lotada de sujeira dos pés à cabeça”, disse o colunista. “Ela não roubou, mas tem uma gangue de bandidos fazendo o seu julgamento.”
Temer protagonizou episódios que colocaram em dúvida sua lealdade ao governo do qual se dizia parceiro. (Reuters)
Para ilustrar a “gangue de bandidos”, o veículo enumera as polêmicas envolvendo o vice-presidente e sucessor, Michel Temer, (PMDB) que protagonizou episódios de vazamentos de uma carta e um áudio nos quais se distanciava de Dilma e se colocava à disposição para herdar a presidência nacional. “(Temer) foi acusado de estar envolvido em esquemas ilegais de compra de etanol”, alega o jornal.
Presidente da Câmara e principal adversário do governo desde que chegou ao cargo, Eduardo Cunha é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e acusado de ter desviado pelo menos R$ 40 milhões. Cunha, um religioso fervoroso e conhecido por usar o seu Twitter para publicar mensagens bíblicas, também é investigado por lavagem de dinheiro através de uma grande igreja evangélica.
Cunha e Calheiros parecem discordar das posições em relação ao governo, mas são próximos no PMDB. (Reuters)
Renan Calheiros, presidente do Senado e um dos peemedebistas que se manteve próximo do PT, está na mira da Polícia Federal por evasão fiscal, por ter organizado que um lobista pagasse pensão alimentícia para uma filha de um caso extraconjugal e por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Juntos, 60% dos 594 membros do Congresso enfrentam sérias acusações de fraude eleitoral, propina, desmatamento ilegal, homicídio e sequestro.
Outros políticos envolvidos no impedimento da presidente são Paulo Maluf, que retirou o seu apoio à ela por “não concordar com negociatas” (o ex-governador e ex-prefeito é um dos parlamentares que mais enfrentou processos na história do país) e o ex-presidente Fernando Collor, retirado do cargo em 1992, e atualmente deputado e dono de umas das sucursais da Globo, no estado de Alagoas.
Para os mais novos, a publicação lembra que não é de hoje que o Congresso é palco de atitudes surreais: em 4 de dezembro de 1963, o pai de Collor, Arnon de Mello, efetuou três disparos contra o senador alagoano Silvestre Péricles ali mesmo, no plenário. Na época, Péricles escapou dos tiros, que atingiram outro senador, José Kairala. Ele não resistiu e morreu no mesmo dia, enquanto Arnon sequer foi preso.
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